50 anos de carreira. Marco Paulo, vestido com fato preto e camisa e lenço branco no bolso, apresentou-se sábado, 2 de dezembro, no Altice Arena, em Lisboa, para encerrar e celebrar 50 anos de estrada e estúdio.
Começou nem cinco minutos depois da hora marcada (21h30) cantando “Maravilhoso, coração, maravilhoso”. O palco foi na capital do país, mas Portugal e todos os portugueses estiveram representados. Vieram “três camionetas” do Porto, Madeira, Algarve, Alentejo, mas também a diáspora portuguesa vinda de Caracas, Toronto, Estados Unidos. Na viagem pelas terras de Portugal falou de Viana, Évora, de Mortágua, Viseu e das localidades onde deu concertos.
“Mandou” um abraço para o Barreiro, onde vive e não esqueceu as outras moradas: Arcos de Valdevez, Celorico de Basto e Alcabideche. Nem da primeira de todas. “Nasci em Mourão, mas sou um bocado de todas as terras”, conversa. “Mas nunca entrei na casa onde nasci. Era pequena com dois quartos. Tive duas parteiras. Gente fina é outra coisa”, gracejou. “Vou fazer tudo para conhecer o quarto onde nasci”, prometeu a quem o escutava.
"Quando eu morrer todos vão dizer que era o melhor do mundo"
Quem pagou bilhete estava ali para ouvir Marco Paulo cantar, sim, mas também falar. Considera-se falador. “Falo muito. Gosto muito de falar”. Mas não falou só de si. Falou sobre “os outros”. Da morte. De Zé Pedro e dos Xutos & Pontapés, a quem enviou “condolências”. O guitarrista foi relembrado “como músico e não como amigo porque não falávamos”, assumiu, embora tivessem privado em alguns concertos.
“Quando eu morrer todos vão dizer que era o melhor do mundo”, atirou numa pausa em que aproveitou para dizer que só cantou em Lisboa “por três vezes” em 50 anos de carreira. Recordou o concerto do ano passado no Campo Pequeno. “Na altura tinha os dois rins agora só tenho um”. Os médicos, “os meus anjos da guarda” mereceram um agradecimento público. E deixou um aviso às fãs para gáudio coletivo: “não pensem que vou viver mais 50 anos, mas enquanto puder vemo-nos por aí”. Promessa feita.
“Vocês são maravilhosas. Eu já não tenho a vossa idade e por favor ajudem-me com a música”, solicitou educadamente. Antecedendo “Como passaram os anos” pediu que não liguem ao bilhete de identidade e que “vivam com saúde”, desejou.
Recordou a mãe. “A minha mãe morreu há 15 anos”, disse. Homenageia todas mães com a música de Roberto Carlos, “Amor sem limite”.
“Margarida posso dar-lhe um beijinho e não chora mais”
"É Marco. É Marco... é Marco Paulo”, gritaram da plateia e 1.º balcão. “Façam barulho...”, respondeu, o próprio quando o som da orquestra terminava. Marco Paulo cantou com os 36 elementos e um convidado especial, Ângelo, que com a guitarra portuguesa subiu ao palco para cantar e homenagear Amália Rodrigues com o fado “O grito”. Amália ocupa um lugar especial no coração do artista. “Das poucas que se preocupou com o meu cancro”, justificou.
Aproveitou o abrandamento nos decibéis para mais uma troca de palavras, descansando, assim, as cordas vocais. Interagiu com quem o segue por todo o lado. Falou no geral e em particular. Apontou a alguns, acenou e disse um “olá” e foi mais intimista com outros. Uma fã subiu ao palco. É assim, os grandes artistas têm sempre uma fã no palco, e, no caso, em lágrimas. “Margarida posso dar-lhe um beijinho e não chora mais”, disse enquanto esta estava de pé na plateia. “A Margarida é um amor e não vai chorar”, pediu, apontando-lhe o caminho até si. Mas a Margarida chorou e não foi pouco quando esteve a centímetros da “razão daquilo tudo”.
“Sou essencialmente um cantor romântico que fala de amor. Amor pelos portugueses e Portugal”
Recebeu flores dos fãs. Aproximaram-se do palco. Idosas, crianças, homens e mulheres de meia-idade. Houve quem tivesse feito um pedido cuja resposta foi remetida para depois do concerto. Recebeu também uma fotografia (do dia do casamento) de um casal que se casou ao som das suas músicas. “Que mimado que eu sou”, assumiu.
“Quando canto à capela é ou não é para vocês. É ou não é, Rosa?”
Cantou músicas, 19 ao todo, reportório que lhe dá fama onde se incluem duas músicas novas lançadas na caixa dos 50 anos (“Não te esqueças” e “Assim foi”). Fez pausas para a água e os pedidos para que o relembrassem que tinha de beber água. “Sou bom rapaz mas esquecido”, informou. E justificou. “Quando falo mais é para carregar as baterias, já não tenho a vossa idade”, gracejou.
“Não sou melhor, nem pior. Sou diferente e canto duas horas”, frisou. “Sou essencialmente um cantor romântico que fala de amor. Amor pelos portugueses e Portugal”, sublinhou em discurso antecipando a música “Amor eterno”, um momento musical em que um casal com idade e (amor) eterna (o) respondeu e dançou apaixonadamente com direito a beijo e abraço no final.
“Vou ter saudades. Vocês são especiais. E a minha atuação é para vocês”, exclamou. “Gosto do vosso sorriso espero que gostem do meu. Esta noite é vossa não é minha”, devolveu com aos aplausos recebidos.
"Mereço uma recordação vossa. Vou virar de costas e não levam a mal porque os anjos não têm costas. Sou eu, Marco Paulo, e são vocês."
O concerto aproximava-se do final. “Passei o verão todo de norte a sul e só parei porque tive doente”, fez notar. No meio de mais uma troca de olhares com a plateia, a Lina e “uma amiga de Caracas e fã há 40 anos” entregaram mais flores. “Vocês são boas raparigas, mas tão maldosas”, rematou atirando a cabeça para trás, com sorriso de orelha a orelha.
“Atenção a minha voz... aqui por favor” avisou a produção. Mais um momento de intimidade. “Quando canto à capela é ou não é para vocês. É ou não é, Rosa?”. Falou das figurantes dos programas televisão, personagens anónimas que o acompanham no grande ecrã.
“Não despacho só músicas. Tenho que falar com vocês. São a minha maior família”
Pausadamente, “para não escorregar”, caminhou de um lado para o outro das laterais do palco, puxando pelo público, arrancando gritos, aplausos e acenos. Colocado ao centro, programado esteve o momento da selfie coletiva. “Mereço uma recordação vossa. Vou virar de costas e não levam a mal porque os anjos não têm costas. Sou eu, Marco Paulo, e são vocês. Mesmo que por qualquer motivo não volte aqui fica a fotografia de recordação até ao fim da minha vida”, prometeu.
Cumprimentou o João e desejou-lhe um bom Natal. Deu um abraço ao Victor, enquanto perguntou se estava entre os sete mil fiéis. Enquanto explicava o porquê de estar a falar daquele rapaz de 23 anos, fã incondicional desde a música “Nossa Senhora” e que a “coisa que mais queria na vida era conhecer o Marco Paulo”. O Victor apareceu, vindo de Vila do Conde com a Fernanda, a “mulher coragem”.
“Não despacho só músicas. Tenho que falar com vocês. São a minha maior família”, reconheceu. Está explicado a duração do concerto que começou poucos minutos das 21h30 e terminou às 0h30. Duas horas de música, uma hora de conversa. “Esta Noite foi uma prenda de Deus, não foi um espetáculo”, declarou.
Na “Hora do Adeus”, a penúltima música, Marco Paulo, deixou no ar novo disco e a preparação dos concertos de verão. Última interação com o público. Em jeito de despedida tentou fazer um coração com as mãos. Tentou. Não conseguiu. Riu. Tentou de novo e os dedos não acertaram. Riu de novo. “Sem vocês isto não tinha graça nenhuma”. Altura da música de despedida. “Sempre que brilha o sol”... o artista cantou e caminhou para os camarins, o público, esse, todo de pé, dançou enquanto, alguns, lentamente caminhavam para fora do Altice Arena, enfrentando a noite fria de lua cheia.
Comentários