A espionagem de 18 políticos catalães independentistas foi confirmada pela anterior chefe dos serviços secretos espanhóis, Paz Esteban.

Depois de prestar declarações perante um juiz em Barcelona, Pere Aragonès, que é também dirigente do partido Esquerda Republicana da Catalunha, disse aos jornalistas que ratificou a queixa para que “se saiba toda a verdade, se esclareça o que aconteceu e que nunca mais haja, como houve, espionagem de pessoas simplesmente por terem uma determinada ideologia política”.

Aragonès disse querer saber quem ordenou a espionagem, que dados foram retirados do seu telemóvel e quem os guardou, considerando que o Governo de Espanha tem “a obrigação moral e ética” de desclassificar a informação relacionada com o seu caso.

Na queixa que apresentou, Aragonès diz ter sido alvo de espionagem entre julho de 2018 e março de 2020, um período que se seguiu a uma declaração unilateral de independência na Catalunha e coincidiu, depois, com a formação dos primeiros governos do socialista Pedro Sánchez, que envolveram negociações com a Esquerda Republicana da Catalunha.

Aragonès realçou que o telemóvel que foi infetado com o programa Pegasus tinha, além de informação política e institucional relevante, dados pessoais, e lamentou que seja “vulnerada a intimidade” de uma pessoa por causa da sua ideologia política ou por ser dirigente de um partido.

A ex-dirigente do Centro Nacional de Inteligência (CNI) de Espanha Paz Esteban deveria ter sido ouvida também hoje pelo mesmo tribunal de Barcelona, mas a audição foi adiada para o final de janeiro.

A queixa do presidente do governo autonómico da Catalunha abrange ainda a empresa israelita NSO, que comercializa o Pegasus.

O Governo espanhol destituiu em maio do ano passado a então diretora do CNI, que já tinha reconhecido, em comissão parlamentar, que os serviços secretos tinham espiado 18 dirigentes independentistas com autorização judicial.

O caso assumiu uma nova dimensão quando o Governo revelou que o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, a ministra da Defesa, Margarita Robles, e o ministro da Administração Interna, Fernando Grande-Marlaska, tinham sido eles próprios espiados pelo mesmo ‘software’, desta vez como parte de um “ataque externo” cujo perpetrador permanece desconhecido.

Na terça-feira, o parlamento espanhol aprovou a constituição de uma comissão de inquérito sobre a espionagem com o Pegasus, fruto dos acordos dos socialistas com partidos independentistas para a viabilização do último governo de Pedro Sánchez, em novembro passado.