“Não há dúvidas que nós estamos perante um cenário de perseguição política, e olhando para Angola e o nosso sistema jurídico, é fácil de entender que o Procurador-Geral da República recebe ordens diretamente do Presidente, ou seja, ao contrário de alguns países”, afirmou Isabel dos Santos, em entrevista à TVI/CNN.

Isabel dos Santos considera que não existe separação de poderes em Angola e acusa o procurador-geral da República, Pitra Grós, de receber ordens de João Lourenço.

“O procurador, general Pitra Grós, recebe ordens diretamente do general Lourenço, do Presidente João Lourenço”, acusou, acrescentando que o líder angolano está a “usar a lei para fazer guerra, a utilizar as instituições estatais, públicas, a utilizar os próprios tribunais e utilizar a lei para combater um opositor. Um opositor económico e um opositor político”, frisou.

Essa, afirma, é a razão para o que considera ser a “perseguição política” que alega estar a ser alvo, com o objetivo, designadamente, de impedir que “outras vozes entrem na política em Angola”.

“Eu ambiciono um país diferente”, frisou, defendendo que Angola “precisa de um novo futuro político”.

“Acho que nós hoje temos desafios que são outros, que já não são os desafios da independência, já não são os desafios da revolução. Hoje são os desafios da economia, do emprego”, salientou, considerando que os atuais partidos políticos angolanos, seja o do poder ou os da oposição, “não estão a olhar para estas questões.”

“Não há uma visão. Não há um plano para Angola. Hoje não há visão, não há um plano estratégico de como desenvolver, como tornar Angola competitiva”, reiterou.

A sua participação na política angolana está, contudo, condicionada pela “perseguição política” que alega estar a ser alvo pelo atual regime angolano.

“Como eu disse há pouco, ocorre uma perseguição política exatamente para me impedir de um dia poder fazer a diferença em Angola”, reiterou, destacando que em Angola “a lei não é cumprida”.

“Eu vivo num país onde a lei não é cumprida. Vivo numa Angola que não tem um Estado democrático de direito. Vivo numa Angola que viola a Constituição, viola os direitos do cidadão e, portanto, vivo num país em que a lei não é cumprida, portanto, dificilmente num país onde não se cumpre a lei, onde os tribunais não são independentes. Os nossos tribunais não são independentes. Os nossos juízes recebem instruções. Não todos, mas alguns juízes são utilizados pelo sistema para fazer cumprir uma agenda política do poder político”, acusou, sem dar detalhes.

Isabel dos Santos acredita que a situação que descreve vai mudar.

“Eu acredito que vai mudar. E vai mudar. A história diz-nos que todos os regimes que não entenderam que é necessário, que era necessária a mudança e que era necessário atender as aspirações das novas gerações todos fracassam”, referiu.

Nesse sentido, Isabel dos Santos acredita que as gerações mais novas de Angola “vão obrigar a uma mudança do regime.”

“A nova geração que quer uma outra Angola, que quer outras coisas para Angola, que tem outras ambições e que ambicionam ver uma Angola diferente, eles vão fazer a mudança, sem dúvida”, declarou.

Relativamente a Portugal, Isabel dos Santos diz que nenhum governo lhe pediu para investir no país.

“Eu trabalhei sempre com os contactos empresariais”, disse, reiterando que a sua relação com Portugal “foi sempre através de investimentos privados”, com os empresários portugueses.

Questionada sobre a sua ligação à Rússia, Isabel dos Santos destacou a cultura e história deste país e, quando questionada se considera passar a viver na Rússia, Isabel dos Santos respondeu apenas que sente “um carinho especial” por esse país.

“Eu tenho um carinho especial, porque é a terra da minha mãe. Portanto, é um sítio onde tenho família e que respeito muito, com uma cultura fenomenal”, declarou.

Quanto ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia, respondeu que espera que o conflito se resolva.

“A paz é importante para todos”, concluiu.

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