João Luís Barreto Guimarães é médico-cirurgião de formação e poeta por vocação. Agora, vai juntar as duas grandes paixões da sua vida ao lecionar uma cadeira de introdução à poesia na Universidade do Porto.
Porque é que isto é importante? Porque "a poesia é uma linguagem de fragilidade" e, através dela, os aspirantes a médicos podem exercitar a sensibilidade, a empatia, a abertura ao outro, que tantas vezes tem dificuldade em expressar o que realmente esta a sentir — seja isso uma dor de alma ou uma dor de corpo.
Diz-nos João Luís Barreto Guimarães: "Um aluno [de Medicina] aprende um conjunto de sinais, sintomas e queixas que constituem síndromes e doenças para as quais há tratamentos. Essa objetividade deve estar presente na formação das cadeiras clínicas. Mas nessa construção dessa relação médico-doente, o doente só vai dizer aquilo que o médico souber perguntar e aquilo que ele quiser dizer".
E muitas vezes o doente não diz tudo, seja por pudor, seja porque não está munido das ferramentas que melhor o ajudam a expressar-se. "A dificuldade ou a facilidade com que o médico consegue entrar no outro para recolher a informação que é necessária para chegar a um determinado diagnóstico para depois, confrontando com os diagnósticos diferenciais, propor um tratamento, ao contrário do que as pessoas pensam, é muitas vezes extraordinariamente difícil".
E como é que ler poemas pode ajudar um médico a ser melhor médico? "[A poesia] é normalmente a linguagem não do vencedor, mas do derrotado. Há um potencial de estes jovens alunos, quando escutarem e lerem estas vozes, desenvolverem neles características de compaixão. Aqui é-lhes apresentado alguém — talvez não com um rosto, mas com um nome —, o que é seguramente algo que uma tabela de um livro de texto onde se descreve objetivamente uma doença não tem".