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Cada ano, milhares de estudantes enfrentam a mesma questão: como financiar os custos do ensino superior. Entre bolsas públicas, apoios privados e créditos bancários, as opções são diversas, mas nem sempre fáceis de encontrar ou compreender.
As bolsas de ação social da Direção-Geral de Ensino Superior (DGES) são um dos principais instrumentos de apoio. Destinam-se a estudantes com dificuldades económicas comprovadas. De acordo com o Jornal de Negócios, no período de 2022/2023 foram atribuídas mais de 78 mil bolsas. Em 2024, houve mais de 108 mil pedidos de bolsas DGES.
Para a bolsa da DGES o requerimento de atribuição de bolsa de estudo deve ser submetido no período entre 25 de junho e 30 de setembro. É necessário a seguinte documentação: cartão de cidadão, declarações de IRS, IBAN, Valor do património imobiliário, cadernetas predial do imóvel, declaração de Modelo 22 do IRC e Certidão de Registo Comercial atualizada de todas as Sociedades por Quotas, das quais qualquer elemento do agregado familiar seja sócio.
As candidaturas podem ser efetuadas no site da DGES.
Além disso, existem bolsas de mérito para estudantes com classificações de excelência e apoios específicos para situações como deslocação, alojamento e necessidades especiais.
Para estudantes de doutoramento, a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) tem quatro tipos de bolsas que, segundo dados de 2022, abrangeram cerca de nove mil estudantes.
Para candidatura a doutoramento na FCT, submete-se o projeto de investigação e a proposta de doutoramento através da plataforma online da FCT, geralmente com o apoio de um professor orientador. A seleção é comunicada por e-mail e disponível na própria plataforma.
Algumas fundações privadas, como a Fundação Calouste Gulbenkian ou a Fundação Oriente, atribuem bolsas em áreas específicas, desde artes até estudos internacionais.
Na Fundação Calouste Gulbenkian há um total de 18 bolsas para usufruto no ensino secundário, estudos graduados e pós graduados, para profissionais e para artistas. O candidato submete a candidatura através do site ou plataforma da Fundação incluindo documentação exigida e, quando aplicável, plano de estudo ou projeto. A seleção é comunicada diretamente por e-mail ou através da plataforma da Fundação.
Linhas de crédito e descontos: como os bancos apoiam os estudantes
Os bancos têm vido também a adaptar-se às necessidades dos estudantes. Instituições como a Caixa Geral de Depósitos e o Santander disponibilizam linhas de crédito específicas para o ensino superior, com taxas de juros reduzidas e períodos de carência alargados.
"Para além do financiamento, os estudantes podem ainda beneficiar de bolsas e descontos em serviços ligados à vida académica", explicou ao 24notícias Micaela Vieira, gestora de particulares do Santander, em Lisboa. No caso desta instituição, a campanha dedicada às matrículas decorre entre 16 de agosto e 7 de setembro.
Durante este período, os jovens entre os 18 e os 25 anos podem abrir uma Conta Jovem e receber um bónus de 50 euros. A comissão de manutenção de conta pacote fica isenta até aos 26 anos, facilitando ainda mais a gestão financeira neste período crítico da vida académica.
Os descontos oferecidos pelos bancos também abrangem serviços como a Copitraje, para aquisição do traje académico, ou o British Council, para investimento em cursos de inglês. "São sempre um benefício para os jovens neste segmento", sublinha Micaela Vieira.
A Academia CMU Portugal, que resulta de um esforço colaborativo entre a NOVA FCT, o Instituto Superior Técnico, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e a Carnegie Mellon University, com o apoio da Fundação Santander Portugal, também atribui bolsas de estudo.
O testemunho dos estudantes
Mas como é viver com uma bolsa? Para Rita Borrega, estudante de Psicologia em Lisboa, natural de Campo Maior, no concelho de Portalegre, a ajuda da bolsa da DGES é essencial. Rita vive num quarto alugado, partilhado com outras três colegas e as despesas de alojamento, alimentação e transporte rondam os 600 euros por mês:
"Acabou por ter um impacto considerável na minha vida de estudante universitária. Não só foi uma grande ajuda para os meus pais no que toca ao pagamento das propinas, como também em diversas atividades com custos adicionais dentro da faculdade."
Já para Guilherme Ala, licenciado em Engenharia Física pela Universidade de Coimbra, a bolsa significou uma oportunidade de mergulhar na investigação científica. O processo de candidatura foi relativamente simples, através de um projeto de investigação ligado à empresa onde trabalha e à Universidade de Aveiro. A notificação de seleção acabou por chegar e na plataforma da FCT conseguiu ver que tinha sido selecionado:
"É ótimo ter uma fonte de rendimento, ser pago para realizar investigação, produzir mais-valia científica e obter um grau académico superior. Mas, por outro lado, não é equivalente a ter contrato: não há subsídios de férias, alimentação, nem descontos automáticos para IRS, e o contributo para a Segurança Social é voluntário. É preciso mesmo gostar do que se faz."
Guilherme destaca a incerteza inerente às bolsas: mesmo numa posição privilegiada, a ansiedade sobre o futuro é real. Muitos trabalhos de doutoramento não seguem exatamente como planeado, e colegas mais velhos, com família, vivem situações semelhantes de precariedade. Ainda assim, a paixão pelo trabalho científico e o contacto com o mundo empresarial tornam a experiência gratificante:
"Para já, fico feliz por poder trabalhar numa área que me dá gosto".
Desafios estruturais e redução de colocados
Apesar dos esforços das instituições bancárias e das universidades, o cenário do ensino superior em Portugal enfrenta desafios estruturais. Em 2025, o número de estudantes colocados na 1.ª fase do Concurso Nacional de Acesso foi de quase 44 mil alunos, segundo dados disponibilizados pela DGES, o que representa uma diminuição de 12,1% em relação ao ano anterior. Este decréscimo é atribuído, em parte, à crise demográfica e à redução do número de candidatos, que caiu para quase 49 mil nesta fase, menos 16,4% face a 2024.
Para a Associação Académica de Coimbra (AAC), este "desfecho infeliz" não foi surpresa. Em comunicado, a associação alertou para as greves insuficiências enfrentadas pelos estudantes:
"Há muito que alertávamos para as graves insuficiências na vida dos estudantes, nomeadamente no que diz respeito à ação social, com os preços médios da habitação a disparar uma vez mais, acompanhados pelo evidente aumento do custo de vida, num conjunto de outros domínios do quotidiano como a alimentação e a mobilidade, tornando-se impossível de negar a incapacidade de se proporcionar aos nossos estudantes as necessidades básicas para o seu sucesso académico."
A AAC sublinha ainda que a desafiante conjuntura socioeconómica, aliada a um processo de candidatura desajustado e impraticável, desencadeou este "cenário alarmante e negativo". Por isso, apelou ao ministro da Educação, Ciência e Inovação, Fernando Alexandre, e a todos os atores políticos-partidários e à sociedade civil para que reflitam sobre o problema e procurem soluções concretas e eficazes para o sistema educativo.
"Chegou o momento de, efetivamente, todos os jovens terem direito a estudar e a um futuro de sucesso em Portugal", conclui a Associação Académica de Coimbra.
Artigo editado por Rute Sousa Vasco
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