Fábio Silva e Adriano Benjamim são dois dos cinco apanhadores de algas que ainda mantêm a atividade na Graciosa, um número muito inferior ao registado na época em que os pais a exerciam.

“Neste momento, só há cinco apanhadores na Graciosa. Já tivemos mais. Quando eu comecei tínhamos quase 10 e antigamente, no tempo do meu pai, havia mais de 100, bem à vontade”, diz, em declarações à Lusa, Adriano Benjamim, de 26 anos.

Desde os 18 anos que apanha algas, de forma profissional, mas foram muitos os verões a ajudar o pai, com quem aprendeu uma profissão que tem passado “de geração em geração”.

“Já o meu avô fazia isto, o meu pai fazia isto e ainda me ajuda na parte da secagem”, conta.

A apanha de algas só é possível entre junho e agosto — com sorte estende-se até setembro –, mas Adriano garante que, se a época for boa, consegue tirar rendimento suficiente para todo o ano.

Ainda assim, são cada vez menos os apanhadores na ilha. A atividade exige “uma certa prática de mergulho”, porque há algas que só se conseguem apanhar em zonas de maior profundidade.

“É muito difícil uma pessoa que não esteve nisto desde pequeno e não criou o gosto meter-se nisto”, salienta.

Adriano mergulha quando as marés permitem e passa quatro a cinco horas por dia no mar, mas em terra há também trabalho a fazer.

“Embrulhamos uma saca à cintura, quando está cheia trazemos para terra, estendemos e fazemos a secagem das algas”, descreve.

Fábio Silva, de 38 anos, aprendeu a apanhar algas ainda em criança com o pai, numa época em que saíam da ilha centenas de toneladas com destino ao Japão.

“Naquele tempo, eu lembro-me que era muita gente, mas havia muito. O calhau estava todo cheio de algas, as pessoas arrancavam até querer”, recorda.

“Naquele tempo a gente não tinha um ritmo como tem hoje. Somos poucos, mas temos um ritmo mais seguido, estamos mais tempo na água. Naquele tempo arrancava-se muito, mas tocava a todos e era muita gente”, acrescenta.

Não sabe explicar o que se passou, mas as algas praticamente desapareceram e só em 2014/2015, quando uma empresa portuguesa especializada na produção de ágar-ágar procurou apanhadores na Graciosa, a atividade foi retomada.

Nos primeiros anos, os números foram animadores, mas há quatro ou cinco anos surgiu uma alga invasora, que ameaçou, de novo, interromper a atividade.

“Quando esta alga veio para a Graciosa, eu fiquei a pensar: isto é o fim. E depois no ano a seguir sempre deu alguma coisa. No inverno o mar destrói-a, e ela deixa de crescer. A água fica mais fria, fica menos sol e ela vai-se embora”, revela Fábio Silva.

Produtor de carne, divide a o tempo entre a exploração agrícola e o mar nos meses de verão, porque se consegue tirar “um rendimento bem alto em pouco tempo”, mas admite que a atividade é difícil.

“A gente leva meia hora ou 40 minutos para ter um resultado de 10 quilos de algas secas. Não vamos para o mar e trazemos logo 20 ou 30 quilos. É preciso estar umas horas no mar e depois é preciso secá-la e quando chove não pode apanhar chuva”, explica.

A empresa, que depois vende o ágar-ágar para os ramos alimentar, cosmético e farmacêutico, não impõe limite à quantidade de algas adquiridas e até aumentou o preço pago por quilo.

“A gente vende logo. Quanto mais apanhamos, mais eles querem e a gente recebe logo”, realça Fábio Silva.

Com cerca de 61 quilómetros quadrados, a Graciosa é a segunda ilha mais pequena dos Açores, mas uma das que registam maior volume na apanha de algas.

Segundo a diretora regional das Pescas, Alexandra Guerreiro, “o mercado de algas tem um grande potencial”, ainda que nos últimos anos se tenha registado uma quebra na quantidade de algas entregues em lota na região.

“Poderá haver aqui algum impacto da nova espécie invasora que está a alastrar a todas as ilhas do arquipélago, mas não temos confirmação destes dados. Há estudos a decorrer na Universidade dos Açores sobre o impacto ou possíveis utilizações desta alga invasora, mas ainda não há resultados públicos”, admite.

Entre 2016 e 2018, chegaram a ser entregues em lota 450 toneladas de algas por ano no arquipélago.

“Muitas destas vendas de algas são realizadas por contrato de abastecimento direto, não temos registo dos valores. O que se tem vindo a verificar é que tem vindo, de alguma forma, a decrescer nos últimos quatro anos o volume de apanha. Teve um período grande entre 2016 e 2018 em que a quantidade de apanha de algumas espécies em particular era grande, mas tem vindo a decrescer”, avança Alexandra Guerreiro.

São apanhadas na região seis a sete espécies de algas, essencialmente na ilha Graciosa e na ilha Terceira, sendo a grande maioria exportada e utilizada na indústria cosmética ou na produção de rações.

*Por Carina Barcelos (texto) e António Araújo (fotos), da agência Lusa