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Um estilo de liderança partilhada, onde, em vez de existir um CEO, existem dois. Ambos atuam como diretores executivos simultaneamente, partilhando a responsabilidade de liderar a empresa, mas dividindo as tarefas e as áreas de especialização.

De acordo com um estudo publicado na Harvard Business Review em 2022, que analisou 87 empresas, as organizações lideradas por co-CEOs registam retornos anuais médios de 9,5% para os acionistas — comparados com 6,9% nas empresas com um único CEO.

A discussão sobre este modelo de gestão ganhou força com uma decisão estratégica da Salesforce, que promoveu Bret Taylor a co-CEO da empresa. O facto de tal ter acontecido numa das maiores empresas SaaS do mundo chamou a atenção de empresários e gestores em todo o setor.

Empresas como a NetflixOracle e Spotify estão a adotar o modelo de co-CEOs para enfrentar os desafios de um mercado cada vez mais complexo e dinâmico. Este modelo procura combinar competências complementares, melhorar a colaboração e reduzir a sobrecarga de decisões nas lideranças.

A estrutura é especialmente útil quando há duas pessoas com competências distintas. Os co-CEOs costumam dividir as responsabilidades com base nos seus pontos fortes, conhecimentos e interesses.

Apesar das vantagens e do retorno financeiro comprovado em várias empresas, este modelo de liderança também levanta algumas questões. Desafios como a ambiguidade nas decisões e a falta de clareza podem surgir. A confiança mútua e a colaboração são, por isso, essenciais para o sucesso deste modelo.

Será que a organização se torna um caos? Como se desempata uma decisão importante, especialmente naqueles dias em que não há total alinhamento?

Em Portugal, o caso mais mediático foi o da Galp: em abril, Maria João Carioca e João Diogo Marques da Silva foram nomeados co-CEOs da empresa. Segundo Paula Amorim, presidente do conselho de administração, ambos “demonstraram claramente a sua capacidade de liderar a Galp com excelência, combinando uma liderança forte e complementar”.

Outra empresa que segue este estilo de liderança é a Doutor Finanças, que também tem dois CEOs. Neste artigo, falámos com o fundador e com os co-CEOs da empresa para perceber melhor como está a correr a dinâmica e a organização, mais de meio ano depois da decisão de partilhar a liderança.

Um caso português

“O que nos trouxe até aqui não é o que nos vai levar daqui para a frente.” Foi com esta convicção que o então CEO do Doutor Finanças, Rui Pedro Bairrada, idealizou o modelo de liderança que hoje guia a empresa.

“A liderança partilhada permite-nos garantir foco e energia nas diferentes dimensões do negócio. O principal objetivo foi assegurar agilidade, capacidade de decisão robusta e uma estrutura de gestão à altura da nossa ambição.”, explicam Vanda de Jesus e Nuno Leal, co-CEOs do Doutor Finanças.

Os dois CEOs trabalham com o mesmo propósito, mas com focos distintos, enquanto o chairman assegura o alinhamento estratégico entre a gestão e os interesses dos acionistas.

“Este modelo permite-nos estar em dois lugares ao mesmo tempo, sem que a operação fique dependente da disponibilidade de uma única pessoa. É uma forma de garantir que a empresa avança com consistência e ritmo, mesmo perante desafios complexos”, afirmam os responsáveis.

Fronteiras e responsabilidades

Neste tipo de liderança, é fundamental estabelecer desde cedo quem faz o quê, a divisão de responsabilidades é fulcral para o bom funcionamento da organização.

A escolha dos dois CEOs teve em conta os seus perfis complementares. Sob a alçada de Nuno Leal estão as áreas comerciais: crédito habitação, crédito pessoal e consolidado, seguros, rede de franchising, imobiliário e PPR. Vanda de Jesus lidera as áreas de suporte ao negócio: tecnologia e inovação, área financeira, marketing, pessoas e cultura, academia e estratégia.

“Este modelo só funciona com uma separação clara de responsabilidades, elevada coordenação e organização. Nenhuma destas componentes vive sem a outra, e o alinhamento entre ambas é constante e essencial”, explica a liderança.

Quando há divergências…

“Comunicação, comunicação e mais comunicação.”

A organização sublinha que o modelo só funciona porque existe um alinhamento profundo entre os dois CEOs. A escuta ativa, a empatia e a partilha de perspetivas são constantes.

No processo de decisão, garantem que nenhuma decisão é tomada sem que ambos estejam confortáveis até porque, muitas vezes, estão a defender as mesmas ideias em fóruns diferentes. É essencial que o caminho e as soluções estejam claros para ambos, caso contrário, seria a receita para o insucesso.

Um exemplo concreto foi a discussão sobre os modelos de remuneração das equipas comerciais versus não comerciais.

“Partimos de realidades muito distintas, com necessidades e contextos diferentes, e conseguimos construir um caminho comum. O ponto de partida é sempre o mesmo: compreender o ponto de vista do outro. Só assim conseguimos chegar a soluções que ambos consideramos viáveis e que conseguimos representar com convicção em qualquer fórum”, lembram os CEOs.

Um modelo a seguir?

A empresa refere que pode parecer que o processo de decisão demora mais tempo e é verdade que as decisões estruturantes não são tomadas sem os inputs um do outro, mas o “resultado é muito mais robusto”. A Doutor Finanças considera que a qualidade da decisão compensa largamente o tempo investido.

“Seria muito complexo manter a estrutura anterior e ambicionar ir mais longe. A co-liderança garante a sustentabilidade do negócio, permite-nos crescer com consistência e preparar a organização para os desafios da próxima década”, conclui a organização.

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