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Newsletter diária • 11 jul 2022

 
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Quando a temperatura sobe

 
 

Por António Moura do Santos

Provavelmente não é necessário que alguém lhe diga isto, mas está calor, muito calor. Mesmo tendo em conta que as regiões do litoral oeste vão hoje sentir uma ligeira descida da temperatura ("descida" com muitas aspas, já que para Lisboa, por exemplo, a previsão é de máxima de "apenas" 33 graus), no resto do país a temperatura máxima vai variar entre os 39 e os 42 graus.

É que esta "trégua" vai durar pouco: as temperaturas vão subir ainda mais até ao fim da semana. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera alerta que até dia 17, deverão alcançar-se valores entre os 42 a 45 °C no Alto Alentejo, Vale Tejo e em alguns locais do Alto Douro, Estremadura e Beira Litoral.

Ora, tempo extraordinariamente quente e seco em Portugal — particularmente no verão — significa uma coisa: risco de incêndio. É por isso que Portugal continental entrou hoje e até as 23:59 de sexta-feira em situação de contingência, devido às previsões meteorológicas dos próximos dias que apontam para o agravamento do risco de incêndios rurais.

Se o termo "situação de contingência" lhe faz recordar alguma coisa, sim, foi o mesmo usado durante alguns dos períodos mais intensos da pandemia, apenas ultrapassado pelo "estado de emergência". Isto, porém, não significa que precisaremos de cumprir confinamentos nem nada do género; é “o imediato acionamento de todos os planos de emergência e proteção civil nos diferentes níveis territoriais", como declarou o Ministério da Administração Interna (MAI).

Este estado mais severo implica também passagem ao estado de alerta especial de nível vermelho do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (DECIR), para todos os distritos, com mobilização de todos os meios disponíveis, e “o reforço do dispositivo dos corpos de bombeiros com a contratualização de até 100 novas equipas, mediante a disponibilidade dos corpos de bombeiros”.

Existirá ainda a elevação do grau de prontidão e resposta operacional, por parte da GNR e da PSP, com reforço de meios para operações de vigilância, fiscalização e patrulhamentos, e o grau de prontidão e mobilização de equipas de emergência médica, saúde pública e apoio social também será aumentado.

Além disso, haverá igualmente a “mobilização em permanência” das equipas de sapadores florestais, corpo nacional de agentes florestais e vigilantes da natureza que integram o dispositivo de prevenção e combate a incêndios, além de um reforço da capacidade de atendimento do serviço 112.

Mas se não há restrições à liberdade de circulação em geral, tal não implica que não sejam implementadas medidas de caráter excecional: durante esta fase, estará vigente a proibição do acesso, circulação e permanência no interior dos espaços florestais e proibição de queimadas e trabalhos nos espaços florestais com uso de maquinaria, com exceção dos associados a situações de combate a incêndios rurais, bem como do uso de fogo-de-artifício, entre outras restrições. Pode consultar a lista completa de medidas, aqui.

A situação é delicada ao ponto de Marcelo Rebelo de Sousa se ter ontem reunido no Centro de Coordenação Operacional Nacional (CCON) da Proteção Civil. O Presidente da República ainda terá bem presente na memória — assim como o Governo e todos nós — os incêndios de 2017 e a mortalidade que causaram. É por isso que o chefe de Estado sublinhou que os portugueses "têm de ter a noção de que todos estão, à sua maneira, no teatro de operações em termos potenciais", porque dependendo daquilo que façam, "a floresta pode ter condições para arder — e agora há uma parte [da floresta] que tem muitas condições para arder".

É também devido à gravidade do momento vivido que António Costa adiou uma viagem oficial a Maputo, optando antes por ir Coimbra, Lousã e Viseu para verificar no terreno a operação e dar visibilidade a todos os recursos e meios para o combate aos incêndios. "Hoje o país está mais preparado do ponto de vista estrutural, mas isso não diminui a responsabilidade que todos temos de evitar incêndios", disse, esta manhã.

De momento, enquanto estas palavras vão sendo escritas, estão em curso 28 incêndios florestais, a serem combatidos por 1409 operacionais. O objetivo é que o primeiro número não aumente e que o segundo não suba também em resposta.

Veja aqui o nosso acompanhamento quanto aos principais fogos em Portugal.

 
 
Marco Neves
 
 
 
 

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