O pico vai ter de esperar — há eleições primeiro
Edição por António Moura dos Santos
Além das promessas dos partidos, das suas tricas e dos ataques, das alianças ou falta delas, o grande tema que tem dominado estas eleições legislativas é a forma como serão afetadas da covid-19 — e como podem mudar o próprio rumo da pandemia.
Perante o risco de ter uma parte significativa dos eleitores impedida de votar por se encontrar em confinamento — o que não só constitui a inviabilização de um direito que lhe assiste, como retira legitimidade ao processo —, o Governo optou pelo já divulgado expediente de permitir isolados de ir votar e apenas votar no dia 30. Ao mesmo tempo, recomendou-lhes que vão no horário entre as 18:00 e as 19:00, para evitar contacto com não infetados.
Qual é a dimensão da população nestas condições que poderemos encontrar a 30 de janeiro? De acordo com o matemático Henrique Oliveira, dada a progressão da pandemia nas últimas semanas, é bem possível que cheguemos a um milhão de confinados no final de mês.
Destes, entre “350 mil a 400 mil devem querer ir votar”, disse o professor do departamento de matemática do Instituto Superior Técnico — uma estimativa muito superior à anterior, que previa entre 180 a 250 mil eleitores isolados no dia das eleições, entre um universo total de cerca de 450 mil a 500 mil pessoas impedidas de sair de casa por estarem infetadas ou serem contactos de alto risco.
Criticado por vários partidos e entidades por responder tardiamente a esta questão do voto dos confinados, o Governo, pelo menos, conseguiu num esforço de última hora garantir que muita da população nacional vá exercer o seu direito de voto — ainda que isso também leve alguns a crer que a abstenção poderá aumentar por parte de pessoas que não querem arriscar cruzar-se com infetados.
Há, todavia, um outro efeito destas legislativas — recorde-se que não foi só a pandemia a afetar as eleições, já que o contrário também se aplica.
Henrique Oliveira acredita que este aumento substancial de casos que temos observado — e que será causador do tal milhão de confinados — se deve sobretudo a novo modelo escolar (com a norma que prevê que o aparecimento de um caso positivo não obriga ao isolamento de toda a turma de uma escola) e à própria campanha eleitoral.
“A campanha eleitoral está a produzir uma subida muito surpreendente face aos modelos que nós tínhamos”, adiantou o professor, apontando a recente subida do índice de transmissibilidade (Rt) do coronavírus SARS-CoV-2.
Face a estas alterações, o pico da atual vaga da pandemia, que esteve previsto para ocorrer nos últimos dias, deverá agora acontecer entre o “início de fevereiro e até dia 12”, com o teto a atingir os 60 mil casos notificados em média a sete dias, mas com um máximo de infeções diárias de 130 mil. Teremos, portanto, de aguardar que as eleições acabem para que as infeções baixem.
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