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Passaram dez anos desde as últimas Festas do Povo, a última vez que houve uma pausa tão longa foi entre 1972 e 1982. Realizadas apenas quando a vontade popular assim o dita, estas festas têm sido interrompidas por motivos que vão desde a falta de recursos manuais até à política.
No entanto, o espírito coletivo fez-se sentir no passado dia 19 de outubro, em Campo Maior, numa arruada promovida pela Associação das Festas do Povo. O evento, dinamizado por João Manuel Nabeiro, presidente da associação, teve como principal objetivo mobilizar a população e apelar à participação ativa na organização das próximas Festas do Povo, previstas para 8 a 16 de agosto de 2026.
“A alegria do povo consubstancia-se no cúmulo das suas tradições”; afirmou João Manuel Nabeiro ao 24notícias. “Hoje estamos aqui a celebrar aquilo que nos está no coração. As Festas do Povo são feitas por todos. Todas as famílias participam. É a força de cantar, a força de receber e a força de encantar”.
Entre trajes típicos, o repenicar das castanholas e o som das pandeiretas, a arruada fez renascer o espírito comunitário que tem sustentado esta celebração reconhecida como Património Cultura Imaterial da Humanidade pela UNESCO, em 2021.
Duarte Silvério, também membro da associação, sublinhou o equilíbrio entre o respeito pela tradição e a abertura à inovação: “A essência da nossa tradição está lá e será sempre preservada. Mas é natural que surjam novidades, tanto ao nível da programação cultural como da ornamentação das ruas. O que estamos a ver hoje é a força de um povo. Se as pessoas querem Festas do Povo? Claro que querem. Saíram à rua em massa para mostrar que são elas que fazem as festas acontecer.”
João Manuel Nabeiro também fala da inovação aliada à tradição, que pretende materializar através do convite a outras terras que têm festas semelhantes e a ambição da internacionalização. "Pensarmos que há formas diversas de arte de rua, como a arte no papel, e que essa vai estar refletida aqui nas próximas festas", afirmou.
Os "aninhos de festas" de João Manuel Nabeiro remontaram as suas lembranças à mãe, Alice Nabeiro, que foi sempre responsável de uma das ruas. Lembrou os serões em que as pessoas trabalhavam o papel, o arame e a corda. O empresário português, aponta ainda a proximidade, um conceito que pretende manter e ampliar.
A arruada passou pelas principais ruas da vila, convidando as ruas ainda não inscritas a juntarem-se à festa. Durante cerca de três horas, os campomaiorenses – de miúdos a graúdos - não se deixaram vencer pelas ruas apertadas e íngremes nem pelo calor outonal do Alentejo. Com cachenés (Grande lenço de abafo para o pescoço) ao ombro, castanholas em punho e letras de músicas tradicionais na ponta da língua, o cortejo foi uma explosão de memória e entusiasmo.
“Ó belo Campo Maior/ Terra de trabalhadores / De dia vão para o trabalho / À noite fazem flores”, entoavam alguns com a ajuda da banda filarmónica, lembrando os versos que já atravessaram gerações. Os mais velhos aprenderam dos seus pais e avôs e os mais novos seguem agora os mesmos passos.
Luís Rosinha, presidente da Câmara Municipal de Campo Maior, não escondeu a emoção: “É uma enorme felicidade. O que caracteriza as nossas festas é o movimento popular. É o nosso ex-libris, a nossa moldura humana.”
Pelo caminho, ouviam-se testemunhos carregados de nostalgia, mas também de esperança. "É voltar a pôr Campo Maior no mapa", dizia um dos participantes da arruada, que acrescentou "Somos nós acima de tudo, de políticas, juntos para o mesmo objetivo". Muitos recordavam a última edição das festas, outros partilhavam a experiência de “fazer flores” desde pequenos. Havia um sentimento comum de pertença e de urgência em garantir que as festas acontecem, não por obrigação, mas por amor a uma tradição feita por todos.
As Festas do povo remontam ao século XVI e começaram por ser um culto ao santo padroeiro da vila alentejana, S. João Baptista. As também denominadas Festas das Flores só acontecem quando o povo quer, já que todo o trabalho provém do voluntariado e da força de vontade dos campomaiorenses. Todo o processo é feito no sigilo, por cada rua, que só dá a conhecer o seu trabalho na noite da "enramação" (momento em que se decoram as ruas).
A partir de 1989, as festas ganharam uma maior notoriedade tendo em 2011 contado com cerca de um milhão de visitantes.
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