"Mais um dia difícil para a família sportinguista", começou Bruno de Carvalho, momentos depois de ser conhecida a rescisão do holandês Bas Dost. O líder do clube de Alvalade confirma a receção dos pedidos de rescisão por justa causa, mas afirma que não têm fundamento.

Bruno de Carvalho admite também a demissão imediata, pedindo para isso o compromisso dos jogadores que querem sair, para que recuem nas rescisões e joguem no Sporting, mesmo que seja reeleito.

"Se o problema é este Conselho Diretivo, basta os atletas escreverem uma carta dizendo duas coisas: uma é que, se esta direção se demitir voltam atrás rescisões e jogam no Sporting. E outra é que, se voltarmos a candidatar-nos e ganharmos, continuam a valer estas premissas", afirmou.

"Basta ver essa carta, não de um, dos seis e, na hora, demitimo-nos".

O presidente do Sporting disse ainda que as rescisões de contrato apresentadas pelos seis futebolistas, alegando justa causa, na sequência das agressões na Academia de Alcochete, não têm fundamento.

"Estas rescisões não têm fundamento de justa causa. (...). Há aqui uma situação de chantagem, que não me parece quee seja para levar até ao fim, tão fraca é a argumentação. Estes processos não são para levar até ao fim", defendeu esta noite Bruno de Carvalho.

Bruno de Carvalho afirmou ainda que deixará o cargo se estes jogadores manifestarem por carta que voltam atrás e que se mantêm no Sporting, na condição de o presidente do Sporting se demitir.

De acordo com o código do trabalho, a declaração de resolução do contrato por justa causa deve acontecer nos 30 dias subsequentes aos factos que a justificam, pelo que até quinta-feira, 14 de junho, outros jogadores do plantel profissional do Sporting poderão rescindir.

Bruno de Carvalho diz também que está disponível para convocar eleições se os sócios do clube assim pedirem. No final das declarações à imprensa, durante as perguntas dos jornalistas presentes em Alvalade, era possível ouvir gritos. A imprensa no local dizia tratar-se de insultos ao Conselho Diretivo.

"A sala de conferência de imprensa estava fechada, mas os adeptos do lado de fora tentaram forçar a entrada", escreve o jornal digital 'Observador'.

O presidente do clube assume que possam surgir ainda mais rescisões, para além das seis até agora conhecidas.

A declaração à imprensa do dirigente leonino começou minutos depois de ser conhecida o sexto pedido para sair (de Bas Doste) e surge horas depois de terem sido conhecidas mais três rescisões no plantel de Alvalade. Os portugueses Gelson Martins, William Carvalho e Bruno Fernandes rescindiram hoje os seus contratos com o Sporting alegando justa causa. SAD já comunicou à CMVM a rescisão dos jogadores.

O jornal Record, que avançou com a notícia, adianta ainda que esta semana é decisiva para o processo, visto que o prazo legal para as rescisões por justa causa termina já quinta-feira, 14 de junho (30 dias após o ataque ao plantel na Academia de Alcochete).

Os leões já comunicaram a decisão dos jogadores à CMVM - Comissão do Mercado de Valores Mobiliários. Em comunicado, o clube confirma as resoluções de contrato por justa causa.

Nas três notas iguais, o clube informa o mercado que "recebeu, na tarde de hoje, por email, documento subscrito pelo jogador (...) nos termos do qual este comunica a resolução do seu contrato de trabalho desportivo, com invocação de justa causa. A referida comunicação, os seus efeitos e consequências estão a ser objecto de analise pela Sociedade".

A decisão do trio — que se junta a Rui Patrício e Daniel Podence que rescindiram unilateralmente com o clube de Alvalade — acontece depois de Bruno de Carvalho ter incentivado os jogadores a avançarem com rescisões, através de um post no Facebook, publicado no dia 9 de junho.

Nessa publicação, o presidente dos leões disse estar "farto de chantagens de alguns advogados e agentes. O Sporting CP, enquanto eu for Presidente, não vai negociar nenhuma renovação ou venda - a não ser as já previstas - até 15 de Junho. Por isso, se querem chantagear com rescisões, rescindam já, pois nunca vos será dada razão e eu não cederei a chantagens. Se é para fazer, façam já, e, em termos legais, cá estaremos para defender a verdade e o Sporting Clube de Portugal. Se não é isso que querem, mandem parar os vossos advogados e agentes", escreveu.

O clube de Alvalade vive momentos conturbados que culminaram na saída de Jorge Jesus para Al-Hilal e com as rescisões já confirmadas de Rui Patrício e Daniel Podence — tendo Bruno de Carvalho anunciado inclusivamente que avançou com processos crime contra ambos os jogadores.

A crise no Sporting teve início em 15 de maio, quando cerca de 40 pessoas encapuzadas invadiram a Academia do Sporting, em Alcochete, e agrediram alguns jogadores e elementos da equipa técnica.

A GNR deteve no mesmo dia 23 dos atacantes, que ficaram em prisão preventiva depois de terem sido ouvidos no tribunal de instrução criminal do Barreiro. Dias mais tarde, a 6 de junho, outras quatro pessoas foram detidas por suspeitas de comparticipação na invasão de instalações e agressões aos futebolistas e equipa técnica.

Entre estes quatro detidos, que ficaram em prisão preventiva, estão o ex-líder de claque do Sporting Juventude Leonina Fernando Mendes e o condutor e os ocupantes da viatura que no dia das agressões entrou nas instalações da Academia do Sporting em Alcochete e retirou alguns dos alegados agressores.

Paralelamente, no âmbito de uma investigação do Ministério Público sobre alegados atos de tentativa de viciação de resultados em jogos de andebol e futebol, tendo como objetivo o favorecimento do Sporting, foram constituídos sete arguidos, incluindo o ‘team manager’ do clube, André Geraldes.

Na sequência destes acontecimentos, os elementos da Mesa da Assembleia Geral (MAG), a maioria dos membros do Conselho Fiscal e Disciplinar (CFD) e parte da direção apresentaram a sua demissão, defendendo que Bruno de Carvalho não tinha condições para permanecer no cargo.

De seguida, realizaram-se reuniões da MAG demissionária e membros do CFD com a direção, que culminaram com a decisão anunciada por Jaime Marta Soares de marcar uma Assembleia Geral para votar a destituição do órgão liderado por Bruno de Carvalho, agendada para 23 de junho, tendo ainda sido criada uma comissão de fiscalização para o CFD.

Entretanto, o Conselho Diretivo (CD) do Sporting decidiu por seu lado substituir a MAG e respetivo presidente através da criação de uma comissão transitória da MAG, que, por sua vez, convocou uma Assembleia Geral Ordinária para o dia 17 de junho, para aprovação do Orçamento da época 2018/19, aprovação de duas alterações estatutárias e análise da situação do clube e prestação de esclarecimentos aos sócios, e convocar uma Assembleia Geral Eleitoral para a MAG e para o CFD para o dia 21 de julho.

O braço de ferro entre as diferentes entidades prossegue e já chegou a tribunal, com o Tribunal Cível a considerar Jaime Marta Soares como legítimo presidente da Mesa da Assembleia Geral do Sporting e a validar a convocação de uma reunião magna para dia 23, apesar de faltarem os meios adequados para a realizar.

Já Bruno de Carvalho reitera que o encontro não terá lugar e desafia os sócios a apresentar nos serviços do clube um pedido de uma Assembleia Geral destituitiva do Conselho Diretivo, prometendo que a mesma se realizará no prazo de 8 a 10 dias.