Se não conseguir ver esta newsletter clique aqui.

 
Image

Newsletter diária • 01 set 2020

 
Facebook
 
Twitter
 
Instagram
 
 
 

O dinheiro apaga a morte? Ou como as notícias se esquecem das coisas

 
 

Edição por Pedro Soares Botelho

Lendo o que vou escrevendo neste lugar de crónicas, não há de ser surpresa para ninguém que estou a escrever a partir do Porto. Cidade Invicta de vida fascinante, com uma grande diversidade de espaços e ambientes. Um dos meus preferidos é a zona de Cedofeita, nome de história engraçada, tendo a ver com a igreja feita mais cedo neste lugar (ou seja, cedo feita).

É por aqui, entre as galerias do Bairro das Artes e a melhor fatia de bolo de chocolate num pequeno café com nome de especiarias dum centro comercial em Miguel Bombarda, que fica a rua do Breiner, que morreram 16 pessoas. E eu — e toda gente — não dei conta. Falhei também.

16 pessoas morreram num lar do Porto. Há um lar, no centro da cidade, cuja taxa de mortalidade entre os utentes infetados pelo novo coronavírus foi de 55%, em agosto. A notícia só chegou esta terça-feira, pela mão da jornalista Mariana Oliveira, do jornal ‘Público’.

O surto ficou conhecido no início do mês, mas só agora, depois das insistências daquele diário, os dados foram divulgados. E os dados são esses: mais de metade dos utentes infetados neste lar morreram. Tendo por base números disponibilizados pela Administração Regional de Saúde do Norte, o jornal adianta que o surto de covid-19 provocou a morte de 16 pessoas, num universo de 48 infetados, dos quais 29 são utentes e 19 funcionários da instituição. O diário acrescenta também que permanecem internadas três pessoas.

Porque só se sabe agora? Não sabemos. Comparando com o lar de Reguengos de Monsaraz, onde morreram 18 pessoas, a taxa de mortalidade nesta residência portuense ficou 35 pontos percentuais acima — no Alentejo, cifrou-se nos 20% e originou uma polémica com ons e offs do primeiro-ministro e da Ordem dos Médicos a entrar no debate público.

“Os números foram disponibilizados ao Público pela Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte, após pedidos insistentes de informação e numa altura em que o Público já informara esta autoridade que iria noticiar a morte de 14 das 24 pessoas que tiveram de ser internadas, dados apurados junto de fonte hospitalar”, explica o jornal.

A 10 de agosto, fonte oficial da ARS-Norte avançava à Lusa que o número de casos confirmados na residência sénior subia de 44 para 46 (34 utentes e 12 funcionários), e que havia 10 internados. À época, a mesma fonte afirmava que o surto estava "controlado e a ser acompanhado pelas autoridades de saúde pública".

No dia 29 de julho, surgiu o registo do primeiro caso de infeção pelo novo coronavírus naquela residência sénior, tendo sido, "testados" todos os utentes e profissionais daquele lar, num total de 225 pessoas (109 utentes e 116 profissionais).

O secretismo é grande à volta da situação de uma residência para idosos, que se situa no coração de uma das zonas mais apetecíveis do Porto. Junto a uma escola de línguas, numa rua de grande passagem, um lar viu morrer 16 pessoas, sem que se desse grande conta.

Que lar é este? É uma instituição de luxo, pertença da Residências Montepio.

Esta tarde, já depois da notícia do Público, a Residências Montepio avançou que, apesar de "tudo ter feito" para evitar a propagação do novo coronavírus, "não foi possível" evitar o contágio no lar do Porto. Em comunicado, a empresa avança hoje que, apesar das medidas implementadas no âmbito da covid-19, na residência sénior do Montepio na rua do Breiner, morreram 16 residentes, que lá permaneciam "há mais de cinco anos".

Segundo a empresa, os 16 utentes apresentavam "várias comorbilidades", tais como, doenças cardiovasculares, patologias respiratórias crónicas, diabetes e elevado nível de dependência.

"O número de mortos nesta unidade do Porto é elevado face ao número de infetados, sendo a taxa de letalidade de 55%", refere o diário, mas a empresa contraria a percentagem, afirmando que a taxa de letalidade no lar do Porto situa-se antes nos 22%. "Percentagem considerada baixa, atendendo à média de idades dos residentes — 90 anos", lê-se no documento, citado pela Lusa.

As contas do ‘Público’, que cita uma confirmação do hospital, referem-se à mortalidade dos utentes e não do total de pessoas ligadas à instituição.

Quanto aos colaboradores que testaram positivo para a covid-19, a Residências Montepio avança que sete já se encontram recuperados e seis já retomaram funções, salientando que "nenhum colaborador foi hospitalizado". "Todas as medidas de prevenção por contágio estão a ser continuamente implementadas e reforçadas na Residência Montepio Porto Breiner, assim como nas demais unidades residenciais", conclui a missiva.

Questionado hoje pelos jornalistas sobre a notícia do Público, à margem da sessão de lançamento da aplicação 'Stayaway covid', o presidente da ARS-Norte, Carlos Nunes, recusou-se a prestar declarações. Fonte da entidade disse à SIC que só no dia 24 de agosto teve conhecimento dos números.

Uma morte é sempre uma morte — independentemente do sítio onde acontece. É uma vida que termina. Cessa. E quando tal se verifica, há que apurar as causas: seja porque envolve teias políticas, ou porque mancha a imagem reputada de uma empresa. Aos media, cabe a ponderação e o equilíbrio de não encher o tempo com os pobres que morrem, fechando os olhos aos ricos que já estão mortos.

 
 
Novo Banco. Auditoria revela perdas de mais de quatro mil milhões de euros e descreve "insuficiências e deficiências graves de controlo interno"
 
 

Economia

 

A auditoria externa ao BES e ao Novo Banco revelou hoje perdas líquidas de 4.042 milhões de euros no Novo Banco e, segundo o Governo, o "relatório descreve um conjunto de insuficiências e deficiências graves" até 2014.

 
 
 
Agentes culturais concentraram-se em Lisboa para um "brinde à ignorância da ministra"
 
 

Atualidade

 

Cerca de uma centena de agentes culturais concentraram-se hoje junto ao Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, para "um 'drink' de copo vazio", em alusão à ausência de respostas do Governo, num "brinde à ignorância da ministra" da Cultura.

 
 
 
Covid-19: Portugal com mais 231 casos confirmados e duas mortes
 
 

Atualidade

 

Portugal regista hoje mais dois mortos e 231 novos casos de infeção por covid-19, em relação a segunda-feira, segundo o boletim epidemiológico diário da Direção-Geral da Saúde.

 
 
 
Costa e Temido apelam à utilização da Stayaway Covid, a aplicação de rastreio de "grande responsabilidade"
 
 

Tecnologia

 

A sessão de apresentação pública da aplicação portuguesa de rastreio digital da Covid-19 – Stayaway Covid teve lugar esta terça-feira no Instituto Superior de Engenharia do Porto. António Costa esteve acompanhado pela ministra da Saúde, Marta Temido, e pelo ministro da Ciência, Tecnologia, e Ensino Superior, Manuel Heitor.

 
 
 
Temporada abre com "enorme procura" no  Teatro Nacional D. Maria II, conta o diretor artístico
 
 

Vida

 

A peça "A vida vai engolir-vos" inaugura hoje, em Lisboa, uma temporada do Teatro Nacional D. Maria II (TNDMII) que está a ter "enorme procura", disse hoje à Lusa o diretor artístico, Tiago Rodrigues.

 
 
 
Charlie Hebdo republica caricaturas de Maomé antes do julgamento do atentado
 
 

Atualidade

 

A revista satírica Charlie Hebdo republica na quarta-feira, dia em que começa o julgamento sobre o ataque terrorista à sua redação, as caricaturas de Maomé que a transformaram num alvo dos jihadistas, anunciou hoje a publicação.

 
 
 
Manuel Cardoso
 
 

- Epá, a mim não me comem por parvo nesta. Isto eu não deixo passar. - O quê? - O Avante! Aquela palhaçada! Como é que é possível deixarem que aquilo aconteça? Continuar a ler