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Há mais um data center em Portugal. Esta semana, a AtlasEdge, uma empresa de data centers com operações em 11 países, inaugurou o LIS001, o primeiro edifício de um campus que vai concentrar três estruturas em Carnaxide, Lisboa, e aproveitou a ocasião para anunciar um financiamento verde de 253 milhões de euros. A operação, que conta com o Banco Santander e o ING como coordenadores, vai financiar a construção dos edifícios LIS001 (63 milhões) e LIS002 (190 milhões), que em conjunto vão disponibilizar 21,1 MW de capacidade.
Para Tesh Durvasula, CEO da AtlasEdge, este é um dos financiamentos “mais sofisticados” do setor na Europa. “É diferente porque estamos a falar de uma visão para três edifícios num campus”, explica em entrevista. “Muitos dos financiamentos que se ouvem nesta indústria são para um único inquilino, um edifício, normalmente na América do Norte. Isto é único e é um pouco mais sofisticado. Estamos a conseguir um quarto de mil milhões de dólares para uma cidade como Lisboa.”
A operação junta-se a um movimento mais amplo: a AtlasEdge comprometeu-se a investir mais de 500 milhões de euros em Portugal nos próximos anos.
Um campus com vista para o futuro
A empresa não se ficou pelo anúncio do financiamento. Comprou também um terreno de 10 mil metros quadrados adjacente ao LIS002, onde vai construir o LIS003. Com esta aquisição, a capacidade total do campus sobe para 30 MW, podendo chegar aos 40 MW “dependendo do que conseguirmos da empresa de energia”, admite Tesh Durvasula.
Os três edifícios vão ficar concentrados na mesma zona. “Se se sentar nesta sala [a sala do LIS001 onde decorria a entrevista], vai conseguir ver os três edifícios”, descreve o CEO, apontando para o local onde decorrem os trabalhos.
O LIS002 deve entrar em funcionamento em 2028, enquanto o LIS003 ainda não tem data definida. Tudo depende da procura dos clientes. “Se tudo correr muito bem, se vier falar comigo dentro de cerca de dois anos e meio, teremos compromissos para os três edifícios e estaremos a pensar em expandir para o LIS004 4 e LIS005″, antecipa Tesh Durvasula.
Questionado sobre onde vai ficar o próximo campus, o CEO limita-se a dizer que será “na área de Lisboa” e que a empresa quer “manter-se aqui” por causa da relação com a autarquia de Oeiras.
Preparados para os chips mais avançados
Questionado sobre a capacidade de albergar tecnologia de ponta, como os chips Blackwell da Nvidia (chips avançados para treinar e executar modelos de inteligência artificial), Tesh Durvasula garante que as infraestruturas estão preparadas. “Os nossos clientes decidem que tecnologia querem usar, mas esta instalação pode lidar com essa capacidade e com esse tipo de densidade. Se quiserem fazer aqui investigação ou aplicações com esses chips, podem fazê-lo e esta instalação está preparada para isso.”
Os 500 milhões e a pressão energética
Os 253 milhões de euros anunciados fazem parte de um envelope maior. Tesh Durvasula esclarece que os 500 milhões são “uma estimativa para três data centers” e que os 253 milhões correspondem “à componente de financiamento através de dívida”.
O responsável mencionou também que as negociações com o Município de Oeiras decorreram num contexto particularmente desafiante. “Têm de perceber que estavam sob muita pressão”, contextualiza. “No mesmo período em que estávamos a construir isto [o LIS001], houve um apagão nacional. Estes não são tempos fáceis para as pessoas em Lisboa, em Portugal, no mundo. A energia é uma mercadoria muito preciosa, é muito difícil de gerir neste momento.”
"À medida que os nossos clientes crescem aqui, criam outras oportunidades. Um ecossistema de data centers cria centenas até milhares de empregos"
Durante a fase de construção, o projeto empregou entre 300 e 500 pessoas de 35 a 50 áreas diferentes, desde eletricistas a profissionais da construção civil. Já em fase de operação, o data center dispõe de uma equipa permanente, complementada por profissionais de vendas, administrativos e de finanças que desempenham funções fora das instalações.
Mas Durvasula recusa-se a medir o impacto apenas pelos números diretos. “Um data center por si só não vai criar milhares de empregos. Vai criar dezenas. Estamos a criar empregos para engenheiros de redes, engenheiros de hardware e software que trabalham para os nossos clientes. À medida que os nossos clientes crescem aqui, criam outras oportunidades. Um ecossistema de data centers cria centenas até milhares de empregos. O data center em si é apenas a primeira parte. Mas se o regar, ele cresce. E é isso que estamos aqui para fazer.”
Porquê Lisboa?
A escolha de Lisboa não foi casual. Tesh Durvasula identifica três razões principais. Primeira: o mercado estava “subservido”, com poucos grandes concorrentes presentes. Segunda: a estratégia da AtlasEdge passa por posicionar-se em 16 a 20 cidades europeias que, em conjunto, permitem chegar a 95% da população europeia com latência (o tempo que os dados demoram a viajar entre dois pontos) inferior a 25 milissegundos.
“Todos sabemos quais são as primeiras quatro cidades: Londres, Amesterdão, Paris, Frankfurt. Essas dão acesso a cerca de 60% da população europeia”, explica. “Lisboa, Barcelona, Berlim dão acesso às outras. É aí que vamos. Estamos focados nessas outras 16 cidades, e é por isso que escolhemos Lisboa.”
A terceira razão prende-se com a infraestrutura existente e o talento disponível. Lisboa está a menos de 10 quilómetros das estações de cabos submarinos de Carcavelos, ponto de entrada de várias rotas de fibra ótica que conectam Portugal a outros continentes.
E depois há o ecossistema local. “Além do bom tempo que temos, há incentivos fiscais. Há sete universidades num raio de 50 quilómetros. Temos engenheiros jovens e inteligentes numa cidade jovem e bonita que quer participar na economia digital. É por isso que escolhemos Lisboa.”
Para Tesh Durvasula, o campus de Lisboa é apenas o início. “A inauguração desta segunda-feira e este financiamento verde demonstram o dinamismo que estamos a criar em toda a Península Ibérica — uma região com uma oportunidade significativa de crescimento. Este é um campus sustentável, estrategicamente localizado e um fator transformador para os clientes que operam no mercado português”, remata o CEO.
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