A sessão ficou ainda marcada por algumas contradições dos dois inspetores da Polícia Judiciária (PJ), responsáveis pela investigação, quanto ao modo como a vítima foi atingida e ao número de disparos efetuados pelo arguido contra o ofendido.

Um dos inspetores disse ao coletivo de juízes que Gerson Varela, hoje com 24 anos, atingiu mortalmente Hugo Carrilho, à data dos factos com 23 anos, “com disparos feitos de frente” com um revólver de calibre .22, num total de seis tiros: cinco atingiram a vítima e o outro feriu um dos amigos que a acompanhava.

Outra inspetora da PJ, inquirida a seguir, confirmou que a vítima foi atingida com cinco disparos, mas relatou que alguns ocorreram “por trás”, sublinhando que, “concretamente, não se apurou quantos tiros” é que o arguido disparou, ressalvando, contudo, que no corpo do ofendido foram encontrados cinco orifícios resultantes da entrada de balas.

Ambos confirmaram que na rixa estiveram envolvidas duas armas: o revólver usado pelo arguido, que terá sido o primeiro a disparar, e uma arma de calibre 6.35 milímetros, alegadamente usada por Ibraima Dajló, um dos dois amigos da vítima a quem é atribuída a autoria de seis disparos, que feriram o arguido e um amigo deste.

Por estes factos encontra-se a decorrer uma investigação autónoma, na sequência da extração de uma certidão destes autos, mas a justiça não sabe o paradeiro de Ibraima Dajló.

Os dois inspetores da PJ deixaram, contudo, algumas certezas: não foi encontrada nenhuma arma na posse da vítima, os primeiros disparos partiram do arguido e ambos assumiram que não conseguiram “perceber a dinâmica" em que os tiros foram efetuados.

O julgamento prossegue na manhã de 22 de fevereiro no Campus da Justiça, em Lisboa.

O arguido está acusado de homicídio qualificado e encontra-se em prisão preventiva no Estabelecimento Prisional de Lisboa.

O despacho de acusação do Ministério Público (MP), a que a agência Lusa teve acesso, conta que na madrugada de 18 de março, já no interior da discoteca, o arguido Hugo Carrilho deparou-se com Gerson Varela, “que residia no bairro da Quinta do Mocho, e com quem já tinha tido desentendimentos anteriores, sendo que existe uma forte rivalidade entre os habitantes do bairro da Quinta da Fonte (onde residia o arguido) e do bairro da Quinta do Mocho, ambos situados no concelho de Loures.

A vítima tinha-se deslocado na companhia de dois amigos para a discoteca, na zona de Alcântara, onde iria decorrer uma festa africana, com a presença de vários DJ.

Arguido e vítima “entraram em discussão por razões não concretamente apuradas”, mas os ânimos foram serenados por seguranças.

O MP sustenta que Gerson Varela saiu depois da discoteca e “muniu-se de uma arma de fogo, provavelmente, um revólver de calibre .22, a fim de abordar Hugo Carrilho, quando este saísse da discoteca, o que viria a acontecer.

“o arguido Gerson Lopes Varela seguia à frente no grupo e após cruzar-se com Ibraima Dajló, ainda sem que os seus acompanhantes se tivessem cruzado com este último, disparou pelo menos cinco vezes em direção a Hugo Carrilho, utilizando para tal o revólver de calibre .22, carregado”, relata o MP.

Logo de seguida, acrescenta a acusação, “foram disparados tiros” com uma arma de fogo de calibre 6.35 milímetros “que atingiram o arguido” e Adquel Cruz, tendo ambos recebido tratamento hospitalar.

Perante os ferimentos, dois amigos da vítima transportaram-na para o hospital, mas no percurso avistaram uma ambulância, tendo parado a viatura em frente à mesma, que levou depois a vítima para o Hospital de são Francisco Xavier, onde acabaria por morrer.