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Newsletter diária • 23 fev 2023

 
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Muito mais do que os números

 
 

Edição por Alexandra Antunes

Esta quarta-feira o Ministério Público abriu 15 inquéritos na sequência das 25 participações remetidas pela comissão independente que estudou os abusos sexuais na igreja católica à Procuradoria-Geral da República. Contudo, apenas "seis encontram-se em investigação e nove conheceram despacho final de arquivamento". A par, o MP recebeu quatro denúncias da Comissão de Proteção de Menores e Pessoas Vulneráveis do Patriarcado de Lisboa, que deram origem a sete inquéritos.

Entretanto, a lista de mais de 100 padres abusadores ainda no ativo prometida pela comissão vai ser entregue no início do mês de março, sendo que estas informações já estão na posse dos bispos, diz ao SAPO24 o psiquiatra Daniel Sampaio, que acompanhou os trabalhos da Comissão. Portanto, a Igreja pode já "iniciar o seu trabalho junto dos alegados abusadores, visto que cada diocese já foi alertada para a sua existência, sobretudo a partir do trabalho dos historiadores junto de cada bispado".

"Tristeza, vergonha, arrependimento não podem faltar neste momento", disse D. Manuel Clemente, reiterando o pedido de perdão da Igreja Católica portuguesa, mas o que se exige neste momento é ação, porque atrás de cada número há uma pessoa e um trauma por endereçar.

Aquando a divulgação do relatório da comissão foram lidos em voz alta alguns excertos de testemunhos de vítimas, através de sete relatos que marcaram pela "linguagem intensa" e detalhes extremamente gráficos de natureza sexual. E a decisão de o fazer "foi muito bem ponderada pela Comissão Independente (CI)", começou por dizer o psiquiatra Daniel Sampaio ao SAPO24.

"Poderíamos ter optado apenas pela divulgação dos números, o que só por si seria muito impressionante. No entanto, as pessoas e o seu sofrimento são muito mais do que os números, são seres humanos com as suas recordações traumáticas", aponta, garantindo que "não houve uma única vítima que criticasse" a opção de divulgar testemunhos em anonimato. Para muitas foi a primeira vez em que "foram ouvidas e validadas".

As organizações de apoio às vítimas reconhecem a importância de se falar sobre o assunto, mas assumem que isso pode intensificar o trauma. A Quebrar o Silêncio refere que tem recebido mais pedidos de apoio e também na UMAR se ouvem mais relatos, associados a uma "sensação de sufoco, porque a notícia surge em diferentes meios de comunicação". O equilíbrio entre informar e proteger o bem-estar das vítimas é assumidamente difícil.

Habitualmente, a recomendação, diz a Ordem dos Psicólogos, é partilhar os detalhes dos casos de abuso sexual em fórum próprio, mas a exceção pode ter vantagens, já que "pode ajudar no processo de identificação com aquela situação de vitimação e facilitar o reconhecimento de que elas próprias também foram sujeitas a estas experiências nocivas e, no fundo, ajudá-las a compreender o impacto dessas experiências", afirma a vice-presidente Renata Benavente.

Agora, é preciso apoiar quem sofreu — e ainda sofre — com os abusos. "O que nós defendemos é que as vítimas, independentemente da idade e da circunstância, possam ter algum tipo de apoio especializado, porque também sabemos que se isso não for abordado com a celeridade e a rapidez certa traz depois outras consequências ao longo da vida", adianta.

Até agora, todavia, não houve nenhum pedido por parte das dioceses para a criação das bolsas de psicólogos que têm sido anunciadas pela Igreja. "Temos ouvido falar disso, mas nós, Ordem, não estamos envolvidos nesse processo".

 
 
Francisco Sena Santos
 
 

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