O artista defendeu "ideias que são extremamente nobres e que têm a ver com a situação das pessoas, com a liberdade e a democracia", disse o músico e divulgador Manuel Jorge Veloso, amigo de José Afonso, que o acompanhou e com ele privou.

José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos nasceu em Aveiro, no dia 02 de agosto de 1929, licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas, em Coimbra, com a defesa de uma tese sobre Jean-Paul Sarte, no início dos anos de 1960, depois de já ter gravado os primeiros discos com Rui Pato e de ter atuado com José Niza.

Lecionou em escolas de Portugal continental, assim como de Angola e Moçambique, até que a contestação à ditadura e à guerra colonial o levou à prisão pela PIDE, a polícia política do regime, e à expulsão do ensino oficial, em 1968, no qual só viria a ser reintegrado quase 10 anos após o 25 de Abril.

Depois de "Baladas e canções" (1964) e "Cantares do Andarilho" (1968), gravou "Contos velhos rumos novos" (1969), "Traz outro amigo também" (1970), "Eu vou ser como a toupeira" (1972).

Os álbuns "Cantigas do Maio" (1971), que inclui "Grândola, vila morena", e "Venham mais cinco" (1973), o disco de "Era um redondo vocábulo", ambos gravados em França, contaram com a produção e direção do músico e compositor José Mário Branco.

Publicados antes do 25 de Abril de 1974, estes álbuns garantiram a José Afonso os Prémios da Casa de Imprensa de melhores discos e de melhor interpretação, em anos sucessivos, e estabeleceram a fronteira entre a música portuguesa "antes de José Afonso e depois de José Afonso", como afirmam os seus companheiros.

No percurso do músico, seguir-se-iam "Coro dos tribunais" (1974), "Com as minhas tamanquinhas" (1976), "Enquanto há força" (1978), "Fura fura" (1979), "Fados de Coimbra e Outras Canções" (1981), "Como se fora seu filho" (1983) e o derradeiro álbum de originais, "Galinhas do mato" (1985), já cantado por outros músicos.

De 1974 a 1975, envolveu-se nos movimentos populares. O PREC - Processo Revolucionário em Curso "era a sua paixão", como recorda a biografia da Associação José Afonso.

Atuou para os soldados do Regimento de Artilharia de Lisboa, a 11 março de 1975, colaborou com a LUAR - Liga de Unidade e Acção Revolucionária, de Palma Inácio e Camilo Mortágua, apoiou a candidatura presidencial de Otelo Saraiva de Carvalho, em 1976, e a de Maria de Lourdes Pintasilgo, em 1986.

Veio a tocar no Festival Printemps de Brouges, em França, em 1982, ano em que surgiram os primeiros sintomas da doença com que morreu: a esclerose lateral amiotrófica.

Em 1983, foi reintegrado no ensino oficial. Nesse ano, o Presidente da República Ramalho Eanes atribuiu-lhe a Ordem da Liberdade, mas o músico não a recebeu, por se ter recusado a preencher o formulário.

José Afonso morreu na madrugada de 23 de fevereiro de 1987, no Hospital de Setúbal. Tinha 57 anos.

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