Após anos de inércia negocial com o mundo de braços caídos, congelados, perante a intransigência do atual governo de Israel (mais agressivo que os anteriores) e, agora, o avanço desafiador de Trump, o Papa quis usar o altar pontifical para, sem mediações nem margem para interpretações, se colocar à cabeça do combate por um compromisso justo que possa abrir caminhos à coexistência em convivência pacífica dos dois povos, o de Israel e o da Palestina.
O Papa fez questão de dizer, em voz solene que entra pelos ouvidos, que o menino cujo nascimento é celebrado em Belém da Terra Santa tem o rosto de todos os meninos que sofrem em lugares de conflito. Muito mais do que uma mensagem religiosa é uma mensagem altamente política e social.
Há um acrescento também relevante nas palavras do Papa na noite de Natal: a insistência na abertura de portas a refugiados e migrantes. Foi uma mensagem direta para Sebastian Kurz, o jovem (31 anos) primeiro-ministro austríaco e astro crescente entre os que no lado Leste do Danúbio estão a abrir um outro “Brexit” dentro da União Europeia.
Francisco coloca-se como o líder que trata de sacudir as nações desunidas ao descrever as sombras desta nossa época: “sopram pelo mundo ventos de guerra e constatamos um modelo de desenvolvimento que continua a produzir degradação humana, social e ambiental”.
Tudo isto numa ocasião em que Trump decide cortar 285 milhões de dólares dos EUA para o orçamento da ONU. É o castigo que este presidente dos Estados Unidos aplica a quem não o seguiu na estrada para Jerusalém. A liderança da América está assim.
Valha-nos o Papa. Falta que se revelem líderes políticos capazes para converter o discurso necessário em ação prática de regresso aos valores solidários e de desenvolvimento que definiram o mundo nas décadas seguintes à Segunda Grande Guerra. Na Europa, Merkel e Macron têm a oportunidade rara para, com outros, emergirem como estadistas, em contraste com Trump e Putin. Certamente têm essa ambição, está para se ver se são capazes.
Vale ver:
Como o Iémen está a ser estrangulado pelo bloqueio saudita. Na primeira linha, oito milhões de pessoas desesperam com a fome.
A revolução que está em curso no combate às doenças.
A mudança em Angola numa primeira página em Luanda.
Também a ter em conta: O resultado das eleições catalãs pôs o PP de Rajoy em sobressalto. Quando o que faz falta é que apareça quem faça política com maiúsculas, como reclama Jordi Juan, no La Vanguardia.
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