Quatro polícias confrontaram uma mulher esta terça-feira, em Nice, que descansava na areia de burquíni. A sucessão de imagens divulgada nas redes sociais mostra esta mulher a retirar parte do vestuário - uma túnica de manga comprida - sobre o olhar atento das autoridades.
Some cheered French 'morality' police forcing a Muslim woman to take off clothes https://t.co/VnWq4PQaJG #BurkiniBan pic.twitter.com/3Fb1DFZTtf
— Joseph Willits (@josephwillits) 24 de agosto de 2016
Na semana passada, Nice baniu a utilização do burquíni, um género de traje de banho cuja intenção é permitir às mulheres muçulmanas estar na praia sem desrespeitar as regras da sua religião.
Este caso junta-se a um outro, reportado no mesmo dia, de uma mãe de duas crianças que foi multada numa praia perto de Cannes por estar a usar leggings, uma túnica e um véu na praia. “Estava sentada na praia com a minha família, tinha um véu clássico. Não tinha qualquer intenção de ir nadar”, conta a mulher de 34 anos, citada pelo jornal britânico. Uma testemunha, Mathilde Cousin, confirmou o sucedido e lamentou o fato de estarem pessoas a aplaudir a polícia e a instigar esta mulher.
O burquíni foi proibido por decreto municipal em 15 cidades francesas, fazendo estalar a polémica sobre o respeito pelas liberdades individuais vs questões de segurança e secularismo.
Escreve o The Guardian que a proibição será analisada esta quinta-feira por um alto tribunal administrativo francês, após o apelo interposto pela Liga dos Direitos Humanos, uma ONG francesa.
Face à polémica, o Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM) teve uma reunião "urgente" com o ministro do Interior Bernard Cazeneuve. A instituição alerta contra a "estigmatização" e a "antagonização" da sociedade, escreve a AFP.
"Diante da situação difícil e crítica que se vive a França, após os trágicos atentados que afetaram profundamente o país, o CFCM pede sensatez e responsabilidade a todos. Precisamos de atos de apaziguamento e de tolerância", defendeu o presidente do Conselho, Anouar Kbibech.
Nesta quarta, Washington disse não apoiar as proibições adotadas nas cidades francesas, mas pediu os muçulmanos americanos que obedeçam às leis locais. ”Os cidadãos americanos são aconselhados a obedecer às leis locais, independentemente dos países que visitem", disse a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Elizabeth Trudeau, à imprensa.
Contactado pela AFP, o presidente da câmara de Nice confirmou que, pelo menos, 15 mulheres foram multadas desde o início da semana nas praias da cidade, por causa da roupa que vestem.
As imagens do controlo policial em Nice causaram indignação, dentro e fora das redes sociais.
"Querem tirar a sua roupa. Que tirem os uniformes, Polícia da Vergonha!", denunciou o presidente do Coletivo contra a Islamofobia em França (CCIF), Marwan Muhammad.
"Pergunta do dia: quantos policiais armados são necessários para obrigar uma mulher a tirar a sua roupa em público?", tuitou, indignado, o diretor de Comunicação para a Europa da Human Rights Watch (HRW), Andrew Stroehlein.
Hoeveel gewapende agenten zijn er nodig om een vrouw te dwingen zich uit te kleden? https://t.co/wpBCOmFgmo pic.twitter.com/mUaCFPOiRW
— Andrew Stroehlein (@astroehlein) 25 de agosto de 2016
"É um novo fascismo, uma nova França... Horrível", escreveu no Twitter a militante tunisina Amira Yahyaoui.
Here is the new fascism.. This is the New France.. Horrible. https://t.co/SEHUga3wwQ
— Amira Yahyaoui (@Mira404) August 23, 2016
Kenneth Roth, diretor executivo da Human Rights Watch, publicou na mesma rede social uma imagem de freiras a brincar na água e escreveu, em tom irónico, "que afronta ao secularismo. Aposto que estão a doutrinar crianças. Que armas escondem debaixo do hábito? Multem-nas".
Such an affront to secularism! I bet they're indoctrinating kids. What weapons hide under their habits? Fine them! pic.twitter.com/a1Q4M2xGsu
— Kenneth Roth (@KenRoth) 24 de agosto de 2016
Em França, vive a principal comunidade muçulmana da Europa, com cerca de 5 milhões de pessoas, escreve a AFP.
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