Na noite de sexta-feira, o líder do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny Prigozhin, convocou uma revolta contra o alto comando militar da Rússia, convocando os russos a juntarem-se aos soldados numa “marcha pela justiça”.

No dia seguinte, foi confirmado que as tropas estavam em movimentação rumo a Moscovo, mas surgiu uma reviravolta inesperada: o chefe do grupo paramilitar Wagner aceitou suspender as movimentações da rebelião na Rússia contra o comando militar, após ter negociado com o presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko.

Porquê a mudança de planos?

Num primeiro instante, Prigozhin, uma mensagem de áudio que circulou na internet, referiu ter parado as suas tropas para evitar o "derramamento de sangue russo".

Depois disso, apenas se manifestou esta segunda-feira. E justificou a "rebelião" do grupo com a necessidade de "salvar" a organização, já que o grupo Wagner "estava ameaçado de desmantelamento pelas autoridades" russas.

"Começámos a nossa marcha devido a injustiças que nos fizeram. Não agredimos ninguém e fomos alvos de mísseis e de helicópteros de combate" referiu. "Durante toda a marcha, que durou 24 horas, percorremos 750 quilómetros. Fomos obrigados a atacar meios aéreos e parámos no momento em que a demonstração que já tínhamos feito era suficiente".

Prigozhin adiantou ainda que existiram "dois fatores" para a mudança de planos: "não derramar sangue russo" e o facto de apenas quererem protestar  e não "derrubar o poder do país".

Onde está Prigozhin?

Na mensagem de hoje, que tem a duração de 11 minutos, o líder do grupo paramilitar Wagner não revela onde se encontra, embora o Kremlin tenha garantido a possibilidade de se deslocar para a Bielorrússia.

"O processo criminal contra ele será arquivado. E ele irá para a Bielorrússia", declarou à imprensa o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

"Ninguém perseguirá [os combatentes que o seguiram], tendo em conta os seus feitos na frente" de batalha ucraniana, acrescentou. Apesar disso, Prigozhin continua a ser objeto de investigação criminal por rebelião.

Esta tarde, o portal de investigação Verstka anunciou que começaram a ser construídos acampamentos para mercenários do grupo Wagner na região bielorrussa de Mogilov, a cerca de 200 quilómetros da fronteira com a Ucrânia.

De acordo com este portal noticioso independente russo, vários acampamentos estão já a ser instalados, um dos quais perto da cidade de Asipovichy, com uma área de 24 mil metros quadrados, com capacidade para oito mil camas.

Afinal, o que significa tudo isto?

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, considerou hoje que a rebelião dos mercenários do grupo Wagner na Rússia mostra que a invasão da Ucrânia por ordem do presidente russo, Vladimir Putin, foi um erro estratégico.

"Estamos a acompanhar a situação na Rússia. Os acontecimentos do fim de semana são um assunto interno da Rússia e mais uma demonstração do grande erro estratégico que o Presidente Putin cometeu em relação à anexação ilegal da Crimeia e na guerra contra a Ucrânia", disse Stoltenberg aos jornalistas em Vilnius, cidade que receberá a cimeira da Aliança Atlântica no próximo mês.

"Também estamos a acompanhar a situação na Bielorrússia", acrescentou Stoltenberg, após Moscovo ter enviado armas nucleares para aquele país no início deste mês, gesto que a NATO condenou.

"É imprudente e irresponsável. Não vemos qualquer indicação de que a Rússia se esteja a preparar para utilizar armas nucleares, mas a NATO permanece vigilante", adiantou o responsável da Aliança.

De acordo com o presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda, que falou na mesma conferência de imprensa, a rebelião do Grupo Wagner demonstra "a instabilidade do regime do Kremlin".

“É provável que se esperem desafios semelhantes ou até maiores no futuro”, acrescentou Nauseda, referindo que “a fixação do grupo Wagner na Bielorrússia pode tornar-se um fator adicional” em relação à segurança da região.

Como é que Portugal vê estas reviravoltas?

O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, defendeu hoje que Vladimir Putin “tem estado a semear ventos” e, por isso, irá “colher tempestades”, como as movimentações da rebelião na Rússia contra o comando militar.

Putin “fê-lo ao promover um exército privado, mercenário, que se revelou capaz de desafiar as próprias forças armadas russas”, e “fê-lo também ao invadir, de forma ilegal, a Ucrânia”, acrescentou.

“O nosso objetivo é continuar a apoiar a Ucrânia, para que seja a Ucrânia a determinar os termos da paz, que é necessária”, vincou o ministro dos Negócios Estrangeiros.

*Com Lusa