A vacina e as questões do coração
Edição por António Moura dos Santos
A decisão de vacinar as crianças entre os 5 e os 11 anos contra a covid-19, recordemos, foi um processo sinuoso, com várias posições públicas contra esta medida. Por fim, a Direção-Geral da Saúde acabou levar adiante o processo de vacinação, ao concluir que eram mais os prós do que os contras.
Hoje, o seu Programa Nacional para as Doenças Cérebro-Cardiovasculares revelou mais alguns dados que apoiam essa decisão.
Tendo por base diversos artigos científicos publicados em revistas médicas e os documentos normativos das entidades sanitárias nacionais e internacionais — o que inclui os resultados da vacinação em mais de oito milhões de crianças entre os 5 e os 11 anos de idade — o parecer emitido adianta que é 60 vezes mais provável uma criança ter miocardite por infeção ao não ter sido vacinada do que ao sê-lo.
O documento concede que as causas da miocardite (inflamação do músculo cardíaco) em contexto de Covid-19 são ainda desconhecidas e que se supõe que "ocorre quando o sistema imune do próprio doente, em resposta à infeção, agride o coração, o que ainda não está provado".
No entanto, ao contrário de algumas informações que têm vindo a circular nos últimos meses, a vacinação não parece provocar essa mesma inflamação cardíaca. Foram reportados apenas 11 casos de miocardite em 8.700.000 de vacinas administradas entre os 5 e os 11 anos, e que “todas foram ligeiras e transitórias”.
Além disso, estudos recentes apontam que em adolescentes vacinados a possibilidade de ter síndrome inflamatória multissistémica (MIS-C) após infeção baixa em 91%.
A DGS sublinha ainda que as alterações cardíacas em crianças infetadas “não são desprezíveis e são mais complexas e graves do que as descritas após a vacina” e lembra que a miocardite em idade pediátrica após a vacinação “é muito rara, apresenta-se com sintomas ligeiros, evolução rápida e não aparenta ter complicações ou sequelas a longo prazo”.
Porém, apesar destes novos dados, hoje foi dirigida às autoridades de saúde uma carta aberta assinada por 27 subscritores, que pede a “suspensão cautelar” da vacinação contra a SARS-CoV-2 em crianças e jovens saudáveis, “até que se comprove a sua necessidade, benefício e segurança”, pedindo uma reavaliação dada a expansão da variante Ómicron.
Jorge Amil, pediatra e presidente do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos, deu a cara pelo grupo, sugerindo que "num pico de infeções com esta dimensão poderá ser prudente reavaliar-se o prosseguir com a vacinação, se para além de eficaz, se será seguro, e não fica nada mal fazer esta reavaliação continuada".
Na carta aberta, os signatários ressalvam que o apelo para suspender a vacinação diz respeito “à situação das crianças saudáveis e não se pretende qualquer extrapolação para adultos ou crianças com comorbilidades que acarretem risco acrescido de Covid-19”.
Questionado sobre as razões deste apelo quando está a terminar a campanha da vacinação das crianças, defendeu que a vacinação em curso não impede a disseminação da doença pela nova variante, exemplificando que nas populações escolares “a difusão tem sido enorme”.
A campanha de vacinação das crianças entre os 5 e os 11 anos arrancou nos dias 18 e 19 de dezembro de 2021, prosseguindo entre os dias 6 e 9 de janeiro. De 5 de fevereiro a 13 de março, podem vacinar-se as crianças que ainda não foram imunizadas e serão administradas as segundas doses.
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