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Foi o livro Beekeepers Bible (A Bíblia dos Apicultores em tradução livre), encontrado em segunda mão na Amazon, que a fez voltar a Portugal e entregar-se à sua paixão de infância.

Joana Botto, fundadora de As Colmeias da Joana, é descendente de gerações de apicultores. Aos sete anos, o avô levou-a pela primeira vez ao apiário onde foi picada por uma abelha. A paixão desenvolveu-se, mas ficou em pausa durante alguns anos para estudar engenharia informática.

Assim, durante dez anos dedicou a vida à tecnologia, área que diz ainda gostar, mas aquela ferroada na infância plantou algo irreversível. Estava há quatro anos a trabalhar na Califórnia, para o LinkedIn, quando as saudades da família, dos amigos, da feijoada portuguesa, o amor pelas abelhas e a necessidade de mudança falaram mais alto e voltou para Portugal.

Nasce o projeto "As Colmeias da Joana"

Em 2018, cria As Colmeias da Joana. O primeiro apiário do projeto foi o do avô, "numa montanha" em Lousa, Loures, um local com forte carga emocional. Mas por causa do difícil acesso, mudou-se para um terreno vizinho, onde ainda se mantém até hoje.

O primeiro serviço que ofereceu foi a experiência do apicultor por um dia. O objetivo era atrair pessoas de todas as faixas etárias para o mundo das abelhas. Nesta experiência, até hoje, as pessoas vestem um fato de apicultor e vão, sob a liderança da Joana, conhecer as colmeias e a sua história.

Mas, como quase um mundo inteiro, durante a pandemia teve de se reinventar. Lançou o formato virtual Meet My Bees, uma visita guiada por streaming em tempo real ao apiário. No pós-confinamento, começou as ações em escolas e o inesperado resgate de enxames, não só de abelhas, mas também de vespas, mas já lá vamos.

O lema é claro: “Salvar os polinizadores através da educação". E para concretizar este mote, Joana não está sozinha, conta com uma equipa que descreve como “maravilhosa”: o braço direito Nuno, que a acompanha nas visitas e nos resgates e ainda Dora, Ana e Afonso.

Resgate de Enxames

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Quem diria que no meio de Lisboa se escondiam tantas vespas? Em casas, paredes, sótãos, janelas e chaminés, tudo é um bom lugar para criarem as colmeias e se esconderem de predadores. Tão inusitado quanto inesperado e, claro, por isso é um dos conteúdos mais populares da sua página de Instagram: o resgate de polinizadores.

Joana explica o processo ao 24notícias,  à suspeita de um destes insetos “podem contactar-nos por Instagram, WhatsApp, e-mail ou telefone.” Depois, a equipa pede uma foto ou vídeo da situação e identifica o tipo de inseto. Se for vespa asiática, o caso é encaminhado para o programa Stop Vespa e para as autarquias.

Na página de instagram vai partilhando as colmeias que encontra e chega a haver casos de centenas de insetos nos sítios mais improváveis, mas isso não os faz baixar os braços. “Gostamos dos casos difíceis”, diz, com um sorriso.

E, não obstante as partilhas nas redes sociais, retirar os animais é um processo sério e de muita concentração e, por isso, Joana rejeitou o pedido do 24notícias para a acompanhar. Em primeiro lugar a segurança de todos, abelhas incluídas.

As redes sociais tornaram-se uma parte importante do seu trabalho enquanto apicultora no XXI, mantém-se atenta às tendências. Num vídeo recente, por exemplo, explica como afastar vespas das piscinas, uma preocupação comum no verão. A prioridade é sempre a mesma: soluções que não impliquem matar.

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Paixão, conhecimento e entusiasmo contagiante

Nos comentários online de quem participa nas iniciativas, há três palavras que se repetem sobre Joana: paixão, euforia e conhecimento. A própria explica que sem entusiasmo é difícil chegar ao público.  “As pessoas sentem tudo. Se não estivermos entusiasmados, não entram connosco nesta viagem.”, revela.

Ao fim de sete anos, o balanço é positivo, mas exigente: “trabalhar sempre para melhorar.”

O melhor retorno são as mensagens que recebe: “Agora já não fujo das abelhas”;  “hoje partilhei o almoço com uma vespa” e “vejo os polinizadores de outra forma.” São mensagens que Joana lembra com voz emocionada e de orgulho.

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Curiosidades sobre mel, abelhas e vespas

Antes de terminar a entrevista, a apicultora deixa algumas curiosidades para atiçar a vontade de conhecer mais sobre o mundo das colmeias, dos polinizadores e do mel.

Começa por explicar que "nem todo o mel é doce" e que não existe só um tipo, "há mel de flores, mel de laranjeira, mel da praia e mel da montanha".

Sobre os animais esclarece a "Abelha Maia contribuiu para um erro comum", afinal a vespa é que é amarela com riscas pretas e a abelha é escura. Joana conta: "quando entramos nas salas de aulas e vemos os desenhos, dizemos: uauu, tanta vespa", esse momento serve para quebrar o gelo e daí começar a sua viagem pelo mundo dos polinizadores.

O projeto de Joana reflete a coragem de mudar de uma vida confortável para seguir o sonho de infância. A apicultora diz que há sempre um receio quando há mudança, mas encara isso como algo natural quando saímos da nossa zona de conforto.

Ao parar e refletir sobre a vida, não devia ser este o pensamento sempre?

Abelhas sem medo: educar desde pequenos

Em conversa com o 24notícias, Joana explica tudo o que o projeto oferece a crianças e a adultos. Nas escolas, trabalha turma a turma e leva sempre uma colmeia consigo. Muitas crianças dizem logo que não gostam de abelhas. Joana sorri. Essa resistência é o ponto de partida da sua missão.

“Vamos ver se no final da sessão ainda têm medo das abelhas”, desafia. Não é uma ameaça, é entusiasmo. Usa jogos, perguntas, curiosidades e interações. E quase sempre deixa-os fascinados.

Planos para adultos e provas de mel

Para os adultos, que, segundo Joana, até têm mais receio do que os mais novos, há várias experiências disponíveis. A atividade que iniciou o projeto é a estrela da companhia, a experiência apicultor por um dia, “chamamos-lhe por um dia, mas na verdade são só algumas horas", brinca. Os participantes são desde curiosos até pessoas que recebem um voucher surpresa sem saber o que vão fazer.

Há ainda as provas de mel que são um momento de troca e degustação entre pequenos apicultores. Há mel feito na montanha, mel da praia e sabores surpreendentes. “Mel para todos os gostos”, garante Joana. O evento acontece de três em três meses e, este ano, conta com uma novidade: cerca de 250 a 300 seniores de uma freguesia juntaram-se à experiência. “Estou muito entusiasmada”, afirma.

E, por fim, a Meet My Bees, mantém com menos frequência uma experiência online criada durante a pandemia. Quando durante uma hora, transmitia em direto a vida no apiário, para um público profissional, maioritariamente americano, que usava o momento como uma forma de teambuilding. Também participaram famílias e o feedback foi sempre positivo: aproximação, curiosidade e contacto com a natureza.

*Texto editado por Ana Maria Pimentel