Mike Flynn foi forçado a afastar-se do cargo que tinha na administração Trump em fevereiro, cerca de um mês depois de ter assumido funções ao serviço do presidente dos Estados Unidos da América (EUA). Renunciou ao cargo de Assessor para a Segurança Nacional depois de terem surgido informações de que teria enganado o vice-presidente, Mike Pence, bem como outros funcionários sobre os contactos com Sergei Kislyak, o embaixador russo nos Estados Unidos.

Para além disso, Flynn terá recebido 63 mil euros de entidades associadas ao Kremlin em 2015, divulgou em março o congressista democrata Elijah Cummings, principal representante do partido na comissão da Câmara dos Representantes para a Supervisão do Governo norte-americano.

Agora, fontes ligadas ao antigo consultor para a segurança nacional de Donald Trump confirmam que Flynn se terá oferecido para testemunhar ao FBI (polícia federal de investigação norte-americana) e a comissões do congresso sobre eventuais ligações entre a campanha presidencial de Trump e a Rússia. Mas com uma condição: em troca pede imunidade.

A notícia foi avançada ao início da noite de ontem pelo jornal americano ‘The Wall Street Journal’, citando fontes anónimas ligadas ao assunto.

Numa mensagem que Robert Kelner, advogado de Flynn, divulgou na rede social Twitter, pode ler-se que “o general Flynn certamente tem uma história a contar e quer muito falar sobre isso, desde que as circunstâncias o permitam”.

O documento foi enviado por um conselheiro de Flynn, Robert Kelner. “Não vamos comentar os detalhes das discussões entre o conselheiro para o general Flynn e as comissões de segurança da Câmara dos Deputados e do Senado, apenas confirmar que essas discussões ocorreram. Mas é importante reconhecer as circunstâncias em que essas discussões estão a ocorrer”, pode ler-se.

Ainda no documento, depois de uma descrição dos prémios e honras do general na reforma, Kelner vira-se para os media: “não obstante a sua vida de serviço nacional, os media estão inundados de alegações infundadas, afirmações ultrajantes de traição e insinuações imorais dirigidas contra ele. Agora é alvo de exigências públicas pelos membros do Congresso e outros críticos políticos para que seja investigado criminalmente.”

“Nenhuma pessoa razoável, que tem o benefício do conselho de um advogado, submeter-se-ia a interrogatório num ambiente altamente politizado, de caça às bruxas, sem garantia contra acusações injustas.”

Ao jornal americano ‘The New York Times’, o Departamento de Justiça recusou comentar, mas, diz o jornal, alguns peritos alertam para que não se tirem conclusões precipitadas. Nesta fase inicial, diz Mark Zaid, advogado especializado em casos de segurança social, não se podem fazer leituras muito profundas, para além de uma mostra de “advocacia inteligente”. “Num caso politicamente carregado de de alto nível de segurança nacional, não consigo imaginar não começar por pedir imunidade”, prossegue Zaid.

O mesmo jornal explica que “é comum as pessoas pedirem imunidade em troca do seu testemunho para garantir que as suas palavras não podem ser usadas para as processar. Segundo a lei federal, o Congresso pode dar imunidade às testemunhas pelo seu depoimento, mas os legisladores normalmente só o fazem depois de consultarem promotores de justiça.”

Todavia, pouco depois de o comunicado ter sido divulgado, a incoerência da alegada negociação com as autoridades começou a ser discutida. É que em setembro do ano passado, dois meses antes da eleição, Flynn falava na televisão americana sobre a imunidade concedida a um dos assessores de Hillary Clinton, por causa da investigação pelas autoridades federais ao caso dos e-mails da antiga secretária de estado.

Na altura, Mike Flynn dizia que “quando te dão imunidade, significa que provavelmente cometeste um crime”.