“Registos telefónicos e chamadas intercetadas mostram que membros da campanha presidencial de Donald Trump e outros associados de Trump contactaram repetidamente com um oficial sénior dos serviços secretos russos no ano anterior à eleição [altura em que decorria a campanha], de acordo com quatro oficiais americanos”, escreve o The New York Times, abrindo um novo capítulo na trama sobre as relações entre Trump e Putin e sobre a interferência russa nas eleições norte-americanas para beneficiar o atual Presidente dos EUA em detrimento de Hillary Clinton.

Segundo os oficiais consultados pelo The New York Times, as comunicações intercetadas não estavam limitadas a membros oficiais da campanha de Trump, como também a outras pessoas associadas ao agora presidente. Do lado russo, estes contactos visaram não apenas a inteligência russa, mas também membros do governo liderado por Vladimir Putin.

Adianta o jornal norte-americano que Paul Manafort, chefe de campanha de Trump durante vários meses, foi um dos oficiais de campanha a atender estas chamadas. Manafort demitiu-se da campanha de Trump após ser acusado de ligações financeiras a um partido pró-russo na Ucrânia, tendo depois sido substituído por Steve Bannon, agora assessor de estratégia do presidente.

Contactado pelo jornal, Manafort considerou as acusações “absurdas”. “Não tenho ideia ao que isto se refere. Nunca falei, que eu saiba, com agentes secretos russos, e nunca estive envolvido com nada relativo ao governo russo ou à administração Putin ou qualquer outros dos temas sobe investigação hoje”.

Os oficiais americanos escusaram-se a detalhar o conteúdo das conversas telefónicas e não quiseram igualmente identificar os agentes russos em causa, ou mesmo quantas pessoas próximas a Trump estão envolvidas. De referir que também não é claro, nesta fase, se o então candidato e agora presidente foi tema de conversa.

As comunicações agora divulgadas foram intercetadas por volta da mesma altura em que se apuraram provas de interferência russa nas eleições presidenciais de 2016.

Aliás, segundo o jornal, estas comunicações fazem mesmo parte de uma investigação mais alargada do FBI onde se tentam apurar ligações entre Trump e Moscovo, assim como o papel dos russos na campanha de ataques informáticos contra o Comité Nacional Democrático que expôs e-mails de líderes democratas como Hillary Clinton ou o seu presidente da campanha, John Podesta.

As informações avançadas pelo The New York Times, vêm a público um dia depois da demissão de Michael Flynn, assessor para a Segurança Nacional, e que aconteceu quando este estava há mesmo de um mês em funções.

Flynn sai depois de admitir que deu “informação incompleta” ao vice-presidente norte-americano, Mike Pence, sobre as conversas que teve com o embaixador russo nos Estados Unidos durante o período de transição, antes da tomada de posse da Administração Trump.

Neste caso Trump fica mal na fotografia segundo informações entretanto avançadas pela Reuters. Escreve a agência que o presidente norte-americano sabia há semanas que o assessor de segurança estava a omitir informação e não o forçou a tomar uma posição - ou tomou ele próprio uma. Trump foi informado no final de janeiro que Flynn estava a omitir informação ao vice-presidente.

O presidente norte-americano acabou por atuar só agora. Sean Spicer, porta-voz da Casa Branca, disse ontem que Trump exigiu a demissão de Flynn, uma posição de força que vai contra a perceção inicial de que o assessor teria tomado a decisão por si. “O Presidente está muito preocupado com o facto de o general Flynn ter enganado o vice-presidente e outros”, acrescentou o porta-voz, citado pela National Public Radio.

As ligações entre Trump e Moscovo já tiveram vários episódios nos últimos meses. As autoridades norte-americanas estão certas de que o presidente russo, Vladimir Putin, ordenou uma campanha clandestina para influenciar a eleição presidencial nos EUA, em favor de Donald Trump. Quando surgiram as primeiras suspeitas nesse sentido, Trump optou por colocar em os serviços secretos do seu próprio país. Os elogios a Vladimir Putin também não caíram bem aos norte-americanos ao longo destes meses. Pouco antes da tomada de posse, veio a público que Trump estava a ser espiado pelos russos e que estes teriam informação comprometedora sobre em empresário. A Rússia negou, Trump não, mas mostrou-se incomodado com o facto de a existência desse dossier - informação confidencial - ter sido divulgada, tudo numa conferência de imprensa que ficou marcada pelo facto de ter mandado calar jornalistas.