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Newsletter diária • 28 jan 2022

 
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Temos um empate e não há direito a prolongamento. Quem ganhará por fim?

 
 

Edição por António Moura dos Santos

A acreditar nas derradeiras sondagens antes do dia das votações a 30 de janeiro, este domingo, PS e PSD estão virtualmente empatados nas intenções de voto para estas legislativas.

Ora, fazendo desde já a devida ressalva de que o que está em causa é a eleição de 230 deputados para a Assembleia da República e não para eleger um primeiro-ministro, é inegável que os dois partidos mais votados serão aqueles que terão uma palavra a dizer acima dos restantes intervenientes políticos.

De acordo com o estudo encomendado pela SIC e o Expresso ao ICS e ao ISCTE, o PS recolhe 35% das intenções de voto — pode significar entre 92 e 106 deputados e, por sua vez, o PSD obtém 33% — pode dar entre 87 e 101.

As outras sondagens são relativamente unânimes: a da Universidade Católica para a RTP e o Público apresenta os mesmos resultados e a da Pitagórica — para a TVI/CNN —  é ligeiramente desfavorável ao PSD (aqui tem 31,7%) e favorável em igual proporção ao PS (36,7%). O modelo desenvolvido pela Rádio Renascença — que agrega todos os dados destes estudos — assim o comprova.

Apesar da tendência de queda do PS e de crescendo do PSD nas últimas semanas, uma coisa é certa, nenhum estará sequer perto de atingir a maioria absoluta — desejada pelo PS — que assim se vê obrigado a falar com os partidos à esquerda — e ignorada pelo PSD — que concorreu já com a noção de que teria de conversar com os parceiros à direita. Pelo meio, há ainda a possibilidade de se unirem num eventual bloco central.

É à margem dos dois principais candidatos, porém, que as coisas se complicam, já que as sondagens dão valores díspares para os restantes partidos. Algumas dão um maior ascendente à IL, outras colocam-na no mesmo patamar que Chega, CDU e BE. Há ainda estudos que apontam para uma nova maioria de esquerda, ainda que periclitante.

O que parece ser unânime, porém, é a composição da “liga dos últimos”. Todas apontam para as quedas do CDS-PP e do PAN face às legislativas de 2019 e para a estabilização do voto no Livre, apesar dos conturbados últimos três anos. Resta saber se ainda haverá espaço para uma surpresa da parte de “outsiders” como o Volt, o Aliança, o RIR, o MAS, o JPP, o MPT e o Nós, Cidadãos.

Que conclusões podemos tirar daqui? É incerto ainda, até porque há duas fortes incógnitas que poderão mudar substancialmente os resultados finais:

  • A ainda significativa percentagem de indecisos: A sondagem SIC /Expresso aponta para 11% de potenciais eleitores que ainda não sabem em quem votar. Já no estudo para a TVI/CNN, o número é ainda maior, tratando-se de 15,8%.
  • A abstenção e os confinados: O velho fantasma da não-participação ressurge nestas eleições, agravado pela situação pandémica. Por um lado, é possível que uma boa parte dos confinados não façam uso do seu direito de voto recentemente assegurado; por outro, é possível também que haja pessoas temerosas de ir às urnas por medo de serem infetadas, apesar das garantias dadas pelas autoridades.

Encaminhando-nos para a reta final da campanha — termina hoje, recorde-se, porque este sábado será reservado para o dia de reflexão —, é improvável que as ações dos partidos que ainda vão decorrer mexam muito o ponteiro (se bem que, como a História nos demonstra, não seria impossível). Dependerá em grande medida dos últimos trunfos a sacar.

O histórico é favorável à esquerda, que soma nove maiorias no Parlamento face às seis da direita desde o início do regime democrático, mas isso quer dizer pouco ou nada. Se no futebol o jogo só acaba quando o árbitro apita, estas eleições podem valer até ao último voto.

 
 
 
 

Os temas quentes da campanha

 
 
  • O dia das arruadas: Na política, se a imagem não é tudo, conta muito. Por isso mesmo, PS e PSD reservaram o último dia da campanha para fazer uma derradeira arruada em Lisboa. Primeiro seguiram-se os socialistas, com António Costa a pontuar a caminhada pelo Chiado pedindo uma "mobilização total" até domingo prometendo "um combate sem tréguas" contra a precariedade laboral e acusando Rui Rio de andar “muito empolgado” a declarar vitória, estando precocemente “decretar por antecipação resultados” e a escolher ministros. Já o líder social-democrata, que mais tarde fez um percurso semelhante, parece mesmo crente na sua vitória, dizendo que Marcelo Rebelo de Sousa deve chamar para formar Governo o líder do partido mais votado nas eleições, mesmo com uma maioria contrária — contrariando, assim, de forma premeditada a formação de uma nova Geringonça;
  • Um "acordo de cavalheiros" em cima da mesa?: As palavras foram proferidas pelo atual ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, que num debate na CNN Portugal disse poder ser necessário um "acordo de cavalheiros" entre PS e PSD para viabilizar soluções minoritárias de governo. Ora, Rui Rio aceitou estas palavras de bom grado, considerando a frase do governante "uma declaração civilizada e que ajuda francamente à governabilidade". Quem não gostou foram os partidos que podem ser deixados de parte nesta negociação ao centro. "O PSD sem nós fica demasiado parecido com o PS”, reagiu João Cotrim de Figueiredo, da IL, que descarta totalmente acordos do género. Já Jerónimo de Sousa acusou os dois partidos de ter uma "decisão já tomada" para “poderem governar à vontade”. Da parte de Catarina Martins, insistiu que um acordo de tal natureza apenas poderá ser contrariado ao dar força ao BE.
  • As lutas pela sobrevivência: Este último dia de campanha é também marcado pelos últimos esforços de Inês Sousa Real, pelo PAN, e de Francisco Rodrigues dos Santos, pelo CDS-PP, de tentar assegurar uma boa votação no domingo. Sem o antigo porta-voz, André Silva, ou os fundadores na campanha, a dirigente do partido ecologista e animalista defendeu que essa “é uma não questão para o PAN”, já que “as pessoas não querem ouvir tricas nem trocas entre os partidos" e sim “soluções e respostas para o país”. Já o presidente centrista, embrulhado numa disputa pela liderança do CDS-PP apenas atrasada pelas eleições, rejeitou hoje que o partido esteja dividido, considerando que essa é uma ideia “rigorosamente falsa”. Além disso, às sondagens que lhe apontam um resultado baixo, respondeu que se tratam de “partidas de carnaval”.
 
 

Ainda a marcar a atualidade

 
 
 
 
Patrícia Reis
 
 

Defendo há muito que o voto deve ser obrigatório. Num país com a nossa História, a palavra “obrigatório” é sempre um atentado e capaz de gerar emoções extremas. Continuar a ler