Estas posições constam de um artigo que José Sócrates publica hoje na revista brasileira "Carta Capital", intitulado "Ventos da tragédia", no qual começa por se referir às lições da História, tendo como base uma biografia de Mussolini, " M - o filho do século", de Antonio Scurati, e à recente invasão do Capitólio em Washington por apoiantes do Presidente cessante dos Estados Unidos, Donald Trump.
"Aqui, em Portugal, entrámos também em campanha eleitoral para Presidente da República. E também aqui a vaga de degradação política chegou de forma avassaladora. A entrada na campanha do candidato da extrema direita [André Ventura] mudou tudo", sustenta o antigo líder socialista.
Segundo José Sócrates, "o espetáculo é agora de violência, agressão pessoal e brutalidade, primeiro nas palavras - começa sempre nas palavras".
"A linguagem não poderia ser mais esclarecedora da inspiração brasileira. Bem vistas as coisas, esta direita salazarista nunca deixou de existir em Portugal. Estava apenas adormecida pela história e à espera do momento certo", defende.
Na perspetiva do antigo primeiro-ministro, nesta forma de campanha de André Ventura, "Trump e Bolsonaro deram a senha" ao propagarem a ideia de que "a moderação e o civismo democrático são filhos do politicamente correto e é preciso acabar com ele".
"Eis a primeira impressão geral da campanha - selvajaria, baixeza e apodrecimento. Ventos de desafio sopram por todo o mundo. O século vive agora com o fantasma do anterior. Resta saber quem serão os seus filhos", escreve.
Depois, no post scriptum, do mesmo antigo, José Sócrates refere-se também à atuação da candidata presidencial Ana Gomes, ex-eurodeputada do PS, lamentando que a esquerda portuguesa também não resista a entrar "no jogo populista".
"Uma das candidatas usa igualmente a cartada do combate à corrupção, sem nenhum respeito pela inocência, pela presunção de inocência, pelos direitos individuais garantidos pela Constituição ou, mais simplesmente, pela boa educação e respeito devido aos demais. Toda uma carreira política dedicada à maledicência - maldizer os adversários, os ricos, os poderosos e maldizer também os seus próprios camaradas" no PS, critica o antigo líder socialista.
Para José Sócrates, Ana Gomes segue a linha de "maldizer para agradar aos pasquins e garantir popularidade".
"O próprio Presidente da República [Marcelo Rebelo de Sousa] tem de se defender das maldosas insinuações da candidata. No final, fica-nos a enjoativa impressão de que nada disto tem outro objetivo que não seja disfarçar um enorme vazio político", acrescenta.
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