Embora Johnson tenha sobrevivido à votação realizada na segunda-feira, a liderança ficou enfraquecida e Dublin alertou hoje que Londres pode “endurecer” a posição nas negociações que mantém com Bruxelas sobre o controverso Protocolo do ‘Brexit’ para a Irlanda do Norte a fim de satisfazer com a ala dura dos “tories” (conservadores).
“É por isso que estamos preocupados. Claro, quem quer que seja primeiro-ministro, vamos trabalhar com ele, mas não queremos que a Irlanda faça parte de uma estratégia destinada a manter o controlo do Partido Conservador através de uma postura de endurecimento do Protocolo”, declarou o ministro dos Negócios Estrangeiros irlandês, Simon Coveney, à estação pública RTÉ.
O executivo de Johnson já havia apresentado antes desta moção de censura planos legislativos para anular unilateralmente partes do mecanismo do ‘Brexit’ para a Irlanda do Norte, o que azedou as negociações que mantém com a União Europeia (UE).
Essa questão também impede a formação de um governo regional autónomo em Belfast, já que o pró-britânico Partido Democrata Unionista (DUP) recusa-se a partilhar o poder com os republicanos do Sinn Féin se o diálogo entre Londres e Bruxelas não alterar radicalmente o protocolo.
“A posição do Governo irlandês é muito clara a este respeito. Acreditamos que podemos resolver estas questões”, sublinhou o chefe da diplomacia de Dublin, reiterando que a UE tem mostrado “flexibilidade” e “pragmatismo” para ajustar o funcionamento do protocolo.
Coveney espera que as medidas legislativas contempladas por Londres para agir unilateralmente não sejam o “preço” que Johnson deve pagar para manter o “apoio da maioria dentro do próprio partido”.
Londres, prosseguiu o ministro irlandês, “ameaça publicar esta semana” uma proposta de lei que “violaria o Direito Internacional” e ignoraria as “obrigações adquiridas” no Tratado de Saída (da UE) assinado pelas duas partes.
“Acho que isso seria um grande erro político, porque causaria muito mais problemas do que resolveria”, concluiu Coveney.
Na segunda-feira, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, resistiu a uma moção de censura interna no Partido Conservador ao conseguir 211 votos de apoio, contra 148 votos desfavoráveis.
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