Na homilia das Vésperas (oração ao entardecer) com bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados e consagradas, seminaristas e agentes pastorais, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, onde hoje chegou para presidir à Jornada Mundial da Juventude (JMJ), Francisco admitiu existir uma “indiferença para com Deus” e “um progressivo afastamento da prática da fé” nos “países de antiga tradição cristã, atravessados por muitas mudanças sociais e culturais e cada vez mais marcados pelo secularismo”.
“Isto acentua-se pela desilusão e pela raiva que alguns nutrem face à Igreja, devido às vezes ao nosso mau testemunho e aos escândalos que desfiguraram o seu rosto e que nos chamam a uma purificação humilde e constante, partindo do grito de sofrimento das vítimas que sempre se devem acolher e escutar”, afirmou o Papa numa alusão às vítimas de abusos sexuais no seio da Igreja Católica, mas sem nunca mencionar a palavra sexuais.
Aos presentes, numa intervenção em espanhol, Francisco alertou que o risco, face a estes acontecimentos, é cair na “resignação e pessimismo”, pedindo para que enfrentem “as situações pastorais e espirituais”, e dialoguem “com abertura de coração para experimentar novos caminhos a seguir”.
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais Contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa validou 512 dos 564 testemunhos recebidos, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de vítimas da ordem das 4.815.
Estes testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, período abrangido pelo trabalho da comissão, cujos dados foram divulgados em fevereiro.
Em abril, foi apresentado o Grupo Vita, criado pela Igreja Católica para acompanhamento das situações de abuso sexual de crianças e adultos vulneráveis. É um grupo que funciona em articulação com as comissões diocesanas de proteção de menores
A criação deste grupo foi uma decisão da Conferência Episcopal Portuguesa tomada após a publicação, do relatório final daquela comissão independente.
O Papa chegou hoje a Lisboa, onde preside à Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que começou na terça-feira e termina no domingo, onde são esperadas mais de um milhão de pessoas.
Em 12 de maio, o secretário de Estado do Vaticano disse, em Fátima, que o Papa Francisco iria ter, por ocasião da JMJ, um gesto para com as vítimas de abusos sexuais por membros da Igreja Católica.
“O Santo Padre não deixará de manifestar a sua proximidade e a sua preocupação para com as vítimas deste trágico fenómeno também aqui em Portugal”, afirmou o cardeal Pietro Parolin, na conferência de imprensa que antecedeu a peregrinação internacional aniversária de 12 e 13 de maio ao Santuário de Fátima, à qual presidiu.
Em junho último, por ocasião, da divulgação do programa oficial do Papa para a JMJ, o presidente da Fundação JMJ, Américo Aguiar, adiantou que o Papa Francisco iria reunir-se com vítimas de abusos sexuais por parte de elementos da Igreja Católica.
“Além do programa oficial, o encontro com vítimas de abusos vai acontecer, mas não é dito”, referiu Américo Aguiar.
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