Não é amor. É amar.

Esta é uma frase que me ficou. Não sei quem disse, mas sinto que o amor é assim. Com mais ou menos paixão, sei que não deveria ser preconceituosa mas sou. Como todos somos, pelo menos um bocadinho, em contextos e situações diferentes. Quero acreditar que o meu 'preconceitosinho' intelectual não prejudica ninguém. Porque é apenas isso, uma dúvida em relação a pessoas ou projectos artísticos e intelectuais que me deixam sem saber muito bem se devo, ou não, gostar.

Talvez seja, também, a pressão dos outros a dizer-me que não é cool assumir que se gosta disto ou daquilo, devo reconhecer. Uma coisa é certa, nada tenho contra a Cristina Ferreira, mas não adoro a sua gargalhada ou o tom de voz muito alto. Contudo, seja esta uma persona real ou fabricada, a atitude resulta e admiro, principalmente, a sua capacidade para fazer daquilo que poderia ser um grande defeito, a sua grande diferença em relação aos outros. Também admiro, com aquela pontinha de inveja que nos é característica, a capacidade empreendedora e de fazer coisas, mesmo que tenha um altifalante ao seu dispor que, sem dúvida, contribui para o sucesso.

No entanto, se o que faz não tivesse coerência não resultaria, por mais que a sua presença televisiva pudesse ajudar.

Já vi por aí que a capa da última edição da sua revista está a dar que falar e não é pelo preconceitosinho intelectual. É mesmo pela ignorância do meu povo que não consegue discernir o real da ficção, a produção da realidade ou a realidade espelhada na produção editorial de uma revista. Parabéns a quem tem coragem para fazer capas assim e à própria Cristina Ferreira que seguramente assina por baixo. Ao que percebi, a nova revista Cristina está mais madura e profunda, menos promocional e comercial. Está mais revista, com pessoas lá dentro que produzem conteúdos dos quais se orgulham.

Independentemente de tudo, porque podemos fazer a análise com base numa lógica espertalhona de quem usa as nossas emoções para se reposicionar, reposicionando simultaneamente este projecto editorial, a verdade é que estamos perante uma publicação que arrisca contar histórias controversas com pessoas normais, fugindo ao cliché dos famosos, da nossa curiosidade, coscuvilhice e voyeurismo, tocando em feridas que a sociedade teima em fugir querer curar, recorrendo a um penso-rápido.

Esta mente aberta exposta na capa, prolongada nas palavras, toca-nos ao coração. Para o bem e para o mal. Que vença o bem porque preconceito já temos que chegue: em relação à capa, ao tema e às próprias pessoas que o encenam. Love wins [O amor ganha].

Paula Cordeiro é Professora Universitária de rádio e meios digitais, e autora do Urbanista, um magazine digital dedicado a dois temas: preconceito social e amor-próprio.  É também o primeiro embaixador em língua Portuguesa do Body Image Movement, um movimento de valorização da mulher e da relação com o seu corpo.

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