Há um ditado português que diz: “podemos mudar de casa, de emprego, de partido, de cidade e de país, mas nunca mudamos de clube (de futebol)". Em Itália, a versão, dizem, é mais curta e objetiva. “Podemos ter mais que uma mulher, mas só temos um clube”.
Pierluigi Zagari (“Ciccio” como é conhecido) deu um pontapé no ditado italiano, mudando a sua substância, reduzindo a numérica num dos elementos, para acrescentar um dado novo.
Tal como canta Marco Paulo, também Pierluigi tem “dois amores”. No caso concreto, clubísticos, que preenchem o seu coração: Juventus e Sporting. E a culpa foi da mulher, portuguesa de gema, com quem travou amor à primeira vista e a quem nem meio ano demorou a pedir em casamento.
“Conheci a Sofia em Milão”, conta. Na altura trabalhavam no Citibank. “Durante o verão em que nos conhecemos, fiz de cicerone, escolhia os restaurantes em função da data de fecho destes para férias”, confidencia, recordando a fase inicial de enamoramento.
Passado o período estival, no outono, estava em Londres em trabalho e recebe uma chamada da colega de trabalho, futura mulher. O mote foi um convite para ver um jogo de futebol: o Milão recebia o Sporting a contar para a Taça UEFA. “Como tifosi da Juve para mim era como se estivessem a convidar para ver o Burundi contra o Burquina Faso”, solta uma gargalhada.
Com o casamento em marcha fica a conhecer o outro lado (prático) da máxima que nasceu na boca do povo italiano. E nasce, então, outro grande amor.
“A família toda da minha mulher é do Sporting. O padrinho de casamento e dos nossos dois filhos, Pedro Baltazar [antigo candidato à presidência dos 'leões'] influenciou-me na escolha — e de que de maneira. Logo, não podia ser de outro clube”, explica. “E repare: o [Giuseppe] Trapattoni foi um grande treinador da Juventus e foi para o Benfica... Mas eu fiquei do Sporting”, recorda.
Filhos treinam numa academia do Sporting e vestem o pijama da Juve à noite
Os filhos, Francisco e João, dividem-se nesta dualidade de amores clubísticos. Francisco, o mais velho, “nascido em Itália”, e João, que nasceu em Lisboa e é 100% 'tuga”, sublinha. A viverem na capital portuguesa, ambos treinam numa “academia do Sporting”. Só que à noite... “Vestem pijamas da Juve!”, desvenda.
O emblema italiano ocupa mais espaço na razão e emoção do filho mais velho. "O Francisco, no dia do sorteio ligou-me e disse: pai, apanhámos o Sporting. E ri". Já ao João, o símbolo do leão pesa mais no coração. Por isso, foi sem estranheza que informou o pai que ficaria inclinado para o primeiro jogo oficial a contar para as competições europeias entre as duas equipas, assumir o “compromisso diplomático” de, em Itália, torcer pela Juventus e em Portugal, assumir a veia leonina.
“Ciccio” estará hoje à noite em Turim para ver o jogo da Liga dos Campeões na companhia de Pedro Baltazar, o padrinho que teve uma quota parte de ajuda em cunhar o leão no peito desta família luso-italiana.
Hoje, Pierluigi irá torcer pelos bianconeri. Daqui a 15 dias mudará de camisola, sim, mas a tatuagem que tem no corpo permanecerá inamovível. Tem o símbolo da Juventus FC.
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