1. As orquídeas do senhor Pekka

Cahleya mossiae
Cahleya mossiae Cahleya mossiae créditos: PAULO RASCÃO / MADREMEDIA

Esta orquídea foi fotografada na estufa do rei Luís I, em Lisboa. Pertence ao senhor Pekka, um finlandês de cuja família fazem parte a mulher, os seis filhos e as 10 mil orquídeas que povoam uma pequena estufa no Jardim Botânico da Ajuda, em Lisboa.

Paulo Rascão esteve o dia inteiro a fotografar as orquídeas, montando uma espécie de estúdio na antiga estufa do rei. Sempre que fotografava uma flor, o senhor Pekka tinha um ataque de nervos.

Esta em concreto era a mais frágil. Paulo queria fotografá-la desde que a vira. Porém, durante todo o dia o senhor Pekka recusava. “Todo o dia ele me disse para não o fazer”.

“Era ele que as punha em cima da luz, mas tinha um ataque” de cada vez que o fazia, explica o fotógrafo do SAPO24. Foi preciso todo o dia para convencer o senhor Pekka a deixar esta orquídea ser fotografada, depois de garantir de que nada de mal lhe aconteceria.

Veja todas as imagens e leia aqui a reportagem com as orquídeas do senhor Pekka.

2. Perder o balão

créditos: PAULO RASCÃO / MADREMEDIA

Miguel Morgado e Paulo Rascão foram até Coruche, ao Festival internacional de Balonismo. Foram cedo, de madrugada, para ver como se montava o balão, como se enchia a estrutura que os levaria pelo ar.

Os balões começaram a sair. Era preciso uma imagem dos balões a levantar voo e, por isso, Paulo combinou ficar durante mais algum tempo, antes de arrancar num outro balão, dedicado à imprensa.

Todavia, o espaço era limitado. Cabiam três pessoas, embora apertadas. Surge um jornalista da rádio, que precisava de fazer um direto a partir do ar. A equipa tinha de se separar.

Porém, enquanto as negociações decorriam, todos os outros balões levantavam e, no fim, só havia espaço para o colega da rádio e para o fotógrafo. Miguel ficou sem balão e o SAPO24 sem reportagem.

Os balões só podem voar em duas alturas do dia: de manhã e ao fim da tarde. A hipótese foi, então, Miguel ficar todo o dia sozinho em Coruche, à espera da hora certa para levantar voo num balão, sem fotógrafo, mas com história.

Veja todas as imagens e leia aqui a reportagem em Coruche.

3. Desistir, drogar, sentir, abraçar

créditos: PAULO RASCÃO / MADREMEDIA

Em maio, Rute Sousa Vasco, Inês F. Alves e Paulo Rascão meteram-se ao caminho. Caminho de Fátima. Saíram de casa às seis da manhã, devendo chegar à Póvoa de Santa Iria (à saída de Lisboa) por volta da hora de almoço.

A chegar à Póvoa, uma rampa. O primeiro monte, o primeiro desafio. Rute Sousa Vasco, diretora do SAPO24, “que não estava minimamente preparada” para a peregrinação, atira Paulo, chega ao fim da subida e anuncia: “acabou”. Estava calor; faltava o almoço. “Vamos voltar para trás, acabou aqui a peregrinação”, diz.

Não terminou de imediato. O grupo foi almoçar numa igreja e é lá que surge uma assombração. É este homem da imagem. Um morto vivo chamado Paulo, o homem que viveu duas vezes mas só se apaixonou uma.

Paulo teve outra vida antes da que hoje leva com Filipa. Essa vida acabou. Um coma alcoólico deitou-o no hospital por dois meses. Ao fim deles, morreu. O cangalheiro estava à porta e o médico assinava a certidão de óbito quando, de súbito, o homem acordou. E viveu. E vive.

Foi ao saber da história, ao saber das vidas do Paulo e da Filipa, que Rute Sousa Vasco viu que a peregrinação não acabava ali.

créditos: PAULO RASCÃO / MADREMEDIA

A equipa do SAPO24 continuou. Seguiu. Persistiu. Aguentou. Mas naquela caminhada não se vive, sobrevive-se.

Sobrevive-se à base de drogas, mezinhas. É a química a tratar da fé. Ou a religião a ajoelhar-se à ciência. O altar é a farmácia. O cura o farmacêutico. A cura benção. A dor é amor, é devoção. Quanto maior, melhor. Ainda que anestesiada pelas moléculas, pelas mezinhas dos laboratórios, em unguentos, ou aerossóis; em compressas ou pastas quentes. Em agulhas que entram na carne como a Virgem na alma.

À chuva tudo piora. Exaspera. Exagera. Desistir parece a única hipótese quando à volta sibilam as ladainhas dos crentes. Deus quer, o homem anda, a dor nasce. Quererá mesmo?

Esta imagem é síntese das interrogações. Das vontades. Das fronteiras da história. Pela história, o jornalista vai ao fim da rua e ao fim do mundo. Mas, e ao fim de si, deve ir?

Se for, pode encontrar a redenção. Ou acabar apenas ressacado, com cheiro a Voltaren, Halibut e pastas análogas.

créditos: PAULO RASCÃO / MADREMEDIA

Se for, pode acabar num santuário expectante. Vem o papa. Vêm as canonizações. Vem o fim da prova. À chegada, abraçam-se. É o “abraço Mariano”, chamam-lhe. “Mais do que um cumprimento, é a celebração de um objetivo cumprido”, explica Inês F. Alves.

Que objetivo se cumpre? Todos, ou só aquele. Só chegar. Ou só estar lá, para aquela fotografia que resume, em duas dezenas e meia de megapixeis, uma oração para desistir, drogar, sentir, abraçar — resistir.

Pode ver as restantes imagens e ler o diário da peregrinação a Fátima aqui.

4. Uma foto em três minutos

créditos: PAULO RASCÃO / MADREMEDIA

“Eu enjoo e fui para a Madeira fazer uma prova no mar”. Com esta frase de Paulo Rascão está quase explicada toda a história desta fotografia, que mostra mar, um barco voador, e o Funchal como pano de fundo.

Foi em julho. Miguel Morgado e Paulo Rascão seguiram para a ilha atrás dos “barcos que voam”. Se Miguel “adora vela, não enjoa, parece um peixe” e está “sempre pronto para ir para dentro do barco”, já Paulo fica enjoado cada vez que tira os pés de terra firme.

“Já lá estávamos há três dias e tinha-me sempre escapado de ir para dentro de água”, porém, sempre é chegado o tempo derradeiro, a hora última sem desculpa, assomada ao topo do destino com a necessidade de fazer uma fotografia.

Com a necessidade, a sorte. Havia pouco vento e os barcos andavam devagar. Era a última oportunidade para o fotógrafo do SAPO24 seguir no barco da imprensa.

“Entro no barco em pânico”, recorda Paulo. Porém, a sorte que levou os portugueses a descobrir a Madeira perdura naquela baía funchalense. Nem há dois minutos estava Paulo no mar quando acontece isto. O barco levanta voo. Não aquele em que seguia o fotógrafo, mas aquele que seguiam os olhos dele — e a câmara.

Em dois dias, não tinha acontecido semelhante manobra. Não importa. Era o bastante. Era o ideal e o desejado. Feito o trabalho, três minutos depois do início da viagem, Paulo pedia para regressar a terra.

Os outros fotógrafos admiravam-se com a rapidez do trabalho. Mas a eficiência é inquestionável.

Veja todas as imagens e leia aqui a reportagem no Funchal.

5. Por fim, apaga-se

créditos: PAULO RASCÃO / MADREMEDIA

Paulo Moura e Paulo Rascão chegaram a Pedrógão Grande ao final do segundo dia do incêndio de junho. Naquela altura, as estradas cortadas eram uma das principais dificuldades para chegar às zonas afetadas.

Os jornalistas do SAPO24 chegaram a um posto de comando, onde se depararam com duas opções: ou ficavam ali, com todos os outros jornalistas, às espera de que chegassem informações, ou partiam sozinhos para fazer reportagem.

Escolheram a segunda. Mas a noite, as estradas interditadas e o desconhecimento do terreno tornaram difícil a tarefa. Foi, então, já no outro dia, que conseguiram fazer o reconhecimento do local.

“Um das primeiras pessoas que encontramos foi este homem”, explica Paulo Rascão. O homem é Vitor Managil, o dono do pinhal. Estava com outros três homens. Tentavam — em vão — apagar o fogo com uma pequena mangueira, um pequeno trator de sulfatar.

“Estivemos lá duas horas com ele; a acompanhar aquele esforço inglório”, explica o fotógrafo. Depois, seguiram o rasto das chamas. Foram ao lugar onde tudo começou, estiveram à conversa com o padre da zona.

Quase oito horas depois, já no final do dia, por engano, foram ter novamente ao pinhal aonde o homem apagava fogo. A luta continuava. “Lá estava o mesmo homem, com a mesma mangueirinha, a apagar o mesmo fogo”, conta Paulo Rascão.

A sair dali, encontraram bombeiros. Explicaram-lhes a história dos homens que apagavam o fogo no pinhal com uma máquina de sulfatar. “Dez minutos depois, os bombeiros estavam lá”. A imagem é a desse homem, de corpo derrotado mas alma liberta, deitado sobre o terreno queimado, enquanto os bombeiros deitam água para cima.

Veja as restantes imagens e leia a história completa aqui.

6. Censurar o ganso

créditos: PAULO RASCÃO / MADREMEDIA

Não é inocente o título. Também o não é a imagem, De todas as fotografias nesta seleção, esta imagem de Duarte Pio, pretendente ao trono português, é a única inédita. Inédita porque não foi antes publicada, nem quando a entrevista de Miguel Morgado a Duarte Pio foi publicada, no início deste mês, a propósito da mensagem que o representante da casa real portuguesa faz ao país por ocasião do 1.º de Dezembro, data da Restauração da Independência aos espanhóis, em 1640.

No dia da entrevista, Paulo Rascão não foi com Miguel. Estava nessa mesma hora na apresentação de uma biografia do General Ramalho Eanes (de Isabel Tavares, também jornalista do SAPO24). Faltou, assim, ao encontro com o monárquico por estar num evento “onde estavam os republicanos todos do país”, explica.

Foi ter com ele mais tarde. E quando entra na casa de Duarte, em pleno Chiado, é recebido pelo pato. Esse pato cuja sombra ocupa o centro da imagem.

“Foi o primeiro e o último tiro da minha Isabelinha”, explica o monárquico, enquanto apresenta o pato que figura imponente, embora empalhado, no centro da sala de Duarte Pio. Isabelinha é Isabel Herédia, a mulher do pretendente ao trono nacional. “Estava tudo a correr bem até que a nossa editora decidiu censurar a foto”, atira Paulo Rascão.

A editora, sublinhe-se, é a mesma que agora recomendou a inclusão da imagem nesta seleção. O motivo por que foi excluída é simples e reside nos meta-significados do enquadramento.

É neles que se percebe que um fotógrafo não é somente alguém que pega numa câmara e faz um retrato do que está à frente. Um fotógrafo mostra o que vê. Olha e constrói o que vê. Não falamos de edição de imagem, mas da própria composição, do ângulo que, não só nos permite ver o que aconteceu, como nos indicia o sentir do que se passou.

E o que esta imagem mostra é a força masculina. É o elogio da virilidade, a transmissão do orgulho de Duarte Pio a descrever a caçada da sua mulher, da sua Isabelinha, que, com um tiro, matou aquele bravo pato; aquele mesmo que ora jaz no meio da sala.

7. Forcados

créditos: PAULO RASCÃO / MADREMEDIA

Era a corrida do emigrante, ali no Campo Pequeno, em Lisboa. À porta, protestos contra os espetáculos tauromáquicos. Miguel Morgado e Paulo Rascão foram lá para contar a história dos forcados. O cerimonial daqueles homens que se metem diante de um animal ensanguentado.

Combinaram acompanhar tudo. “Mesmo tudo”, sublinha Paulo. Para isso, encontraram-se à porta do Hotel com o Grupo de Forcados Amadores do Montijo. “Queremos fotos deles a vestirem-se”, explica Miguel ao cabo. Para isso, há que saber em que quartos se vão vestir os homens, duas dezenas deles.

Quartos? Para se vestirem, só precisam de um quarto — e de um longo corredor. “Viemos a descobrir que foram todos para o mesmo quarto”, recorda Paulo Rascão.

Todos no mesmo quarto exíguo. “Às tantas estamos nós com 23 gajos a vestirem-se num quarto de hotel minúsculo”, explica o fotógrafo. Era o 218. É esse quarto que vemos aqui. São estes homens, horas antes de se porem voluntariamente diante de um touro que por instinto se vai lançar sobre eles.

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8. As pernas da volta a Portugal

créditos: PAULO RASCÃO / MADREMEDIA

O SAPO24 acompanhou a Volta a Portugal em Bicicleta. Durante esta edição, discutia-se a presença das meninas que dão beijinhos aos vencedores. Na Vuelta, do outro lado da fronteira (onde o SAPO24 também esteve, embora com outro fotógrafo), passaram a existir equipas mistas na entrega dos prémios. Cá, ainda resistem as meninas da Volta.

Durante o Tour, a Volta a França, uma imagem correu o mundo. São as pernas do polaco Pawel Poljanski, depois 2.829 por França. As veias, os músculos do ciclista impressionaram.

Era tudo isto estava na cabeça de Paulo Rascão quando, no alto da Senhora da Graça, fez esta imagem. “Decidi fazer uma foto das pernas de todas as meninas em vez das pernas do ciclista”, explica o fotógrafo.

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9. Maravilhoso Marco Paulo

créditos: PAULO RASCÃO / MADREMEDIA

A Volta a Portugal acabou em Viseu, onde estava a Feira de São Mateus, certame histórico na cidade de Grão Vasco. No dia em que acabava a Volta, atuava Marco Paulo.

Miguel Morgado e Paulo Rascão decidiram que tinham de fazer uma reportagem com o artista. Marco Paulo recebe os jornalistas do SAPO24 no camarim. Assistem aos abraços aos fãs, aos autógrafos, mesmo aos cachecóis falsos.

Esta imagem é no fim desse concerto em Viseu, no Interior do país. Marco Paulo está a falar com um dos elementos do coro. “Ele é claramente um artista do Interior”, conta Paulo Rascão.

No fim da tourné dos 50 anos de carreira do artista português, Paulo e Miguel assistiram ao derradeiro concerto, na Altice Arena, em Lisboa. Era o terceiro concerto de Marco Paulo na capital.

“Durante 50 anos, ele só tinha atuado uma vez em Lisboa”. É que, para além do último concerto no Parque das Nações, a volta a Portugal do cantor arrancou também naquela cidade, embora noutra freguesia, no Campo Pequeno.

No Interior, diz, Paulo, o concerto “foi muito mais genuíno”. No fundo, “é como a chanfana de cabrito, não deves comer noutro lado que não o Interior”.

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10. Pole position para a sandes de porco

créditos: PAULO RASCÃO / MADREMEDIA

Em setembro, Paulo Rascão e Pedro Soares Botelho (que assina este texto) foram até ao Autódromo Internacional do Algarve para uma etapa do Campeonato do Mundo de Superbike.

Esta imagem, todavia, não mostra quaisquer motos. Essas andavam na pista, para trás e para diante, cirandando a estonteantes velocidades. No paddock (a zona interior da pista), porém, havia uma outra corrida, porventura mais vagarosa.

Era a corrida ao porco. Porco no espeto. Eram na verdade quatro, em enormes assadores, postos debaixo da janela do centro de imprensa da pista algarvia. Lá de cima, os jornalistas viam uma enorme fila serpenteando carros, em direção à carne, à sombra do edifício, sob o sol de setembro.

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11.  Há uma linha que separa o senhor autarca

créditos: PAULO RASCÃO / MADREMEDIA

Esta imagem surge numa entrevista, no âmbito das eleições autárquicas deste ano. O SAPO24 fez uma série de entrevistas aos candidatos mais mediáticos da corrida e neles figurava Fernando Seara, ex-autarca sintrense, este ano candidato social-democrata à câmara de Odivelas.

A entrevista foi conduzida por Miguel Morgado e Pedro Soares Botelho. As perguntas eram de futuro, mas também de passado. Falámos de Sintra, do IC19, do casario da periurbe, das cerejas da Casa do Concelho de Resende e do que ficou por fazer na vila que é património da UNESCO.

“Faltou o hospital”, atirava Pedro. “E estacionamento”, reforçava. A isto, Seara respondia que não era seu objetivo justificar-se pelo que se passou em Sintra. A conversa era sobre Odivelas. Mas ainda assim, explicou que fez tudo o que pôde em Sintra.
Esta era a entrevista em cima da mesa. Debaixo dela, havia outra, explica Paulo Rascão, que se sentava ao lado, de câmara em punho. Seara, “estava sempre a bater com os pés, sempre que se entusiasmava batia o pé”, conta o fotógrafo.

“Havia duas entrevistas, uma em cima da mesa e outra debaixo, esta mostra os dois mundos”.

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12. Paramédicos

créditos: PAULO RASCÃO / MADREMEDIA

Depois de Pedrógão Grande, o SAPO24 acampanhou os Paramédicos de Catástrofe Internacional até Mação. Inês F. Alves e Paulo Rascão foram de Lisboa a Mação em marcha de urgência, entre o carro de comando e uma ambulância. Tal foi a viagem que os piscas do carro de reportagem bloquearam.

As histórias de quem se refaz do que fica do fogo são muitas. Esta imagem em particular, contudo, conta outra. Aqui, os operacionais dos Paramédicos de Catástrofe Internacional aguardam instruções no centro de saúde de Mação.

Neste mesmo centro, nas caves dele, acabaram por acampar. Dormiram eles, dormiram os jornalistas e dormiram os elementos do INEM. Na manhã seguinte, aguardava-os o fogo e as histórias do que o lume levou.

Vejas as restantes fotografias e leia a história aqui.