Porque é que as casas estão tão caras?
Edição por Tomás Albino Gomes
A pergunta que dá título a esta newsletter surge, normalmente, após uma primeira: quanto custa comprar uma casa em Portugal? Em média, 184 mil euros.
O número é apontado pela Century 21 Portugal, por ocasião da apresentação dos resultados da empresa, num documento onde Ricardo Sousa, presidente executivo, acabou por fazer uma análise que ajuda a perceber o que está em causa, hoje, no mercado imobiliário.
“Apesar do nível de imprevisibilidade do atual contexto macroeconómico, a nível nacional e internacional, os preços de venda de habitações mantiveram uma trajetória ascendente no mercado português”, começa por referir.
Com base naquela que tem sido a experiência da empresa nos últimos seis meses, os T2 e T3 são “as tipologias de imóveis mais procuradas pelas famílias portuguesas” e o valor médio dos imóveis transacionados aumentou para os 184.192 euros.
Quanto ao mercado de arrendamento, o valor médio de renda atingiu os 1.038 euros, que comparam com os 817 euros médios nos primeiros seis meses de 2021.
O que está a levar os preços a aumentar desta forma? "Os elevados níveis de procura de casa, tanto para comprar, como para arrendar, conjugados com as limitações na oferta de soluções de habitação, em linha com o poder de compra dos portugueses, continua a sustentar uma subida de preços persistente”, diz.
Excepção, todavia, para Lisboa, cujo valor dos imóveis até tem vindo a baixar ao longo deste primeiro semestre de 2022, fruto de "haver muitas famílias a deslocarem-se para a periferia da capital em busca de casas ajustadas aos seus rendimentos”, nota Ricardo Sousa.
“Já o arrendamento começa a recuperar para valores pré-pandemia". O motivo é simples: o turismo está de volta e há muito jovens à procura de arrendar porque têm "dificuldade de cumprir com todos os critérios e requisitos para acesso ao crédito à habitação".
Olhemos em detalhe as áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto e o Algarve — porque é onde a Century 21 Portugal regista “a esmagadora maioria das transações imobiliárias”. O valor médio de uma habitação vendida foi de:
A mesma lógica aplicada ao arrendamento e temos:
Inflação sobe para 9,1%. O valor mais alto desde 1992
Esteja ou não a fazer contas à vida para comprar casa, as notícias não são animadoras, sobretudo para famílias com rendimentos baixos e médios.
Vinte euros compram hoje menos coisas do que há uns meses. Quando alguém perguntar o que é a inflação, esta é a forma mais fácil de responder. No fundo, trata-se de um aumento generalizado de preços, o que em última análise reduz o poder de compra.
Hoje, o Instituto Nacional de Estatística revelou que a taxa de variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor (IPC) terá aumentado para 9,1% em julho, face aos 8,7% de junho. Este é o valor mais alto de inflação em 30 anos.
É sabido que um aumento generalizado de preços é mais duro para quem depende de rendimentos fixos (como o salário, que não aumenta no mesmo ritmo que os preços) e rendimentos mais baixos (porque há menos margem de manobra no orçamento familiar para compensar o aumento escolhendo o produto da marca A em vez da B).
Recorde-se que cerca de um quarto dos trabalhadores em Portugal recebe o salário mínimo nacional (705 euros) e são sobretudo trabalhadores precários, mulheres, jovens e por pessoas com menos habilitações, que trabalham maioritariamente em pequenas empresas (dados de 2021).