Reféns do aquecimento global
A realidade é uma: o planeta está a aquecer mais e mais depressa do que se previa. E vai continuar. Espera-se que as temperaturas subam mais de +1,5ºC até 2030, antecipando dez anos o que tinha sido previsto em 2018 pelos cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas.
A organização publicou hoje um relatório onde são apresentados cinco possíveis cenários – do mais otimista ao mais pessimista – para os próximos anos. Em todos, o aumento da temperatura e a subida no nível do mar são inevitáveis.
Quanto a culpados, o relatório aponta o dedo à influência humana e alerta que não há outra opção além de um travão nas emissões de gases com efeitos de estufa.
Mas, mesmo limitando o aquecimento a +1,5 ºC, há algo inevitável: as ondas de calor, as cheias e outros eventos extremos aumentarão "sem precedentes" em relação à sua magnitude, frequência, localização ou época do ano em que ocorrem, advertiu o IPCC.
O planeta já alcançou +1,1 ºC e as consequências são visíveis: incêndios que arrasam os Estados Unidos, Grécia, Turquia e Itália; cheias que inundam a Alemanha e a Bélgica ou termómetros a chegar aos 50 ºC no Canadá.
Em Itália, a região da Sicília declarou estado de emergência na sequência dos incêndios que deflagraram nos últimos dias na ilha, enquanto no centro e sul de Itália se mantém o alerta devido às temperaturas elevadas e ventos fortes. As previsões meteorológicas indicam que esta semana as temperaturas no país podem ultrapassar os 45 graus em algumas províncias do sul.
Já nos Estados Unidos, o incêndio Dixie, que esta semana devastou a pequena cidade de Greenville, tornou-se o segundo maior da história do estado norte-americano da Califórnia, onde os bombeiros lutam para extinguir 11 grandes incêndios florestais.
Por cá, hoje há 16 concelhos do interior Norte e Centro e do Algarve em risco máximo de incêndio, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera.
O caminho a seguir para combater as alterações climáticas passa por impulsionar a transição para uma economia descarbonizada e o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, salientou que “o relatório deve pôr fim ao carvão e às energias fósseis antes que destruam o nosso planeta”, passando por limitar novas explorações e a produção de energias fósseis, transferindo as suas subvenções às energias renováveis.
Os cenários descritos neste relatório são, defende Guterres, "um alerta vermelho para a humanidade". "As sirenes de alerta são ensurdecedoras: as emissões de gases de efeito de estufa geradas pelas energias fósseis e o desmatamento estão a asfixiar o nosso planeta".