António Costa deixou 'cair' o discurso de apelo à maioria absoluta nos últimos dias e admitiu entendimentos com quase todos os partidos. Questionado pelos jornalistas sobre esta alteração de discurso, Jerónimo de Sousa respondeu que o também primeiro-ministro “caiu um pouco na realidade”.

“Acho que António Costa percebeu que esse objetivo estava um pouco longínquo e, esta é que é a nota de preocupação, teve logo tendência para conversa de promessas e de trocas de apoios que não vão resolver o problema, antes pelo contrário”, sustentou.

“Cabe-nos agora a nós mostrar a inutilidade desse objetivo [a maioria absoluta]”, completou o secretário-geral do PCP, que esteve afastado da campanha para as eleições legislativas enquanto recuperava de uma operação de urgência à carótida interna esquerda, a que foi submetido há duas semanas.

Questionado pelos jornalistas sobre o desempenho dos substitutos durante grande parte da campanha eleitoral, Jerónimo de Sousa disse que “foi uma acertada decisão da direção do partido meter esses dois camaradas, três [Bernardino Soares], a assumirem a tarefa de conduzirem” a 'volta' da CDU.

“Temos um conjunto de quadros que são de uma grande categoria. É uma grande categoria, que se mostrou em plena campanha. Valeu a pena a experiência”, completou.

Ideia de convergência devia "ser aprofundada"

O secretário-geral do PCP defendeu ainda que a convergência depois das eleições “é uma ideia que deveria ser aprofundada”, sustentando que os comunistas “são promotores dessa convergência”, mas só com soluções concretas.

“Esta nossa ideia em relação à convergência é uma ideia que deveria ser aprofundada e criar as condições para a sua concretização”, considerou o dirigente comunista, no final de um desfile da CDU na Baixa da Banheira, concelho da Moita (Setúbal), no âmbito da campanha para as eleições legislativas.

Jerónimo de Sousa referiu que a “convergência não é um bem, nem um mal em sim mesmo”, mas permite encontrar “soluções que a cada um pareçam mais adequadas”.

“Nós somos promotores dessa convergência, mas convergência em torno de coisas concretas, e não em torno de declarações mais ou menos etéreas”, acrescentou.

O membro do Comité Central do PCP sustentou que o partido não vai aceitar “convergência de uma forma torcida”, ou seja, sem as respostas que os comunistas consideram ser necessárias para resolver os problemas do país.

Jerónimo de Sousa foi questionado sobre a necessidade de o Presidente da República fazer uma reflexão das suas responsabilidades se houver novamente uma maioria de esquerda na Assembleia da República.

Nos últimos dias, o dirigente comunista João Oliveira, um dos substitutos temporários do secretário-geral na campanha eleitoral, defendeu que Marcelo Rebelo de Sousa tem de fazer “um balanço” se este cenário se confirmar no dia 30.

Hoje, Jerónimo de Sousa respondeu que o chefe de Estado “está sempre em reflexão, com uma dinâmica de reflexão estonteante por vezes”.

“É preciso fazer, de facto, um esforço para a leitura de resultados e interpretá-los politicamente. Acho que o Presidente da República não ficará de fora”, adicionou.

Jerónimo voltou para a "derradeira fase" da campanha

Ausente durante 14 dias, por causa de uma operação de urgência à carótida interna esquerda a que foi submetido, Jerónimo de Sousa voltou hoje para a“derradeira fase” e reta final da campanha da CDU para as eleições legislativas.

O desfile na Baixa da Banheira, concelho da Moita, foi o local escolhido para o regresso, que foi também o local da primeira arruada do secretário-geral comunista na campanha para as autárquicas de 2021. A comitiva da CDU voltou a descer a Rua 1.º de Maio, mas sem o dirigente comunista, que apenas integrou o cortejo nos instantes finais. .

No momento em que o secretário-geral comunista saiu da carrinha que o transporta habitualmente, a confusão instalou-se, apressando o final do desfile.

“As melhoras, camarada!”, gritou uma senhora que atravessava a rua com um cravo na mão.

A máscara não tapou o sorriso de Jerónimo, que estava de volta às ruas para o que considerou ser a “derradeira fase” da campanha eleitoral. Com a voz trémula e visivelmente emocionado, o líder do PCP começou por agradecer todas as mensagens de apoio e de uma rápida recuperação que recebeu ao longo das últimas duas semanas. O casaco preto que trazia para se agasalhar na manhã fria não escondeu por completo a cicatriz no pescoço, uma marca da cirurgia que o obrigou a interromper o “combate eleitoral”, uma expressão que Jerónimo costuma utilizar para descrever a campanha.

“Os dias não foram fáceis, e não foi tanto da intervenção cirúrgica”, confessou, já que “o mais difícil foi ver uma campanha a correr” e Jerónimo de Sousa estar a assistir à distância.

Enquanto esteve internado no Hospital Egas Moniz, durante os primeiros cinco dias de recuperação, continuou, só com “um esforço” da equipa médica, dos enfermeiros e dos assistentes técnicos foi possível “mitigar essa dificuldade de estar ali, com o mundo a pulsar por aí fora”. “Tive de me conformar e fazer tudo para ficar bem”, sustentou.

[Notícia atualizada às 14:49]