Esta sexta-feira, 10 de março, os filhos do professor britânico de Ciência Política e Diplomacia da Coreia do Sul roubaram a atenção da análise que o pai, Robert E. Kelly, estava a fazer em direto para a BBC, a propósito do afastamento da presidente sul-coreana, Park Geun-hye.
O vídeo deu a volta ao mundo em poucas horas. O The Telegraph analisa-o naquilo a que chamou de “anatomia de uma obra de arte” em 13 momentos. As análises exaustivas foram muitas, como esta publicada no Medium. Na página de Facebook da BBC One, o vídeo conta já com mais de 82 milhões de visualizações. Numa outra conta da cadeia, mas no Twitter, tem mais de 72 mil retweets. E isto não resume nem sequer parte do alcance do vídeo.
São apenas 40 segundos e dificilmente se resiste apenas a uma visualização. Primeiro a criança mais velha, depois um bebé ainda no andarilho. Os menores entram no espaço onde o professor estava em direto, via Skype, para o canal de informação. Robert E. Kelly pede desculpa e continua o seu discurso. Eis que surge uma quarta personagem no enredo – uma mulher com traços asiáticos. A ama, prontamente foi assumido pela generalidade dos meios de informação e pela Internet, onde o vídeo se tornou viral. Assunção errada.
Jung-a Kim, a mulher que entra no escritório não é a ama, mas sim a mulher do professor, é coreana e professora de yoga.
Mas porque é que se assumiu que a mulher asiática era a ama, perguntou a BBC num artigo posterior cujo mote é este mesmo. Não há uma resposta, apenas teorias espelhadas na Internet, como a que justifica a assunção com comportamento rápido e a cara assustada da suposta ama por medo de perder o emprego ou a aparente diferença de idade entre os dois adultos e a falta de traços asiáticos nas crianças.
Nas redes sociais instalou-se o debate sobre racismo, género e casais inter-raciais. A escritora Maria Chong apressou-se a esclarecer: "1) É a sua mulher, não a ama. 2) Tem um nome, Jung-a Kim". Phil Yu, autor do blogue "Angry Asian Man", em declarações aos Los Angeles Times, denuncia que "as pessoas caem em estereótipos". Já a escritora e feminista norte-americana, Roxanne Gay, convidou os espectadores a reflectir, num dos vários tweets mais partilhados sobre o assunto, "por é que dão por certo que é a ama?".
Numa entrevista à mãe do professor, publicada pelo Daily Mail, ficamos a conhecer mais sobre a família. A primeira criança que entra na sala, Marion, tem quatro anos e o bebé, James, nove meses. "Eles provavelmente pensaram que o pai estava a falar, via Skype, com o avô" quando ouviram vozes vindas do computador, conta Ellen Kelly, a avó das crianças. "O Robert costuma falar connosco a partir do seu escritório em casa, onde estava a fazer a entrevista", acrescenta.
O professor Robert Kelly foi para a Coreia em 2008 para ensinar Ciência Política na Universidade Nacional de Pusan, após completar o doutoramento na Universidade de Ohio, onde conheceu uma estudante sul-coreana que fez despertar interesse pelo país em causa. Depois de se ter mudado para a Coreia do Sul, Kelly conheceu a sua atual mulher. Estão casados há seis anos.
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