Ao sexto dia, o clima (sobre)aquece a campanha
Desta vez não foi um balde de tinta verde a colocar o tema da crise climática na agenda da campanha eleitoral. Se a agressão a Luís Montenegro ficará na história desta campanha como um raro momento de consenso entre partidos, o que aconteceu em Ourém promete ser arma de arremesso político a usar daqui em diante — sendo especialmente útil à esquerda um dia depois de as sondagens darem vantagem à Aliança Democrática (AD) liderada por Luís Montenegro, ainda que por uma margem mínima.
O que aconteceu?
Na quinta-feira à noite, Eduardo Oliveira e Sousa, antigo presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal e cabeça de lista da AD por Santarém, fez um discurso controverso em que afirmou que o país tem perdido oportunidades de por “falsas razões climáticas”.
“Proíbem novas plantações às cegas, baseados em ideologias de extrema-esquerda, movidos por um dissimulado combate à criação de riqueza, iludindo as pessoas com falsas razões de ordem climática ou de desordenamento do território”.
E, continuou...
“Caros amigos, sempre houve fenómenos extremos, em 1945 o Tejo em Santarém atravessava-se a pé, nesse ano ocorreu um ciclone que derrubou uma mata em Salvaterra de Magos”, disse, dando ainda exemplos em que as notícias eram “controladas pelo Estado central”.
O cabeça de lista por Santarém alertou ainda neste discurso para o risco de virem a ser "formadas milícias armadas no território" por causa na "insegurança nos campos" e, para fechar, recorreu à tauromaquia para fazer uma analogia eleitoral: “Temos uma pega por diante, o toiro já se voltou para nós, só falta bater-lhe as palmas e esperar pela investida. O dr. Montenegro é o forcado da cara, mas uma pega, para ser bem-sucedida, precisa dos ajudas, que estão atrás. Esses somos nós”. “Bata as palmas, vamos consumar a pega e no dia 11 vamos dar a volta à praça”.
As reações não tardaram...
Ora quem parece estar a bater palmas por esta altura é a oposição da AD, que viu nestas declarações uma boa razão para criticar a aliança liderada por Montenegro.
Pedro Nuno Santos acusou a AD de ter nas suas listas negacionistas climáticos, salientando que "é na campanha que os projetos e os candidatos se vão revelando”. O antigo presidente da CAP foi apresentado “como um grande especialista em agricultura”, “mas fez um discurso de negação das alterações climáticas. A emergência climática é uma realidade, não podemos Ignorá-la, atinge a agricultura e os agricultores em primeira linha. Os agricultores sofrem com as alterações climáticas”. O líder socialista criticou ainda um discurso que na sua ótica apela ao alarmismo e à divisão ao falar da possibilidade de se criarem milícias armadas nos campos.
A coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, considerou que Luís Montenegro tem precisado de esconder candidatos que trazem para a AD “ideias que pertencem ao Chega”. “As alterações climáticas farão com que, em pouco tempo, 30% de produtividade da agricultura se perca”, o “que pode pôr em causa o futuro da produção agrícola em Portugal e até da soberania alimentar”. Portanto, concluiu, “é de todo o interesse dos agricultores que a agricultura possa ser adaptada e preparada para essas alterações porque elas são reais e elas existem”.
A porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, disse que "Luís Montenegro optou por dar a mão a um conservadorismo e fazer uma campanha digna dos tempos de 1970, ao invés de estar no século XXI a acompanhar aquele que é o progresso civilizacional e as preocupações como as que o PAN defende como o respeito pela vida animal ou o combate às alterações climáticas”.
Paulo Raimundo, da CDU, escolheu a ironia: “estava a acusar PSD, CDS, Chega e IL de quererem voltar a 2011 e pelos vistos esse candidato da AD quer voltar ao tempo em que ainda não havia alterações climáticas. Por isso é que achamos que o nosso é o projeto para a frente. Pelos vistos, o desse senhor não, é para trás, é muito para trás… quase ao tempo dos dinossauros”.
Também Rui Rocha, líder da Iniciativa Liberal, se quis distanciar dizendo que o objetivo do seu partido é "mudar para um país de futuro", salientando que "algumas declarações que vamos vendo mostram como ainda há alguma resistência a esse futuro. Daí ser tão importante que a Iniciativa Liberal seja o partido forte nas próximas eleições”.
Mesmo com Montenegro a desvalorizar a situação — "não há nenhuma dúvida com o comprometimento que a AD tem com o clima, com o ambiente" —, é mais uma vez chamado a esclarecer a posição da aliança, após as controversas declarações do ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, associando imigração e insegurança, e as do vice-presidente do CDS-PP Paulo Núncio, quarto candidato da AD no círculo de Lisboa, a favor de um novo referendo sobre o aborto.
Segundo o presidente do PSD, "evidentemente que, sendo uma campanha de uma grande força, que congrega três partidos, cidadãos independentes, candidaturas fortes em todos os círculos eleitorais, atrai pessoas que não pensam 100% todas de forma igual".
Montenegro chamou a si, todavia, o papel de "esclarecer o que é a base da proposta [da AD], a orientação de política que me cabe a mim e só a mim definir". E conclui: "Os eleitores portugueses são muito mais inteligentes do que aquilo que muitas vezes algumas considerações e até alguns comentários que eu vejo no espaço público fazem perceber ou querem fazer perceber".
*Com Lusa
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