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"Naufrágio após interação com orcas", "veleiro atacado por orcas", estes são apenas alguns dos títulos que têm surgido com frequência nas notícias, acompanhados de vídeos nas redes sociais. Mas será que há realmente mais cetáceos (animais predominantemente marinhos e pertencentes à classe dos mamíferos) a visitar a costa portuguesa ou estamos apenas mais atentos?

Joana Castro, bióloga marinha e diretora do AIMM (Associação para a Investigação do Meio Marinho), esclarece que as orcas, predadores de topo, sempre habitaram as águas portuguesas.

No entanto, o que mudou nos últimos anos foi a visibilidade dessas presenças. "Há uma perceção de que há mais orcas, mas isso está muito ligado ao aumento da atividade turística, ao maior número de embarcações no mar e à velocidade com que a informação circula nas redes sociais", explica a especialista.

Mais encontros, mas nem todos são interações

De acordo com dados do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), as interações com embarcações começaram em julho de 2020. Em 2024, registaram-se 76 encontros na costa portuguesa (56 interações e 21 avistamentos). Em 2025, até à data, há registo de 55 encontros (18 interações e 37 avistamentos).

Desde 2020 foram contabilizados cerca de 1500 encontros com orcas nas costas de Portugal, Espanha, Marrocos e França, dos quais 927 foram interações diretas e 576 simples avistamentos, segundo dados do Grupo de Trabalho da Orca Ibérica (GTOA).

As orcas que cruzam as águas nacionais pertencem,  na sua maioria, ao grupo das orcas ibéricas, revela Joana Castro. Estes animais estão classificados na  Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) como "Criticamente em Perigo". As orcas seguem o atum, a sua principal presa, ao longo de uma rota migratória que contorna a Península Ibérica, atravessa o Estreito de Gibraltar e estende-se até ao norte de França e Marrocos.

"Estas presenças indicam que o nosso sistema marinho tem diversidade de presas e um equilíbrio saudável", sublinha Joana Castro.

A legislação portuguesa obriga as embarcações a manterem uma distância mínima de 30 metros dos cetáceos, evitando manobras ou perturbações junto aos animais.

Ainda assim, algumas orcas têm-se aproximado repetidamente das embarcações, em comportamentos que, apesar de causarem danos, não são considerados ataques. Segundo Joana Castro, são estes animais a socializar.

O que fazer em caso de interação? 

Em caso de aproximação, aplica-se o Protocolo de Segurança, que recomenda mobilizar a embarcação e deixar o leme solto, caso o mar o permita, ou engrenar a ré (acionar o sistema de reversão para que o barco se mova para trás)  e navegar assim durante o tempo considerado necessário, sem mudanças bruscas de direção.

É também aconselhado o contacto imediato com as autoridades pelo canal 16 ou através do numero 11, e o registo de avistamentos. Todos os avistamentos e interações com orcas devem ser atempadamente reportados para o ICNF, para o GTOA ou para a Autoridade Marítima Nacional (AMN) para garantir maior segurança à navegação de recreio, e em particular aos velejadores que se deslocam na costa portuguesa.

Recomendações internacionais e plano de gestão em estudo 

Em fevereiro de 2024, autoridades portuguesas e espanholas, com o apoio da Comissão Baleeira Internacional, organizaram um workshop internacional em Madrid para analisar o comportamento emergente das orcas ibéricas. Participaram biólogos, ecologistas, especialistas em comportamento animal e autoridades marítimas.

Entre as conclusões destacam-se a recomendação da definição de períodos/áreas de maior probabilidade de presença de orcas, com base na informação fornecida pelas autoridades competentes. Desta forma, as embarcações sabem os momentos que devem evitar a presença no mar.

Em caso de encontros com orcas, os marinheiros ou qualquer tripulante devem afastar-se o mais rapidamente possível, até pelo menos dois a três quilómetros da área em que ocorre o encontro. Afastar-se não garante o fim da interação nem evita danos, mas reduz a probabilidade.

Não utilizar medidas de dissuasão que sejam prejudiciais para as orcas, visto que, estas já estão classificadas como "criticamente em perigo".

E, por fim, as medidas de mitigação que produzam ruído/som, caso sejam autorizadas, só devem ser utilizadas quando necessário. A utilização contínua de medidas que produzam ruído pode reduzir a sua eficácia ou eventualmente atrair as orcas, uma vez que estas aprendem a identificar os sons/ruídos produzidos por embarcações e lemes.

"Se não tivéssemos cetáceos nas nossas águas, seria um sinal claro de que há algo errado no nosso sistema marinho", remata Joana Castro.

Casos de arrojamentos 

Recentemente, foi noticiado um arrojamento (circunstâncias em que animais marinhos ficam encalhados na costa, geralmente na praia) de um cachalote na costa portuguesa. A bióloga marinha informa que avistamentos destas espécies são mais raros junto da costa, devido à profundidade da nossa plataforma continental. "Normalmente, quando acontece esse arrojamento é sinal que o animal está em condições debilitadas, ou seja, já mortos ou moribundos", relata a diretora do AIMM.

*Texto editado pela jornalista Ana Maria Pimentel

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