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Ainda Cabul (na véspera da retirada dos EUA)

por Inês F. Alves

O dia amanheceu com novas explosões em Cabul, no Afeganistão, perto do aeroporto. De acordo com várias testemunhas, foram lançados rockets a partir de Khair Khana. O ataque foi entretanto reivindicado pelo ramo afegão do grupo 'jihadista' Estado Islâmico (EI).
Num comunicado, o Estado Islâmico da Província de Khorasan (ISKP ou ISIS-K) afirmou que “os soldados do califado atacaram o aeroporto internacional com seis rockets tipo Katiusha que atingiram os seus alvos”. Quais eram? Não se sabe. Tampouco se conseguiu confirmar a autenticidade do comunicado.
E as informações e contra-informações sucedem-se: fonte talibã adiantou às agências internacionais que cinco dos rockets foram intercetados pelo sistema de defesa antimíssil do aeroporto da capital afegã; o porta-voz talibã Bilal Karimi disse que os rockets aterraram em áreas desocupadas e não causaram vítimas; um dirigente da área de Khawaja Bughra, em Cabul, disse que um dos projéteis atingiu uma casa e fez dez mortos e cinco feridos, na maioria crianças. As contas oficiais, porém, situam em sete as vítimas mortais.
O principal porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, acredita que os atentados deste grupo devem cessar com a partida das tropas norte-americanas do país, amanhã, 31 de agosto. Se tal não acontecer, o novo Governo reprimirá o ISIS-K, assegura.
Mas que grupo é este? "A variante K é uma das mutações do terrorismo ISIS na galáxia que usa a identidade de "Estado Islâmico" e tem como alvo imediato impedir que os talibã consigam alguma estabilização do Afeganistão", escreve Francisco Sena Santos no SAPO24. E continua: "uma das atuais inquietações é a debilidade do poder talibã perante a nova energia dos mais fundamentalistas armados apostados em arrolar novos recrutas e em criar novas células armadas e terroristas não só no Afeganistão mas também na vizinhança, em algumas das antigas repúblicas soviéticas. É uma ameaça que certamente estará a merecer a atenção de Moscovo".
E sim, o mundo não consegue afastar o olhar do Afeganistão. O Conselho de Segurança da ONU marcou para esta segunda-feira uma reunião em que a situação no país era o único ponto da agenda. O encontro foi convocado por António Guterres na sequência do ataque perpetrado pelo ramo afegão do grupo jihiadista Estado Islâmico na passada quinta-feira, em Cabul, que provocou mais de 150 mortos e centenas de feridos. Em paralelo, os ministros dos Negócios Estrangeiros de vários países reuniram-se por videoconferência para discutir os próximos passos no país, adiantou o Departamento de Estado norte-americano, quando as operações de evacuação entram nos últimos dias em Cabul. As conversações incluíam representantes de França, Canadá, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido, Turquia, Catar, UE e NATO.
O futuro releva-se incerto, e a UNICEF já deixou um alerta: um milhão de crianças afegãs está em risco de sofrer desnutrição aguda grave se a situação no país continuar a deteriorar-se.
Como chegámos aqui? Os Estados Unidos e os seus aliados invadiram o Afeganistão em outubro de 2001, depois de os talibãs se terem recusado a entregar o então líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, considerado o principal responsável pelos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. A invasão pôs fim ao primeiro governo dos talibãs (1996-2001), que regressaram ao poder no passado dia 15 de agosto, após uma ofensiva que coincidiu com o início da retirada das forças internacionais, que terá de concluída até esta terça-feira. Entretanto, milhares de afegãos com medo dos talibãs têm afluído diariamente ao aeroporto de Cabul desde 15 de agosto, de onde as forças internacionais retiraram mais de 100.000 pessoas desde então.