Peu é Pedro — e já foi o Peuzinho. Toda a gente o trata da primeira forma, apenas o pai e a mãe fogem ao petit nom. Não se recorda de como surgiu, mas é assim que é reconhecido — e se reconhece.  Trinta e um anos, pai de um menino de dois e de uma menina com um mês, é de Lisboa com raízes em Tomar e em Goa, na Índia. Estudou História, com especialização em História da Arte, e trabalha numa leiloeira.

A música faz parte sua vida, desde que se lembra. "A minha família sempre foi muito musical e por isso desde pequenino sempre me habituei a ouvir música". "Os meus pais e os meus irmãos sempre gostaram de coisas muito variadas, do fado à música francesa". Mas o fado, conta, é uma "paixão" que herdou sobretudo da mãe e do seu gosto pela música portuguesa. Gosto que foi "evoluindo". A partir de Amália Rodrigues ou de Hermínia Silva foi descobrindo "novas vozes". "Hoje temos um mundo muito musicado, era estranho se fechássemos os ouvidos ao que se passa à nossa volta", diz. 

A partir dos 17 anos começou a frequentar casas de fados com os amigos. "Foram muitas as vezes que em vez de sairmos à noite, íamos aos fados". Esse período marcou-o. "Aí fiz os grandes amigos da minha vida", recorda o finalista do Festival da Canção. Nunca editou nenhum material e os únicos registos que existem podem ser encontrados na Internet, especialmente no YouTube. Como a Internet, o fado também não tem fronteiras. Prova disso é o facto de a música já o ter levado a Cabo Verde, a convite da antiga primeira dama Adélia Pires, ou à Roménia, para a Capital Europeia da Cultura, em Sibiu 2007.

"Farto-me de cantarolar, a música faz parte do meu dia-a-dia. Até me dizem: 'quando é que este miúdo se cala'", partilha em tom de brincadeira. "Canto muito na rua. Até sou conhecido no caminho do trabalho-casa-trabalho por estar sempre a cantar", acrescenta. E canta de tudo, até o tema que leva ao Festival da Canção.

Mas não o faz só na rua. Peu diz cantar também para os filhos. Acha importante fazê-lo, porque o ritmo também ensina. É a única situação em que lhe dizem que devia cantar mais: "a minha mulher diz que eu canto pouco". Pouco ou muito, são certamente eles quem já o ouviram cantar mais vezes o tema do Festival.

A fé tem também bastante importância na sua vida. "É muito definidor daquilo que sou", diz. Na conversa, recordámos um momento passado numa outra reportagem do SAPO24. Falámos sobre o Faith's Night Out que se realizou na véspera da primeira semifinal do Festival da Canção e é organizado pelas Equipas de Jovens de Nossa Senhora. Peu não sabia, mas Carlota Leitão, a apresentadora da edição deste ano, fez questão de salientar que seria ela a conduzir o evento e não Peu Madureira precisamente pelos seus compromissos "festivaleiros". "Hoje não está cá porque vai cantar no Festival da Canção. Votem nele amanhã", disse logo a abrir o conjunto de conversas sobre fé. Peu riu-se. Conta que se juntou às Equipas com 18 anos, na altura em que entrou para a Faculdade. "Ajudaram-me muito na minha orientação espiritual e formação pessoal", conta. 

"Pensei que morria naquele palco"

Peu e Diogo Clemente, o compositor do tema "Só Por Ela", são amigos há vários anos e conheceram-se num casamento de uma amiga comum onde o fadista cantou. "No fim, veio dar-me os parabéns e dizer que tinha gostado muito da minha voz", conta. Os dois acabaram por fazer um projeto juntos sobre vozes da cidade apresentado no Festival Caixa Alfama.

O convite para o Festival da Canção surgiu da "forma mais extraordinária" e tudo começou com um telefonema em dezembro do ano passado. "Estava comer pastéis de nata no Chiado e do nada perguntou: 'ó Peu, tu gostavas de cantar uma música que eu quero levar ao Festival?", partilha. "Eu fiquei contentíssimo e disse logo que sim", relembra visivelmente feliz. 

Quando ouviu pela primeira vez a música diz ter tido "muito medo". "Dos agudos! Só pensava: 'oh meu deus, como é que vou lá chegar'", conta a rir-se.

"Acho que o mais bonito do tema é o diálogo que existe entre a letra e a melodia. E, como é uma música muito portuguesa, a mim tocou-me particularmente, tive logo grande sintonia com ela".

Confessa que estava bastante nervoso quando cantou na primeira semifinal. "Pensei que morria naquele palco", diz, apesar de estar "minimamente habituado a cantar em público".

O Festival do coração e não da canção

Peu foi o mais votado do televoto na primeira semifinal (Janeiro recebeu a pontuação máxima do júri). "Nem sei como lhes agradecer, é extraordinário e deixa-me muito feliz. Fiquei muito comovido. É bom saber que as pessoas nos ouvem e gostam de nós".

Apesar de ter recebido grandes elogios, nomeadamente de alguns elementos do júri, e de ter ficado "muito contente por o saber", diz que reconhece "nas outras canções grandes qualidades" com as quais está "a par e passo", não se sentindo "maior" por lhe serem dirigidas tais palavras.

Mas, como em tudo, nem toda a gente está de acordo. E há quem aponte "Só Por Ela" como não sendo uma canção "festivaleira" — o mesmo se dizia de "Amar Pelos Dois". Será por isso o fado um bom representante na Eurovisão, que este ano acontece em Lisboa? 

"O Festival não devia ser da canção, mas sim do coração. Deve espelhar aquilo que os portugueses são neste momento e o que levam no coração. O fado é uma das canções de Portugal e por isso tem todas as possibilidades de representar os portugueses. O fado não é menor, é maior. Mas atenção, a música não é propriamente um fado, é uma música portuguesa que obedece a uma estrutura melódica muito própria. Talvez sim, a minha voz, por defeito e feitio, faça soar a um fado".

Assume-se como um fã do Festival da Canção e diz guardar memórias das noites eurovisivas que assistia junto com a mãe. Uma das recordações que partilha é a da participação de Lúcia Moniz — que conseguiu o melhor resultado para Portugal até à vitória de Salvador Sobral, um quinto lugar, em 2008. "Eram sempre dias felizes, de música, de ser português, de fazer parte de um projeto que entra pela televisão", recorda. E a vitória de Salvador e Luísa Sobral "é um grande orgulho". 

Representar o país na Eurovisão seria, para Peu, também "um grande orgulho". Mas "representar Portugal em qualquer lado do mundo é sempre motivo de um grande orgulho", salienta. 

Era inevitável perguntar como viu, enquanto músico e finalista, toda a polémica em torno do tema de Diogo Piçarra, que o levou a desistir do Festival. Peu destaca a simpatia e a carreira de Piçarra e salienta que este não foi acusado de nada, porque não há queixa. Mais, "não tem qualquer dúvida" que músico o "nunca plagiou". "Tenho grande tristeza de não poder estar com ele no próximo domingo a cantar naquela sala em Guimarães", acrescenta. 

E por falar em domingo e na final que acontece já dia 4 de março... "Não refira isso, que fico já nervoso".