O presidente americano Donald Trump e a primeira-ministra britânica enfatizaram na sua comunicação à imprensa a "relação especial" entre os dois países. Uma relação "baseada na história, na família, na empatia e nos interesses comuns", disse Theresa May. Antes, Donald Trump tinha, logo no início da sua intervenção, sublinhado que a mãe tinha inclusive nascido na Escócia.

Theresa May, primeira-ministra britânica, encontrou-se esta tarde com Donald Trump, sendo a primeira dirigente estrangeira a reunir-se com o novo Presidente dos EUA, empossado a 20 de janeiro deste ano.

Donald Trump disse na sua intervenção respeitar "a soberania" e o "direito à autodeterminação do povo britânico", numa referência ao Brexit - saída do Reino Unido da União Europeia - que já antes elogiou. Mais tarde, durante o período das perguntas, disse mesmo considerar que o Brexit é algo "fantástico" para o Reino Unido.

O presidente dos EUA, que prometeu no dia em que foi empossado "A América primeiro", salientou que ambos os líderes reconhecem a necessidade de os governos representarem os interesses dos seus países. "Os governos devem representar os seus cidadãos", disse Trump, numa referência que não será casual, considerando que ambos os executivos estão comprometidos com o reforço da soberania e focados na política interna. Apesar disso, Trump disse estar "ansioso" por trabalhar com o Reino Unido.

Theresa May, que começou a sua intervenção por dar os parabéns a Donald Trump pela sua "extraordinária vitória eleitoral", anunciou também que tinha convidado o presidente americano, em nome da Rainha Isabel II, para visitar o Reino Unido e que o convite tinha sido aceite, devendo acontecer durante este ano.

Sobre as conversações mantidas, Theresa May começou por referir a prioridade à política externa e ao combate ao Daesh, também conhecido como autoproclamado Estado Islâmico. "Precisamos de redobrar os nossos esforços", disse a primeira-ministra britânica, sublinhando que esse esforço passa em muito pelos serviços secretos e pelo ciber espaço.

Também pelas palavras de May foi anunciado o reforço do compromisso de ambos os países com a NATO, assumindo Theresa May que aceitou o papel de sensibilizar os homólogos europeus para a necessidade de uma distribuição mais justa dos esforços de financiamento à defesa comum consubstanciada na NATO.

Outro tema em discussão entre os dois líderes foi a cooperação económica, que ambos estão empenhados em aprofundar e reforçar, nomeadamente no contexto da saída do Reino Unido da União Europeia. Um acordo comercial será assim negociado uma vez que é "do interesse nacional de ambos os países", disse May. Trump, por seu lado, sublinhou que "uma Grã-Bretanha livre e independente é uma bênção para o mundo".

Questionado sobre o telefonema de amanhã com Putin, Trump diz que ainda é muito cedo para falar em sanções e que quer um bom relacionamento com todos os países, sabendo que com alguns países não será possível. O Presidente norte-americano gostaria de ter um bom relacionamento com a China e com a Rússia, isso seria positivo e não negativo.

Um dos momentos icónicos deste encontro foi quando a jornalista da BBC perguntou a May se Trump a ouviu quando discordou com ele. Risos, comentários. Theresa May respondeu que existirão ocasiões onde ela e Trump vão discordar, o importante é que falem.

A jornalista insistiu e questionou May sobre o uso da tortura e a punição pelo abordo. Novamente borburinho na sala, Trump passa a questão para May que se ri e comenta: “Essa foi a sua escolha para a pergunta...” Posto isto, Trump respondeu dizendo que o General Matti, o novo secretario da Defesa não acredita na tortura e que ele, presidente, vai aceitar isso.

Trump disse ainda, no período das questões, acreditar que tem uma boa relação com o presidente Mexicano mas que os Estados Unidos não podem continuar a perder os seus postos de trabalho. Os EUA vão renegociar acordos comerciais e isso vai ser muito bom para ambos os países, salientou.

Os temas deste encontro já tinham sido avançados por um porta-voz de Downing Street (a residência oficial da primeira-ministra britânica), e na agenda estavam questões comerciais, questões de segurança, bem como vários problemas urgentes da agenda internacional", como a questão Síria, a ameaça terrorista, a relação com a Rússia e o acordo nuclear com o Irão, que Londres também assinou e que Trump pretende rasgar.

Trump e May já tinham falado antes em trabalhar no sentido de assinar um acordo comercial privilegiado entre os Estados Unidos e o Reino Unido, algo que reafirmaram hoje. De referir, nesta matéria, que o presidente norte-americano já prometeu desfazer o acordo comercial transatlântico (TTIP) com a União Europeia e que o Reino Unido quer fazer uma "saída dura" da UE, o que implicará renegociar os termos de acesso do país liderado por May ao mercado europeu.

No que à Rússia diz respeito, May já havia aconselhado aos EUA que ficassem "alerta". “Quando falamos da Rússia, é sensato tomar como exemplo o Presidente (norte-americano Ronald) Reagan, que, nas suas negociações com o seu [então] homólogo russo, Mikhail Gorbatchev, costumava seguir o ditado ‘confie, mas verifique’. Com o presidente Putin, o meu conselho é ‘cooperem, mas estejam alerta'”, disse May numa reunião de parlamentares republicanos em Filadélfia, nos EUA.

Também neste encontro, a chefe do governo britânico sublinhou a importância das instituições internacionais, entre as quais as Nações Unidas e a NATO, criticadas em várias ocasiões por Donald Trump. “As Nações Unidas precisam de ser reformadas, mas continuam a ser vitais”, afirmou, defendendo igualmente o papel do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional e a importância crucial da NATO, que considerou a “pedra angular da defesa do Ocidente”. Agora, May vê esse compromisso reforçado com Donald Trump.

Em troca, May, como já havia assinalado antes, vai trabalhar no sentido de apelar aos aliados dos Estados Unidos para “desempenharem o seu papel”, isto em resposta às críticas de Donald Trump, que argumenta que os Estados Unidos contribuem de forma desproporcionada para os organismos internacionais.

O presidente norte-americano também não fugiu ao tema México e confirmou as notícias que hoje davam conta de uma conversa telefónica com o homólogo mexicano.

"Tivemos uma conversa que durou uma hora, esta manhã, e vamos trabalhar numa nova e justa relação. Mas os Estados Unidos não podem continuar a perder vastas quantidades de negócios e de dólares e empregos. Não vamos ser o país que não sabe o que está a fazer", esclareceu.

Esta conversa acontece um dia depois de Enrique Peña Nieto ter cancelado a sua deslocação a Washington, que estava prevista para a próxima terça-feira, onde se deveria reunir com Donald Trump.