Com a pandemia a crescer, continua o verão do nosso desencanto
Edição por António Moura dos Santos
Hoje há nova reunião de Conselho de Ministros com a situação pandémica na agenda e as perspetivas não são animadoras, prevendo-se novas travagens ou mesmo recuos no desconfinamento.
Desde maio que a situação se tem progressivamente agravado. Se dúvidas restassem, vejam-se estes três indicadores:
No espaço de 100 dias, o país passou de estar no “verde” para estar no “vermelho” matriz de risco — e o epicentro do crescimento voltou a ser a região de Lisboa e Vale do Tejo, que concentra 64,3 % do total de casos a nível nacional.
É aqui que se centram as atenções e preocupações. Depois das restrições no passado fim de semana para sair ou entrar da Área Metropolitana de Lisboa, a ministra da Saúde, Marta Temido, admitiu esta quarta-feira que Lisboa e Vale do Tejo deverá manter as medidas de restrição em vigor devido à situação epidemiológica da covid-19.
Já o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, admitiu que o município pode dar um passo atrás no desconfinamento, mas também já veio pedir que se repensem os critérios em vigor que determinam o passo atrás, considerando que não é possível manter um “nível de condicionamento da vida” idêntico ao que tem sido imposto em Portugal. As palavras de medina ecoam as de Marcelo, que protagonizou uma polémica recente ao recusar qualquer forma nova de confinamento.
Mas se Lisboa assusta, o Porto para lá caminha. Foi noticiado esta manhã que a Invicta pode ser uma das cidades colocadas hoje em situação de alerta — no rescaldo de uma noite de São João nem sempre controlada, são novidades pouco animadoras.
Medina vai ao Parlamento
O agravamento da pandemia na capital e cidades circundantes não é a única razão que coloca os holofotes sobre Fernando Medina hoje. O presidente da Câmara Municipal de Lisboa é ouvido no parlamento, a pedido de PSD e CDS-PP, sobre o caso da partilha de dados pessoais de ativistas com a embaixada da Rússia em Portugal.
Fernando Medina será ouvido a partir das 18:00, presencialmente, numa reunião conjunta das comissões parlamentares de Assuntos Constitucionais e Negócios Estrangeiros.
Os requerimentos para ouvir o presidente da autarquia lisboeta surgiram dias depois de ter sido tornado público que o município fez chegar às autoridades de Moscovo os nomes, moradas e contactos de três ativistas russos que organizaram em janeiro um protesto, em frente à embaixada da Rússia em Lisboa, pela libertação do opositor Alexey Navalny.
Quando o caso foi noticiado, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa pediu "desculpas públicas" pela partilha desses dados, assumindo que foi "um erro lamentável que não podia ter acontecido", mas originou uma série de protestos, da Amnistia Internacional aos partidos políticos.
Fernando Medina anunciou também uma auditoria ao caso, cuja fase preliminar está concluída e foi apresentada aos jornalistas na sexta-feira, tendo o presidente da Câmara de Lisboa reconhecido que a autarquia desrespeitou reiteradamente um despacho de 2013 assinado por António Costa, presidente do município à data e atual primeiro-ministro.
No entanto, ontem à noite foram veiculadas mais informações comprometedoras à comunicação social quanto à postura da autarquia esta caso. Passou-se a saber, por exemplo, que afinal o gabinete de Medina sabia, desde 2018, que os dados pessoais eram enviados para embaixadas.