“Fala-se muito que se envia dinheiro… Não. Não há nada disso. (…) Na prática (…) não há equipamentos sociais, não requalificação das ruas, não há higiene urbana. O que se faz, às vezes, é envernizar as paredes, envernizar a pobreza. É só a aparência”, disse aos jornalistas Flávio Almada, um dos porta-vozes do Vida Justa.
Para o representante do movimento, trata-se de uma questão de aumentar as verbas estatais, porque as pessoas exigem “condições de habitação dignas”.
“(…) A questão dos salários [é que] têm de aumentar, a questão da habitação, a questão do custo de vida, a questão da renda, porque aqui no bairro temos sobrelotação e depois o que se faz? (…) É impossível ter uma casa”, realçou, acrescentando que “as condições de vida são terríveis e que (…) tem de haver políticas públicas direcionais”, apelou.
O Vida Justa lançou hoje o mote para a manifestação “Estamos Juntos/Estamos Fortes” que vai decorrer em 21 de outubro, às 15:00, com uma marcha do Rossio à Assembleia da República, porque “ninguém vive do ar”.
“O que importa é vir aqui fazer turismo como os políticos fazem: tirar fotos”, ironizou Flávio Almada, solicitando “coisas concretas (…) em termos de salário, habitação e emprego”.
Sobre a manifestação, o porta-voz do Vida Justa adiantou que o movimento está otimista com a adesão, porque tem sido feito um trabalho com os bairros, no sentido de os chamar à participação na vida política.
“Cada vez mais [pessoas] aderem ao nosso movimento. É um movimento que nasceu dos bairros. É bom que não venhamos a habitar na geografia do medo”, salientou, acrescentando que as coisas só podem mudar se houver participação popular.
Antes de Flávio Almada discursar, dois moradores da Quinta do Lavrado mostraram as condições indignas em que as pessoas vivem naquele bairro da freguesia Penha de França.
Lixo em abundância na rua, portas dos prédios partidas pela força policial devido ao narcotráfico, caixas do correio rebentadas, elevadores parados e insegurança “pintam” um cenário pouco animador e de um presente desolador.
“Isto é surreal. Parece que não somos relevantes”, comentou Carla Alves, da Geração com Futuro – Associação de Moradores, dizendo que “é a polícia [que destrói]” e que “as pessoas não têm nada a ver com isso”, referindo-se ao tráfico de droga.
Também João Raimundo expos o medo dos moradores que, além de verem a infraestrutura destruída, à noite ficam sem luz e têm problemas em adormecer por causa dos odores da estação de tratamento de águas residuais (etar), junto ao bairro.
“Parece que caiu um míssil”, considerou.
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