Depois da divisão, o PSD experimenta a união para tentar chegar ao poder
Edição por António Moura dos Santos
Foi apenas há três semanas: depois de um processo quezilento, que ameaçava atirar o PSD para o lodo político e atrasar-se irremediavelmente para as legislativas de 2022, Rui Rio venceu as eleições internas por pouco mais de 1700 votos, derrotando Paulo Rangel.
As consequências da sua vitória — a terceira, recorde-se, fazendo de Rio o mais longo líder social-democrata exclusivamente na oposição — sentiram-se pouco depois. No início do mês, quando começaram a ser formadas as listas do PSD para as legislativas, alguns nomes associados aos adversários internos começaram a ser preteridos em prol de candidatos alinhados com o presidente.
Os seus opositores acusaram-no de proceder a limpezas e de agir contra a unidade do partido, Rio optou por apelidar as alterações de “clarificações”.
Era sob a ameaça de discórdia, portanto, que o 39º Congresso do PSD — que teve início na sexta-feira — se organizava em Santa Maria da Feira. Os sinais que vieram da cidade nortenha, contudo, foram o oposto, com o partido a juntar-se num aparente sentido de unidade e apoio a Rui Rio.
Batizado pelo Presidente do PSD como o "Congresso da Boa Esperança", Rio veio para esta reunião magna social-democrata desejando o mínimo de peripécias possíveis e de vozes críticas e preferindo apontar baterias ao PS e ao Governo de António Costa. E assim foi, quase.
Dos seus mais encarniçados opositores, apenas Miguel Pinto Luz ousou pôr Rio em causa, confessando-se preocupado com o que “vai sobrar do partido” dentro de dois ou três anos, criticando a postura de Rui Rio, que já admitiu viabilizar um Governo socialista caso o PS ganhe as eleições sem maioria absoluta.
De resto, tanto Luís Montenegro como Paulo Rangel tomaram a decisão de dar o seu apoio a Rio: o segundo disse-se comprometido a dar "todo o apoio" ao líder nestas legislativas; já o primeiro não resistiu a servir-se da história passada com Rio, pedindo-lhe que faça a Costa o mesmo que fez com ele e Rangel, ou seja, “ser eficaz e aproveitar as oportunidades para ganhar eleições diretas”.“Tem um partido todo consigo, vá em frente, Portugal precisa de nós, Portugal precisa de si”, afirmou.
A ajudar imensamente Rio esteve também Carlos Moedas, o surpreendente vencedor das autárquicas em Lisboa e cujo sucesso pede que seja capitalizado nas legislativas. “Acho que a vitória [em Lisboa] foi muito importante, deu uma dinâmica muito importante, e, como disse muitas vezes na campanha, acho que de Lisboa vamos ganhar o país. E, portanto, é isso que venho aqui dizer, para estarmos unidos, porque é a hipótese que temos de ganhar o país”, disse o autarca.
É, portanto, sob o signo desta aparente harmonia que Rio se apresenta no último dia de Congresso — já com a sua moção de estratégia global e temáticas aprovadas — para fazer o segundo discurso de fundo, menos concentrado nas dinâmicas internas do partido e mais em áreas como a economia, a saúde, a educação ou o ambiente.
O último dia ficará ainda marcado pelos resultados da eleição dos órgãos nacionais, com onze listas para o Conselho Nacional (mais uma do que no último Congresso, com o ‘picante’ de saber se valerá mais a de Pinto Luz ou a de Montenegro), duas listas para o Conselho de Jurisdição Nacional e duas para a Mesa do Congresso.