É para continuar a (des)confinar?
Edição por António Moura dos Santos
A que se deve esta explosão de novos casos a que temos vindo a assistir desde finais de 2021? A infecciosidade da Ómicron é, sem dúvida, o motivo superlativo para que tanta gente tenha vindo a contrair covid-19 nos últimos tempos. Mas, para Celso Cunha, há outros fatores a ter em conta.
O virologista do Instituto de Medicina e Higiene Tropical atribui o aumento também ao “relaxamento das medidas de contenção de redução de contágios”, considerando que “neste momento, não tem havido muita preocupação em conter a transmissão desta variante, que é a mais prevalente em Portugal”.
Este “número exageradíssimo” de novos casos — como o próprio caracteriza — não se tem repercutido numa pressão excessiva sobre o Sistema Nacional de Saúde, que diz ter “quotas aceitáveis”, mas o aumento pode ainda assim ter consequências para a saúde dos mais vulneráveis, já que é sabido que as vacinas não protegem a 100%.
Por isso mesmo, no entender do virologista, não é altura para “aliviar muito” as restrições. “Se toda a gente estivesse vacinada podíamos andar a pedir que fossem aliviadas algumas restrições, mas acho que não temos o direito de estar a exigir que se aliviem as restrições, sabendo que isso vai causar um grande número de mortos”, advertiu, pedindo também bom senso numa campanha eleitoral que tem sido pródiga em ajuntamentos.
Também por estas razões, Celso Cunha considera que é exagerado dizer que entrámos na fase da “endemia”, pois este termo “significa que temos uma infeção numa determinada zona geográfica, numa determinada população e que vamos ter surtos dessa infeção com alguma regularidade que até conseguimos de algum modo prever”. Para isso, é necessário ter “muita gente imunizada”, ou porque teve a doença, ou foi vacinada.
“Mas é cedo, nem sei se vamos conseguir, porque para termos este vírus endémico vamos ter que ter sempre uma grande parte da população imunizada”, insistiu.
Sobre o que acontecerá depois disso, disse ser imprevisível: “As taxas de vacinação no mundo inteiro são muito diferentes e a qualidade das vacinas que são administradas em diversas partes do mundo também é diferente”.
“Neste momento, estamos a falar da Ómicron, mas poderão surgir novas variantes” que não se sabe se irão “ser mais graves ou menos graves, mais ou menos transmissíveis com patologias associadas também mais graves”.
As palavras de alerta do especialista chegam no dia em que os Estados-membros da União Europeia acordaram que pessoas com o Certificado Covid-19 válido, como vacinados ou recuperados, não devem ser alvo de “restrições adicionais à livre circulação”, como testes ou quarentenas, para facilitar viagens.
“O Conselho adotou hoje uma recomendação sobre uma abordagem coordenada para facilitar a livre circulação segura durante a pandemia”. Segundo as novas regras, “as medidas relativas à covid-19 devem ser aplicadas tendo em conta o estatuto da pessoa e não a situação a nível regional, com exceção das áreas onde o vírus circula a níveis muito elevados”.
Mantém-se assim a tensão entre a vontade de retomar alguma normalidade — e de dar balões de oxigénio às economias europeias — e as tentativas de conter o raio destrutivo da covid-19. Afinal, é para desconfinar ou não?
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