Ryon Edwards é um jovem de 22 anos. Entediado, resolveu na semana passada lançar um evento no Facebook a convidar os potenciais afectados pelo furacão Irma a disparar contra o fenómeno natural quando chegasse à Florida no sábado.
Dos 54 mil interessados no evento "Shoot At Hurricane Irma", 28 mil afirmaram estar presentes, com muitas imagens partilhadas de armas prontas a disparar e outras tantas piadas sobre o assunto.
Edwards explicou à BBC ter ficado surpreendido pela reacção ao evento. "Foi uma total surpresa", disse, que "fugiu um bocado ao meu controlo". De tal forma que surgiram outras páginas no Facebook, como a de usar lança-chamas contra o Irma, embora com muitos menos interessados, ou atirar cubos de gelo para arrefecer o Oceano Atlântico.
A par do interesse mediático pelo assunto e entre os que entenderam o sarcasmo de Edwards ou consideraram ser algo válido, o xerife do condado de Pasco viu-se obrigado a emitir um aviso no Twitter a alertar os cidadãos para não dispararem contra o Irma, tendo de explicar que isso não o faria regredir e podia mesmo ter "perigosos efeitos colaterais".
O xerife usou uma imagem para explicar o impacto de disparar contra o furacão. Em termos simples, qualquer bala que sobe, tem de descer - e os furacões tendem a elevar o que apanham à superfície da Terra para depois despejar os destroços noutros locais. Mas este fenómeno não ocorre apenas com os furacões.
Em Julho passado, um jovem de 13 anos morreu em Chicago por uma bala caída literalmente do céu. Noah Inman jogava basquetebol na rua com um grupo de outras crianças quando caiu no chão. Foi chamada uma ambulância ao local e, já no hospital, percebeu-se que tinha sido ferido por uma bala. Inman faleceu alguns dias depois.
Estava-se no fim de semana alargado da festa nacional do 4 de Julho, numa cidade onde é "normal" ter armas e disparar nos festejos. O "mayor" local Tom McDermott Jr. considerou a morte um "acaso ridículo", salientando não perceber o que "as pessoas [que disparam para o ar] esperam que aconteça - que a bala desapareça no ar"?
Em 2011, a BBC analisou igualmente este perigo e mostrou como a "actividade fatal" abundava e tinha efeitos nefastos: em Los Angeles, entre 1985 e 1992, 118 pessoas foram tratadas por balas caídas do céu, com 38 mortes confirmadas.
Noutros países, foram registadas três pessoas mortas na passagem de ano para 2011 nas Filipinas, outros três mortos num casamento turco em 2010 e dois falecidos e 13 feridos na Jordânia nesse mesmo ano, três pessoas mortas quando a equipa de futebol do Iraque venceu o Vietname na Asia Cup em 2007 ou 20 mortos no Kuwait quando do fim da Guerra do Golfo em 1991.
Assim, não só a bala disparada para o céu não desaparece como até pode cair no local de onde foi disparada, numa espécie de castigo para o prevaricador - não fosse existir a rotação da Terra.
Num estudo publicado no ano passado, "We shoot a bullet vertically. Where will it land?", Franco Bagnoli, do departamento de física e astronomia da universidade italiana de Florença, apontou como se tinha de considerar a rotação da Terra para responder a essa questão.
A bala disparada para o ar nunca regressa ao local de onde foi disparada mas sempre numa pequena localização para oeste, dependendo das condicionantes atmosféricas como o vento.
Assim, se ouvir disparos para o ar, fuja rapidamente para leste porque tem mais probabilidades de sobreviver. (Excepto se for onde está um furacão, claro).
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