Protagonizado por Emma Stone, com Carminho no breve papel de uma fadista anónima, “Poor Things” (“Pobres Criaturas”) decorre entre o fantástico e o real, para demonstrar como os padrões sociais pesam sobre as mulheres.

Dirigido pelo cineasta de “A Lagosta” e “A Favorita”, “Poor Things” ainda não tem data de estreia em Portugal.

O Leão de Prata do Grande Prémio do Júri, o segundo mais importante do festival, foi para “Evil Does Not Exist”, um hino à proteção da natureza dirigido pelo japonês Ryusuke Hamaguchi, o mesmo de “Drive my Car”, nomeado para os Óscares.

O italiano Matteo Garrone conquistou o Leão de Prata de Melhor Realizador com “Io Capitano”, uma história sobre a imigração subsaariana, que atravessa o deserto, o pesadelo da Líbia e os perigos da travessia do Mediterrâneo, protagonizada pelo senegalês Seydou Sarr, que recebeu o prémio Marcello Mastroianni de Melhor Ator Emergente.

Na cerimónia que encerrou o festival, Matteo Garrone deu a palavra ao senegalês Mamadou Kouassi, cujo testemunho inspirou o filme, e dedicou o prémio “a todas as pessoas que não pediram para chegar a [ilha italiana de] Lampedusa”, apelando ao fim do tráfico de seres humanos e ao estabelecimento de corredores seguros para os requerentes de asilo.

O chileno Pablo Larraín recebeu o prémio de melhor argumento por “El Conde”, sátira em que retrata o ditador Augusto Pinochet como um vampiro sanguinário, numa crítica à impunidade dos dirigentes da ditadura do seu país (1973-1990). Uma realidade que voltou a denunciar na cerimónia de encerramento do festival, quando passam 50 anos sobre o golpe militar que derrubou o governo de Unidade Popular, de Salvador Allende.

A Taça Volpi de melhor ator foi para o norte-americano Peter Sarsgaard pela sua atuação em “Memory”, segunda longa-metragem do mexicano Michel Franco nos Estados Unidos, sobre a relação de uma mulher atormentada por traumas de infância, interpretada por Jessica Chastain, com um homem que enfrenta a demência precoce.

Ao receber o prémio, Sarsgaard recordou a greve dos atores e argumentistas norte-americanos, os motivos que levaram à paralisação, e apelou aos grandes estúdios e plataformas não só para a retribuição condigna dos trabalhadores, mas também para a limitação do uso da inteligência artificial.

“Este trabalho baseia-se em relações humanas (…) e a experiência humana não pode ser entregue a máquinas”, alertou o ator.

“Se perdermos essa batalha, a nossa indústria será a primeira de muitas a cair”, reforçou.

A Taça Volpi de melhor atriz foi para Cailee Spaeny, pelo desempenho em “Priscilla”, o filme de Sofia Coppola sobre Priscilla Presley.

A imigração também é o tema de “Green Border”, de Agnieszka Holland, que ganhou o Prémio Especial do Júri.

Este filme retrata a situação dos requerentes de asilo na fronteira entre a Bielorrússia e a Polónia. Embora o argumento se concentre nos acontecimentos de 2021, quando se verificaram milhares de expulsões de um lado e do outro da fronteira, a cineasta lembrou que estas situações “continuam a acontecer”.

Na secção Horizontes, a segunda mais importante de Veneza, dedicada à vanguarda e aos novos valores do cinema, foi distinguido o ator Tergel Bold-Erdene, pelo seu trabalho em “Cidade do Vento”, primeira longa-metragem de ficção da argumentista e realizadora mongolesa Lkhagvadulam (Dulmaa) Purev-Ochir.

“Cidade do Vento” conta com a participação da produtora portuguesa Uma Pedra no Sapato.

O filme será apresentado na próxima terça-feira no Festival de Toronto, no Canadá, e em outubro fará a estreia asiática no Festival de Busan, na Coreia do Sul.

A 80.ª edição do Festival Internacional de Cinema de Veneza, que encerra hoje, teve início no passado dia 30 de agosto e contou com novos trabalhos de realizadores como Michael Mann, Roman Polanski, Woody Allen e Wes Anderson.

O festival atribuiu os Leões de Ouro de Carreira à realizadora Liliana Cavani e ao ator Tony Leung Chiu-wai.