Apesar de as autoridades catalogarem o caso como “terrorista”, vários especialistas alertaram já que, tendo em conta aquilo que é público até agora, não parecem estar reunidos os critérios para de facto se dizer que estamos perante terrorismo — ainda que a lei portuguesa divirja das convenções internacionais e académicas sobre o tema.
É importante elogiar o trabalho da Judiciária, mas também contextualizar o que aconteceu — e evitar o pânico. Afinal, com as informações disponíveis neste momento, a única vítima do eventual ataque é o próprio jovem que o estaria a planear.
Natural de uma aldeia do concelho da Batalha, vivia em Lisboa, onde estudava. É descrito como uma pessoa inteligente e reservada. Alguma imprensa aponta também que pudesse estar a ser vítima de bullying na faculdade.
Nada, em momento algum ou em qualquer circunstância, justifica um ataque como o que as autoridades descrevem que estava a ser planeado. Mas tendo esse ataque sido travado, talvez valha a pena pensar no que falhou para que um jovem universitário tenha chegado ao ponto onde estava.
A confirmar-se que seria vítima de violência, vale olhar para as relações de poder e discriminação que nascem quando jovens de proveniências tão distintas se juntam neste meio e perceber os impactos de fóruns (facilmente acessíveis) na internet onde teorias da conspiração, cosmovisões aceleradas e desinformação se juntam num caldo de radicalismos (não apenas ideológicos ou religiosos) que aliciam adultos e jovens.
Vários órgãos de comunicação se apressaram a comparar o caso a outros que têm acontecido na Europa, aludindo sempre à ligação religiosa dos autores. Não há nenhum indício público de que este caso possa ser semelhante, pelo que as menções a determinadas religiões ou regiões contribuem pouco para a discussão, mas agudizam os preconceitos com que muitas pessoas já têm de lidar.
Enquanto não sabemos realmente o que se passou, todos os julgamentos são prematuros; todas as suposições infundadas.
Certo é que, mantendo a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa a atividade normal — e não há qualquer razão para suspeitar das garantias de segurança —, há hoje milhares de alunos que vão estar nos corredores e nas salas, alguns dos quais sob avaliação, onde, descobriram ontem, podiam ter sido feridos ou mortos por um colega esta sexta-feira. Por muitas garantias que haja, a mente — sempre ela — comanda os medos, as ansiedades e as pressões, hoje amplificadas por uma cobertura noticiosa de plantão diante da faculdade. Apoiar os estudantes poderia passar também por reconhecer que nas últimas horas nenhum deles há de ter tido cabeça para estudar fosse o que fosse.
Detido o suspeito, que é hoje ouvido em primeiro interrogatório judicial, e sanado o risco (fonte ligada ao processo disse à agência Lusa que seria um atentado a título individual e não teria por detrás a ação de um grupo), olhar para o que levou a esta situação pode ser mais importante do que cumprir o calendário do semestre, levar os carros de reportagem para Leiria ou discutir o impacto da banda desenhada japonesa.