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O divórcio em idades avançadas, a que a BBC chama de grey divorce ou “divórcio cinzento”, está a tornar-se cada vez mais comum em vários países. Nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de 36% dos divórcios envolvem atualmente pessoas com 50 ou mais anos, quando em 1990 eram apenas 8,7%.
Entre os maiores de 65, a taxa de divórcio continua mesmo a aumentar, ao contrário do que acontece com os casais mais jovens, onde as separações têm vindo a diminuir. Esta tendência explica-se por vários fatores: a maior esperança de vida, que dá perspetiva de mais 30 ou 40 anos após os 50 ou 60; a menor disposição para manter casamentos insatisfatórios; e ainda o facto de os jovens se casarem mais tarde e de forma mais seletiva. Trata-se, no entanto, de um fenómeno global. Na Coreia do Sul, tem crescido o chamado hwang-hon divorce (“divórcio do entardecer”), enquanto no Japão os chamados “divórcios maduros” já representam 22% do total.
Durante muito tempo pensou-se que os filhos adultos lidariam melhor com o divórcio dos pais, mas a investigação mostra que este processo pode ter efeitos profundos e duradouros. Muitos relatam choque, tristeza prolongada e até raiva, descrevendo a experiência como se o chão lhes tivesse desaparecido debaixo dos pés. Surge frequentemente a dúvida em relação às memórias familiares – se o casamento dos pais foi “fumo e espelhos” e se alguma vez foram realmente felizes. Alguns filhos adultos chegam a pôr em causa as suas próprias relações amorosas, terminando noivados ou desconfiando da durabilidade dos seus casamentos.
Em filhos mais velhos é comum a sensação de estar preso no meio do conflito. Podem sentir-se obrigados a apoiar o progenitor que consideram ter sido mais lesado, oferecendo apoio emocional, social ou até legal. Em muitos casos, tornam-se confidentes dos pais e perdem fronteiras geracionais, sendo até solicitados para dar conselhos de namoro ou de vida íntima – algo que não aconteceria com filhos menores. As filhas, mais do que os filhos, tendem a assumir um papel de suporte emocional. O divórcio pode ainda afetar relações com irmãos, família alargada e tradições familiares, além de interferir nas próprias relações amorosas dos filhos, que passam a recear pelo futuro dos seus casamentos ou namoros.
Do ponto de vista dos pais, as consequências são diferentes para homens e mulheres. As mulheres sofrem sobretudo uma penalização económica, porque muitas interromperam carreiras para cuidar da família. Os homens enfrentam uma penalização social: como as mulheres eram geralmente as responsáveis por manter os laços familiares e de amizade, muitos maridos acabam por perder redes de apoio e ficam socialmente isolados após o divórcio.
Também é frequente os filhos adultos se aproximarem das mães e se afastarem dos pais, um padrão conhecido como “inclinação matrifocal”. Estudos recentes confirmam esta tendência: em países como a Alemanha, verificou-se que, após o divórcio, o contacto e a proximidade emocional aumentam com as mães, mas diminuem com os pais, que ficam em maior risco de isolamento social. Se o pai voltar a casar, a distância tende a acentuar-se; no caso das mães, o novo casamento não altera significativamente a relação com os filhos. Curiosamente, mesmo afastados, os pais mantêm muitas vezes apoio financeiro regular aos filhos.
Este afastamento pode ser tão forte que alguns filhos reduzem ou cortam o contacto com um dos progenitores para evitar conflitos, o que agrava os efeitos do divórcio na saúde mental dos pais. A nível prático, embora não existam questões de custódia, alguns filhos adultos ainda vivem em casa quando o divórcio acontece, ou dependem financeiramente dos pais. Nos EUA, em 2023, 18% dos adultos entre os 25 e os 34 anos ainda viviam com os progenitores, o que significa que o impacto económico de uma separação tardia pode ser significativo.
Apesar de tudo, nem sempre as consequências são negativas. Em alguns casos, sobretudo quando a infância foi marcada por conflitos constantes, os filhos adultos sentem alívio pela separação dos pais e até apoiam a decisão. Com o tempo, muitas relações inicialmente tensas acabam por se recompor, e existem também estratégias de apoio, como grupos de partilha, que ajudam a reduzir sentimentos de solidão e isolamento.
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