Em Lisboa desde as 09:43 da manhã, mas nas notícias desde que o avião levantou voo rumo a Portugal, o primeiro do Papa Francisco foi, como a agenda o antecipava, o mais político. O Papa visitou o Presidente da República, em Belém, recebeu o primeiro-ministro e o presidente da Assembleia da República na Nunciatura Apostólica e discursou no CCB onde falou no âmbito de um encontro com a sociedade civil e o corpo diplomático.

Por onde passou, o Papa foi recebido por uma moldura humana de indiscutível entusiasmo, expresso na frase “viva o Papa”, nos hinos, nos sorrisos de milhares de jovens peregrinos e de tantos outros que não resistiram ao apelo de ver ao perto – conceito a ser usado com alguma latitude – o líder da Igreja Católica.

E foi o líder da Igreja Católica que se apresentou no Mosteiro dos Jerónimos para a homilia das Vésperas (oração ao entardecer) com bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados e consagradas, seminaristas a agentes pastorais. E foi aí que, pela primeira vez em Portugal, falou sobre as vítimas de abusos. Foi notado que não disse “abusos sexuais”, mas simplesmente abusos.

Francisco falou da desilusão e da raiva que “alguns nutrem face à Igreja, devido às vezes ao nosso mau testemunho e aos escândalos que desfiguraram o seu rosto e que nos chamam a uma purificação humilde e constante, partindo do grito de sofrimento das vítimas que sempre se devem acolher e escutar”.

Dos Jerónimos regressou à Nunciatura Apostólica onde guardou o final do dia precisamente para estar com 13 vítimas de abusos sexuais da Igreja em Portugal a quem pediu desculpa.

As mesmas vítimas que foram lembradas em cartazes afixados em Loures, Lisboa e Oeiras, tendo esta última autarquia decidido mandar retirar, alegando ser “publicidade ilegal”.