Na cerimónia que decorreu Biblioteca Almeida Garrett, nos jardins do Palácio de Cristal, no Porto, compareceram várias centenas de pessoas que ouviram do antigo ministro Luís Valente de Oliveira o elogio de que “há muita gente no Porto que lhe deve muito”, mas não só, assinalando o “contributo inestimável” feito pela “bibliografia sobre Trás-os-Montes” onde nasceu há 88 anos, em Mirandela.

Do amigo, também livreiro, Herculano Ferreira escutaram-se palavras sobre o lado mais “íntimo” do homenageado, nos “interesses comerciais” partilhados com o “mestre dos alfarrabistas”, enquanto Fernanda Vieira materializou com livros e com mensagens “a importância para os académicos do Porto do trabalho de pesquisa de Nuno Canavez”, aludida por Valente de Oliveira.

“Ele foi o responsável pelas ilhas de papel que vamos constituindo ao longo da vida”, disse.

Germano da Silva, antigo jornalista e historiador do Porto introduziu o lado humorístico na cerimónia, começando a sua intervenção por agradecer a Guedes da Silva, o dono da livraria que há 75 anos contratou como marçano o homenageado: “por fazer de um calhau uma pedra preciosa”.

Amigos há 60 anos, rotulou Nuno Canavez de “instituição, uma referência cultural da cidade e do país”, responsável por uma livraria que atraiu antigos e atuais Presidentes da República, como Mário Soares e Marcelo Rebelo de Sousa, e que “foi a primeira no país a publicar catálogos”, para além de ter sido precursora “nas exposições temáticas”.

Antes, numa mensagem vídeo gravada por estar no estrangeiro, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, já fizera essa alusão ao interesse de Mário Soares por visitar a Académica sempre que vinha ao Porto “comprando livros que estão hoje na sua fundação”.

Último a subir ao palco do auditório, o homenageado fez uma resenha da viagem que há 75 anos mudou a sua vida, da importância que o pai teve no início do seu percurso profissional, então com 13 anos, elogiou Guedes da Silva, o “patrão que lhe pagava pouco, mas que nunca lhe deixou faltar nada”, mas, também, “pelos conselhos sobre como lidar com os livros”.

“É o comércio mais bonito que pode haver, aquele que tem a clientela mais selecionada”, destacou o homenageado confessando que na viagem de comboio para o Porto pensara trabalhar “numa mercearia ou numa drogaria”.

E continuou: “aos sábados tínhamos tertúlias na livraria onde se falava sobre os autores e o funcionário [ele] se não fosse morcão aprendia sempre alguma coisa”.

Desvendando “falta de paciência” para com os clientes “que não se decidem” foi a falar, mais uma vez, dos conselhos do antigo patrão: “nunca levar para o balcão um livro que não está em bom estado”, que terminou a sua intervenção na cerimónia.