O governo do Sudão do Sul e três agências das Nações Unidas (ONU) anunciaram esta segunda-feira que duas zonas do país estão em situação de fome. As mesmas fontes dizem que a calamidade resulta de uma guerra civil que se arrasta há mais de três anos, combinada com a crise económica que tem afetado aquele país.

Isaiah Chol Aruai, presidente do Escritório Nacional de Estatísticas do Sudão do Sul, disse à AFP que algumas zonas do estado Unidade, no norte do país, estão em situação de “fome ou risco de fome”. O número de afetados ultrapassa as 100.000 pessoas. A situação, porém, pode alastrar-se a outras zonas; diz o mesmo anúncio que neste momento há cerca de um milhão de sul-sudaneses em risco de fome.

“Os nossos piores medos tornaram-se realidade”, disse Serge Tissot, responsável da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), citado pela Al Jazeera. A guerra afetou um país fértil, levando os civis a sobreviver com “plantas que consigam encontrar ou peixe que consigam apanhar”, acrescenta Tissot.

À guerra junta-se uma crise económica. O valor da moeda do Sudão do Sul caiu 800% ao longo do ano passado, impedindo várias famílias de conseguir comprar comida. Em visita àquele país, setembro de 2016, a AFP reportou que o preço dos alimentos subira dez vezes no espaço de um ano. Todavia, apesar da guerra e da crise económica, o governo sul-sudanês tem bloqueado ou limitado a distribuição de ajuda alimentar para algumas zonas do país.

Há três meses, o governo do Sudão do Sul gastava quase 50% do orçamento em guerra

Em outubro, as Nações Unidas diziam que cerca de 60% da população sul-sudanesa enfrentava níveis de de fome descritas como “crise”, “emergência” ou “catastróficas”. Há três meses, o governo do Sudão do Sul gastava 44% do seu orçamento no esforço de guerra e segurança, em comparação com os 11% gastos em saúde, educação e assuntos humanitários.

Nesta altura, prevê-se que 5,5 milhões de pessoas, perto de metade da população do país, esteja em insegurança alimentar severa e em risco de morte nos próximos meses. Para além disso, três quartos das famílias do Sudão do Sul têm alimentação inadequada.

A agência da ONU para as crianças no Sudão do Sul teme que centenas de milhares de crianças morram caso a ajuda alimentar não chegue ao país. O responsável pela agência, Jeremy Hopkins, diz que mais de 250.000 pessoas estão subnutridas e, por isso, em risco de vida.